Luanda - É indispensável que a palavra sensata que aqui vou divulgar venha a ser a palavra de ordem de todas as manifestações que se desenrolarão no futuro. A questão é de primordial importância para a salvaguarda da paz no nosso país. Atentem bem ao que me vem da alma, palavras de tristeza profunda, por ser inevitável fazermos concessões uns aos outros e não haver por parte das autoridades angolanas, sinais de desejar fazer esse percurso doloroso.
Fonte: Club-k.net
Atentem bem a estas palavras. «Face à prova que foi dada da evidente e muito inquietante existência de milícias organizadas para a guerrilha urbana, em defesa dos interesses de um partido e não da Pátria, urge tomar decisões a propósito da melhor resposta a dar a essa provocação bélica.
A primeira, primária, atenção à subtil nuance, é organizar outras milícias que respondam à provocação. Só que isso é um erro.
Erro crasso.
Seria desencadear uma escalada que fatalmente levaria a uma situação em que o acto de matar outrem ocuparia dois lugares extremos na lista da moralidade política, se é que isso existe.
Por um lado uma medalha de ouro ao assassino de um manifestante, por outro, se calhar, a promessa de um pelotão de fuzilamento ao homicídio em legítima defesa cometido contra o contramanifestante armado de barras de ferros, Para, ostensivamente, matar».
Escrevi supra a palavra doloroso porque sei que todos nós temos relações muito estreitas com as nossas convicções e que o mais difícil é cortar, subtrair e ou eliminar uma das suas facetas. Sempre sob o mesmo subjectivo pretexto: trair os seus próprios ideais.
Reconheço que, por minha parte, posso pecar por excesso, como qualquer um dos mortais, mas creio que nunca os meus excessos causaram ferimentos indeléveis, feridas profundas e muito menos miséria, fome, mal-estar e morte.
Sou um homem pacífico e gosto de viver, mas hoje acredito que a minha vida está a correr sérios riscos e que a eminência de um assassinato está cada vez mais próxima. Tudo face às minhas ideias. Acredito em Deus e tenho fé na existência de homens de bem, mas depois de tantas tentativas para alertar as autoridades contra o mau caminho seguido nesta repressão excessiva, neste açambarcamento descomunal de bens, já não me restam dúvidas de que, depois dos acontecimentos de 10 de Março passado, em Benguela, onde fui copiosamente perseguido, pelos Ton Ton Macotes e escapei a dois atentados, o objectivo final da estratégia seguida pelos homens da Segurança de Estado e seus auxiliares, será mesmo convencer o regime a assassinar quem e tudo o que se lhe oponha, cumprindo o projectado pelo Jornal de Angola e José Ribeiro.
Por outro lado, não sei o que ganhará o Presidente da República, José Eduardo dos Santos com mais uma morte, mas mesmo sentindo-a por perto, cada vez mais perto, como uma ameaça, nada me desvia da ideia de que toda esta perseguição, todas as dificuldades criadas, como o não pagamento da dívida pública, a retirada de terrenos de forma abusiva por parte da Presidência da República e da Sonangol, têm por origem a sua mão.
Do mesmo modo que não consigo compreender porquê as cabeças pensantes da Presidência da República não se dão conta de que a política seguida pelo Executivo não leva em consideração os sinais do tempo, não respeita a Constituição e perverte o sentido original da militância política ao incitar os jovens a “afogar as suas frustrações em maratonas e festivais “culturais” com o patrocínio de empresários sem empresas; a dar passos maiores que as pernas do domínio da Educação Nacional, erguendo fachadas ocas de um ensino que leva à falência intelectual as nossas universidades, em que corruptos formam corruptozinhos, em que a gasosa é mais importante que o conhecimento e os diplomas custam uma noitada com o professor”, como escreveu um dos nossos colaboradores, Isto sem esquecer a impotência jurídica dos nossos tribunais, que julgam por encomenda e nunca lhes é permitido defender a lei, a qual é aplicada muitas vezes em detrimento do seu teor e com base em ordens superiores.
Por isso, por me manter firme na defesa das minhas ideias e por me parecer bom para o país denunciar tudo o que vai mal, antevejo uma escalada de violência pela simples razão de que as minhas ideias estão cada vez mais largamente a serem adoptadas pela nova geração, pela juventude Angolana que será a grande Senhora e Dona da Angola do futuro. Enquanto os actuais dirigentes são já, antes de morrerem, o passado. Eles podem matar quem quiserem, nada mudará a história, eles serão expulsos, a bem ou a mal do poder. E não se esqueçam, a minha morte, a de Filomeno Vieira Lopes e de outros poderá corresponder à explosão de um barril de pólvoras numa sociedade que se parece cada vez mais com um paiol das FAA.
