Lisboa  - A meio da semana passada um abanão no xadrez político angolano provocou ondas semelhantes às de uma pedra lançada num charco.


Fonte: Novo Jornal


Se uns dirão que foi mais que uma simples contracultura política nacional, por certo, que outros avançarão que foi a emergência de um novo “factor ‘C’” tão necessário para decadista meio político nacional.


O certo é que Abel Epalanga Chivukuvuku abnegou ao seu partido de origem, a UNITA, onde militou durante cerca de 38 anos, alguns dos quais, como figura carismática, e, de acordo com as suas palavras, foi “com mágoa, mas sobretudo com muita determinação, [que se viu] forçado, conscientemente, a ter de trilhar um novo caminho”.


Provavelmente, um caminho que alguns chamarão de “factor C”.

 

Com a saída da UNITA de Chivukuvuku emergiu na cena política nacional uma nova organização (ou será coligação?) política que poderá ter alguma palavra na cena estadística nacional.

 

Por curiosidade, a nova organização política está, também ela, enquadrada no novo “factor C” e que, segundo o seu criador permitirá “Servir Angola, Servir os Angolanos” e dará aos eleitores nacionais – infelizmente, e ainda, só para os que estão em território nacional, – a oportunidade de “abrirem uma nova página” na cena política angolana.


A nova organização política, cujo acrónimo não deixa de ser interessante, chamar-se-á, pelo menos até ser legalizada no Tribunal Constitucional, de Convergência Ampla de Salvação Nacional (CASA).


Um “factor ‘C’” que vai permitir a Chivukuvulu visar o seu principal e já há muito conhecido objectivo: a presidência da República.

 

O certo é que neste poucos dias já passados desde que Chivukuvuku deu a conhecer a nova força que esta parece já ter ganho o apoio de outras organizações partidárias menores, de antigos e reconhecidos militantes da UNITA e de alguns jovens da organização juvenil do MPLA, que pensam ver na nova CASA o caminho para uma maior harmonização partidária aquela que, só assim se entende o afastamento de Chivukuvuku da UNITA, esta não parece conseguir – e nem tentar – fazê-lo.


Como uma vitamina também o “factor C” pode ser o elo de ligação e rejuvenescimento do meio político nacional.


Paradoxalmente ou não a edição, do passado dia 17 deste mês, do Jornal de Angola, no seu habitual e, por vezes, bem sagaz cartoon, dava-nos uma ideia daquilo que os partidários do MPLA já parecem conjecturar, perante a nova presença de Chivukuvuku, ou seja, temem os efeitos políticos da sua nova formação partidária.


A propalada “fuga” de alguns jovens da JMPLA assim o fazem sentir, querendo com isto, demonstrar que o “factor C” está por aí e veio para abanar.


Vamos ver se, de uma vez, tal como já se sentiu quando adveio a figura do Bloco Democrático e dos seus carismáticos líderes Justino Pinto de Andrade e Filomeno Vieira Lopes, a vida política e partidária e o actual nacional Estadão (roubei este termo ao meu amigo e Mestre, politólogo português José Adelino Maltez, e que também aqui se aplica e bem,) terá o abanão que se deseja.


Ou como evoca o meu amigo e compatriota, o jornalista Orlando Castro, quando recorda, e bem, que Angola merece sempre o melhor; e, nesse aspecto, defende, segundo a sua perspectiva, que Abel Chivukuvuku representa uma autêntica “pedrada no charco”, pelo que está nas mãos dos angolanos analisar bem todas as novas vertentes em perspectiva.


É genuíno que o “factor C” está aí e deve ser levado em conta. É igualmente correcto que não basta haver inoculações preventivas para que tudo melhor.


Uma doença, um mal, uma dificuldade preocupante, curam-se com constantes manutenções de boas profilaxias a favor da erradicação dos infortúnios que apoquentam o enfermo.


A Democracia é um paciente que necessita de boas e constantes doses vitamínicas para se manter activa, justa e brilhante, pelo que todos os “factores” emergentes, desde que apareçam visando o bem comum, são sempre pertinentes.


Para isso, é importante que, até às eleições, muita coisa do que poderá ainda ocorrer, nomeadamente, as forças democráticas – todas verdadeiras forças democráticas – se unem a favor do único bem comum que não o seu ego pessoal: Angola.


Têm alguns meses, poucos, para ponderarem e determinarem qual o melhor “factor” para nos oferecerem e, principalmente, ao País…

*Investigador do CEA-IUL (ISCTE)
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20/Março/2012