Luanda -  Na cultura bantu, especialmente Kikongo, a aliança e os padrinhos não fazem parte do alembamento.


Fonte: Angolense


A aliança é substituída pela bebida Nsamba comummente chamada por maruvo e cola, pano e missanga (Nsanga yo Nlele) e “Muangu’amatoko”, processo durante o qual o noivo entrega bebidas aos pais da noiva, para impedir qualquer cobiça por parte dos jovens. Este processo chama-se “Muangu’amatodo” o que significa em língua portuguesa por “Dispersão dos jovens”, traduzido literalmente.


A partir deste processo, a menina não pode mais ser pretendida.


Este processo acontece no momento da apresentação do noivo aos pais da noiva. É a tia da noiva – irmã, sobrinha ou neta materna (filha da sobrinha) do pai desta (noiva) – que procede à apresentação.


A apresentação do noivo é chamada noutras línguas por Pedido. Ela é a quarta etapa do alembamento.


Antigamente, a apresentação fazia-se acompanhar de uma cabaça de Nsamba – bebida extraída de uma palmeira “viva” que se chama noutras línguas por maruvo.


Hoje, ela (apresentação) é feita com uma grade de cerveja para o pai e uma outra de gasosa para a mãe.

 

Só depois deste processo de “Muangu’amatoko” que os responsáveis do noivo pedem a “factura” do casamento, para se parar para o matrimónio.


Para melhor esclarecimento, um pedido (Vaikila), que se pode chamar ainda por Apresentação é uma das etapas de um alembamento ou casamento tradicional.

 

Nunca se deve confundir um pedido por um alembamento.


Por outro lado, no matrimónio bantu não tem padrinhos/madrinhas. Estes (padrinhos) são substituídos pelos mais velhos ou sábios da comunidade presentes na sua realização. Estas testemunhas são chamadas por “Ntetembwa” (Estrela), como a seguir será explicado.


Aliança e padrinho são dispensáveis no casamento costumeiro bantu (alembamento).

 

O alembamento (Makuela, Longo) é composto de várias etapas, nomeadamente:


1)    – Conquista da moça para noivar

2)    – Carta de pedido

3)    – Escolha de uma tia

4)    – Pedido ou Apresentação

5)    – Alembamento propriamente dito

6)    – Condução da esposa à casa do marido

Não se pode confundir o Pedido com o alembamento propriamente dito.


Para se chegar ao Pedido, procede-se da seguinte maneira:


Se encontrar uma menina que lhe interessa, o menino consulta os seus pais se pode casar com a mesma.

Se os pais concordarem, o menino aborda a menina solicitando-a para se casarem.

Se a menina gostar do menino, ela também consulta os seus pais e a união matrimonial com aquele menino é possível.

Esta etapa é a mais delicada, pois há famílias (clãs) que não se cruzam por diversas razões.


E como as famílias bantu ou os clãs (Kanda no singular, Makanda no plural) são matriarcais, são os chefes dos mesmos (clãs ou famílias) que decidem quando uma menina  recebe um pedido de casamento. Um pai não tem o poder de aceitar ou recusar o casamento da sua filha.


Para mais esclarecimentos, na tradição bantu, em especial Kikongo, a família é matriarcal. A mulher é a base da família. Daí, uma família ou clã (Kanda) é dirigida por um chefe eleito por seus membros.


Este chefe chamado Nkulubundu, Mfumu a Kanda ou Nkazi é a autoridade máxima de um clã (família ou Kanda).


É preciso saber que o pai e filhos pertencem a clãs diferentes.


O chefe de clã chama-se Nkulubundu, Mfumu a Kanda ou Nkazi, são os Nkulubundu que conhecem os clãs que não se casam.


A aceitação ou recusa do casamento de uma menina compete exclusivamente ao Nkulubundu dela e não ao pai.


Um pai não tem poder de aceitar ou recusar o casamento de uma filha.


Quando uma filha recebe uma carta de pedido, o pai manda-a ao chefe da sua família, para dar o seu parecer se concorda ou não com este casamento.


No processo de aceitação ou recusa de um casamento, intervêm igualmente os membros da comunidade que acompanham o crescimento da menina e do menino assim como as suas origens.


Estes membros da comunidade ou melhor os mais-velhos sábios são indispensáveis na realização de um matrimónio bantu. São eles que testemunham a união das famílias dos noivos e são são chamados em Kikongo por “Ntetembwa” (Estrela).

 

“O ntetembwa nkaz’a ngonde” o que significa dizer que a estrela é esposa da lua, pois ambas andam juntas.

 

Nenhum alembamento pode realizar-se na ausência dos “Ntetembwa” ou testemunhas.


São os “ntetembwa” que substituem os padrinhos/madrinhas.

Um matrimónio bantu dispensa o padrinho ou a madrinha que é substituído pelos mais-velhos da comunidade que testemunham a sua realização.

Eis, a seguir, como se procede nas diferentes etapas acima referidas.

Quando um menino atinge a maturidade, constrói a sua casa, consegue caçar, cortar desdéns e cultivar, procura uma parceira entre as meninas da comunidade.

Alguns casamentos são arranjados pelos mais-velhos da comunidade.

Se a união for aceite, o menino envia uma carta de pedido à menina (Nkand’andumba), colocando dinheiro dentro dele. A carta vai em nome do seu clã e é assinada e averbada por um responsável idóneo do menino.

A menina apresenta a carta de pedido aos seus pais e estes mandam a filha apresenta-la ao seu Nkulubundu que a aceita ou rejeita, como acima se refere.

Se a carta for aceite, os pais escolhem uma tia que servirá de medianeira entre os clãs da noiva e do noivo.

Uma tia, recorde-se, é uma irmã, uma sobrinha ou uma neta materna (filha de uma sobrinha) do pai. Tia só está no clã do pai. Porque, uma irmã da mãe é mãe.

Uma parte do dinheiro colocado na carta de pedido fica para a menina e outra vai a tia. O dinheiro que vai a tia chama-se “Si kia Mfumu” ou “Buka”, em língua Kikongo e esta etapa da carta de pedido chama-se Noivar (Zitikila).

Só a partir desta fase que a noiva e o noivo adquirem o estatuto de noivos (Nzitikila), mas sem direito a contactos físicos. Antes do noivado, o menino era considerado com um mero pretendente.

Nunca se poderá usar o termo namoro ou namorados. Namorar é obsceno, porque visa brincar com o sexo.

Vem a etapa de Pedido propriamente dito que se chama também por Apresentação “Vaikila, Zayakana kua Se diamvuatu ou Muanguamatoko” (dispersão de outros pretendentes).

O menino (os pais dele) prepara a bebida, Oito grades de cerveja e Oito de gasosa, que se distribui da seguinte maneira:

- Duas grades (uma de cerveja e outra de gasosa) – Kekumuna (bater a

  Porta)

- Duas grades (uma de cerveja e outra de gasosa) – Nsongu’ese dia mvuatu

- Duas grades (uma de cerveja e outra de gasosa) - Muangu’amatoko

- Duas grades (uma de cerveja e outra de gasosa) – Nlombu’ a factura


A tia sentadaao lado dos pais da menina e no dia combinado, ela (tia) leva o noivo acompanhado dos seus responsáveis familiares e da bebida ao lumbu (quintal, casa) dos pais da menina.


Numa sentada assistida por alguns membros da comunidade, a tia apresenta o noivo ao futuro sogro que se chama “Se diamvuatu” (o pai do casamento que vai vestir o casaco) e vice-versa.


Em algumas regiões dos bakongo, todo o processo do alembamento decorre no lumbu dos pais da noiva. Noutras partes, como no Uige, tudo se resolve em casa do noivo. Dizem que “O vumbu dia toko umbudila vana nzo andi” (o furúnculo é rebentado em casa do noivo, para não ter dificuldade de procurar a agulha).


Depois da apresentação, o noivo pode pedir para levar a noiva a sua casa. Este procedimento é aceite em caso de se ter havido envolvimento sexual antecipado.


Neste contexto, se o pedido for aceite, a noiva não será acompanhada àcasa do noivo pela tia e não leva nada.


No caso contrário, a noiva só vai a casa do marido depois do alembamento, acompanhada pela tia para se verificar a sua virgindade, assim como a virilidade do marido e se este é circuncisado.

 

Como se pode aperceber, um pedido é apenas uma etapa de um casamento costumeiro. Pedido não é alembamento ou casamento como se confunde.


Dizer que uma menina foi pedida não signifca que ela foi alembada.

Na tradição bantu ou Kikongo, um Pedido dá direito ao Nsangu que é um poder limitado de informar os pais da noiva em caso de felicidade ou infelicidade; enquanto com o Alembamento o marido tem amplos poderes chamados “Nsamu ye Matamba” sobre a esposa e os filhos.

Depois do Pedido, o noivo que não adquiriu ainda o estatuto de marido, deve preparar-se para o Alembamento de acordo com a “Factura” que foi dada pela “família” da noiva.

No fim do matrimonio, os pais da esposa entregam um recipiente contendo o Nsamba ‘ bebida extraída de uma palmeira viva – fechado com uma tampa de ramo de palmeira e colas inteiros.

Em seguida, a esposa veste-se de um pano novo, com missanga e tabaco que subdivide em três partes que distribui ao pai, a mãe e ao avo danmca com a sua tia entram no centro.

Esta cerimonia chama-se em kikongo, “vuika o nkento o nsanga yo nlele” (vestir a sua esposa com pano e missanga).