Luanda – Há alguns anos escrevi e publiquei no Jornal Folha 8, os artigos “Até quando mamã África” e “Diamantes de sangue e a conspiração ocidental”. Este último foi inspirado no filme “Blood diamond” enquanto que o primeiro teve como fonte genealógica o livro, “Para quando África” do mestre de peso mundial, o burkinabe Joseph Kizerbo.


Fonte: Club-k.net

Narrativas que foram melhoradas no meu segundo livro publicado em 2010 com o título “... Quando a guerra é necessária e urgente”. No essencial os dois textos faziam uma leitura dos aspectos negativos prevalecentes em África no plano político, económico, social, cultural e religioso, mas identificaram algumas raízes por detrás destas mazelas.


Agora o propósito não é identificar as feridas africanas, mas sim, os sinais encorajadores que talvez nos possam levar a outros rumos adequados e que correspondem com a nobreza do homem africano e do homem todo.  Estes sintomas agradáveis podem ser identificados um pouco por todas as dimensões que compõem a sociedade africana.


Olhemos para a menos analisada e não vista como fonte de riqueza: o sector desportivo. Quando a África do Sul venceu a corrida para a organização do Mundial de futebol de 2010, dispoletaram as análises e comentários racista da imprensa maquiavélica ocidental, segundo os quais este país à sul de África não teria capacidade  para organizar um campeonato do mundo de futebol.


No fundo de tudo isto estava um sentimento típico da mulher e do homem branco: “eles são negros por isso, não têm competências nem capacidades para tamanha e gigantesca missão”. A mulher e o homem branco ficaram frustrados e começaram a duvidar da sua irracional antropologia e biologia racista, porque o mundial foi um sucesso. Melhor do que muitos organizados por eles.


Quando perceberam que no sector do futebol que era o de interesse midiático não estava a acontecer desgraças que desejavam começaram a se deslocar para outros países africanos para mostrar disfunções políticas, económicas e sociais como se fosse a África do Sul, branqueando com uma categoria errática que construíram graças a esquizofrenia racista: categoria ÁFRICA. Trataram outros países como se a África fosse um bairro. Uma unidade. Um mundo uniforme. Que ignorância brutal! Ignorância geopolítica e outras!


Se o mundial fosse organizado num país branco, certamente eles se limitariam ao que tem interesse (critérios de noticiabilidade): naquele momento eram os jogos e todos elementos que concorrem para a sua organização positiva: estádios, rede de saúde,  transportes, infra-estruturas de água e a energia funcional, rede hoteleira.


Tudo isto era de ponta e deixou aqueles que se acham os eleitos em estado de choque. Entraram em delírio e começam a viajar para Zimbábue e outros cantos do continente para continuarem a mentir o seu povo que durantes décadas é alimentado com a mentira de uma África parcial. É preciso dizer que há fome, há ditaduras, há guerras e outros males em África, mas há outras coisas extraordinárias.


Voltemos às conseqüências de um mundial bem organizado. Mostrou que a África do Sul pode contribuir para a organização das infra-estruturas desportivas do continente para que se possa lançar o desporto à escala panafricana, o que se traduzirá na ocupação dos jovens  e verão outras formas de realização pessoal; Serão despistados da delinqüência. Isto à longo prazo pode trazer um mercado desportivo rentável e criador de riqueza para o continente.


Outro efeito positivo é sem dúvidas a sensação psicológica de competência dos sul africanos que se estende talvez para uma escala continental. No campo económico assiste-se uma vontade para a união das organizações regionais para que haja mais trocas inter-africanas. Isto já acontece em escala média por meio das chamadas zonas de comércio livre.


Ainda no campo económico, entre as economias que mais crescem no mundo, cinco estão em África: Mauritânia, Malawi, Sudão, Angola e Moçambique. Na última década, a média de crescimento económico de 70% dos países do continente foi superior a 4%, segundo o relatório do painel do Progresso de África, do qual faz parte Koff Annan.


Resta saber se isto acontece porque efectivamente existem condições endógenas que concorrem para isto ou é um deslocamento do investimento do ocidente e dos tigres asiáticos para África, fruto da crise económica e financeira global, o que significaria forças exógenas fora do control africano para este crescimento económico, se assim for, não é bom, porque tão logo os problemas da crise do neoliberalismo selvagem seja ultrapassada, voltaríamos certamente a um quadro negativo. Importa recordar que o crescimento económico não significa desenvolvimento, mas é uma condição importante quando aproveitada para distribuição da renda.


Informações prestadas pelo conselho económico e social da União Africana dão conta da existência de um projecto de dimensão continental de estradas e  linhas-férreas para metrô que possam rasgar o continente de Norte à Sul e do Este à Oeste. Isto é só projecto. Esperamos que não fique mesmo por isso. Uma questão importante a ser colocada é: Se alguns países membros da União não pagam cota, entre eles a RDC, onde sairá financiamento para ambicioso projecto africano?


Sem qualquer pretensão de futurologia, mas assumimos aqui uma posição de prognóstico baseado na sociologia, parece que a África jogará um papel importante na geopolítica global, fruto da sua ascensão económica, contribuindo para maiores equilíbrios no diálogo global: no FMI, no BIRD, na ONU e no G20. 


Na última cimeira do G20 a África do Sul aumentou a sua cota financeira no FMI, a troca de mais poder de influenciar. A tendência leva-nos para uma África do Sul mais forte como uma potência regional africana na zona subsaariana e caso a Nigéria alcance a estabilidade política-militar certamente será a maior potência regional na África Ocidental se pormos em conta a sua larga demografia (a maior de África), sua nata intelectiual, capacidade militar e efervescência democrática.


Ainda no continente teremos potências de médio ou micro alcance porque dominarão determinados aspectos mais  ou menos ao estilo dos nórdicos. Países como o Botswana, as Ilhas Mauricias, o Gana e Cabo-Verde, a Namíbia, a Zâmbia e o Senegal poderão ser exemplos na construção de um Estado de bem estar onde os direitos dos cidadãos é o mais importante e haverá um controle  e limite efectivo do poder do Estado.


Isto lhes poderá conferir autoridade moral no plano político continental para promover um diálogo inter-africano mais equilibrado fora dos padrões meramente militar e pujança económica. É importante lembrar que Ilhas Maurícias e Cabo-Verde já são democracias plenas e com níveis médios de desenvolvimento humano, ao passo que Botswna é uma democracia imperfeita mas francamente positiva tal como a Namíbia, a Zâmbia e o Senegal.