Cabinda - Há sensivelmente duas semanas circularam rumores em Cabinda sobre uma iminente exoneração do actual governador de Cabinda, Mawete João Baptista. Com a publicação da lista definitiva dos futuros deputados do MPLA, onde Matilde da Lomba foi catapultada como cabeça de lista pelo círculo provincial de Cabinda e Mawete João Baptista aparece a ocupar o longínquo 61º lugar do círculo nacional, os rumores tomaram maior consistência e para muitos estava consumado o afastamento do actual chefe do executivo provincial pelo que, mais dia, menos dia, sairia o respectivo decreto presidencial. Matilde da Lomba, membro do bureau político do MPLA, seria então a figura política escolhida pelo MPLA para governar até ao período das eleições.


Fonte: Club-k.net

Entretanto, Mawete João Baptista regressou da reunião do Comité Central com um frémito político ímpar. Arregaçou as mangas e lançou-se ao trabalho de caça ao voto com actividades de massa no bairro Chiweca. Na oportunidade, o segundo secretário provincial do MPLA em Cabinda, Mangovo Tomé, apresentou a Matilde da Lomba como cabeça da lista pelo MPLA em Cabinda.

 

zA grande promessa eleitoral foi a asfaltagem da rua do Chiweca ao Povo Grande e da rua que zombeteiramente o povo passou a chamar de "Mawete", por não passar duma picada poeirenta e cheia de ravinas. Por outro lado, convocou o conselho da província e no final do certame fez o seu show off ao distribuir trinta e seis viaturas para os regedores de Cabinda, "o cumprimento duma promessa do camarada presidente em 2007", dizia Mawete. Como se não bastasse, exarou despachos de exoneração e nomeação de alguns membros do seu executivo.

 

O caso curioso foi o do Engenheiro José Buiti, então secretário provincial das obras públicas, que terá cometido a imprudência de "saudar" em público o suposto afastamento do governador. As coisas chegaram aos ouvidos atentos do senhor general que mais não fez que apear aquele quadro do poder e susbtitui-lo pelo Eng. Juliano Capita. Alias, consta que o governador já antes mal suportava aquele antigo membro do executivo provincial, formado na URSS.


Neste contexto, o ambiente político interno nas hostes dos camaradas começou a fervilhar nos últimos dias com dois pólos antagónicos: O Mawete, por um lado, cioso em preservar o seu posto até a última gota de suor (auguramos que não seja de sangue!) e a ambiciosa e matreira Matilde da Lomba, actual vice-governadora para área social e política, que vê chegada a hora de realizar o seu sonho de ser governadora de Cabinda.

 

Esta tem o apoio do segundo secretário, Mangovo Tomé, e algum apoio dos seus camaradas, enquanto aquele não goza de popularidade nem junto do partido nem junto do executivo e muito menos junto da população. Ora, na ausência de um decreto presidencial criou-se uma confusão institucional no seio da população: afinal o Mawete continua ou sai? Pode continuar, mesmo não sendo cabeça de lista? Não é o cabeça de lista que deve liderar toda a campanha eleitoral pelo partido na província?


Diante deste imbróglio, o Presidente do MPLA , José Eduardo dos Santos, mandatou para Cabinda uma alta delegação do seu partido onde figuram pesos-pesados como Roberto de Almeida, vice-presidente, Dino Matross, secretário-geral, Joana Lina, do bureau politico, etc. A comitiva escalou Cabinda na sexta-feira última, dia 22 de Junho e não perdeu tempo, tendo-se desdobrado em contactos de auscultação nos quatro municípios. Foram auscultadas várias franjas da população sobre a governação do Mawete João Baptista e sobre o cumprimento das promessas eleitorais de 2008.

 

Destacam-se o Bispo de Cabinda, D. Filomeno V. Dias, Pastores, Regedores, empresários, militantes do MPLA, delegação do MININT, SINSE, etc. Ficaram de fora o próprio governador Mawete, a vice-governadora Matilde da Lomba e o segundo secretário provincial. Com este procedimento, a comitiva quis evitar a inibição dos interlocutores, proporcionando-lhes maior liberdade em expor as suas ideias. Durante três dias, a delegação fez um levantamento sobre a popularidade do governador e sua governação.


Entretanto, há quem atesta que o visado já havia aliciado financeiramente algumas individualidades para prestarem depoimentos a seu favor. Outros fizeram-no por gozarem de privilégios durante o seu consulado e partilharem dos mesmos negócios. Estes defenderam a manutenção do governador pelas seguintes supostas conquistas: ter acabado com a FLEC e pacificado totalmente o maiombe; ter aberto estradas impedidas há 36 anos no alto maiombe; ter proporcionado as populações do maiombe melhorias sociais; ter imposto rigor na gestão do erário público, etc, etc. Mas para a maior parte dos interlocutores escrutinados, Mawete deve partir.

 

Pesam contra ele a prepotência, deselegância e seu estilo autocrático de governação; o fraco desempenho do seu consulado que nos últimos três anos estagnou a província; tudo o que vai sendo inaugurado aqui e acolá é obra do seu predecessor, Aníbal Rocha; fala muito de rigor na gestão do dinheiro do estado, mas é um corrupto fino que trouxe para Cabinda empresas suas como a FRINORTE e LIMPACAB; encheu o seu gabinete de familiares e oriundos da província do Uige que hoje ocupam nada mais nada menos que quinze residências do projecto de casas sociais do Buco-Ngoio em detrimento dos funcionários públicos autóctones; ter arrendado casas sociais da aldeia olímpica a empresas petrolíferas estrangeiras sob a gestão privada da sua empresa FRINORTE. Estas e outras coisas mais colocam o actual governador em maus lençóis diante dos mandatários.

 

Espera-se que com este trabalho desenvolvido em Cabinda, a comitiva produza um relatório a ser submetido ao Presidente José Eduardo dos Santos para decidir o futuro do general Mawete João Baptista. Aliás, esta auscultação afecta frontalmente a autoridade do governador (se é que ainda vai continuar a sê-lo por mais tempo) deixando-o desacreditado diante dos seus súbditos. Trata-se de uma situação eticamente desabonatória, pois é bem preferível um decreto de exoneração sem auscultações do que passar por um processo desta natureza que mais parece a preparação duma chacota. A ver vamos. A população espera ansiosamente o esclarecimento desta confusão no seio dos camaradas.