Luanda - Em democracia, as eleições são um dos momentos nobres e a altura certa para as forças políticas fazerem e mostrarem as propostas que têm para cativar o voto dos eleitores. Em política, os períodos eleitorais são, por definição, o espaço em que muitas vezes as propostas se transformam em promessas eleitorais que, também por definição, depois, por este ou por aquele motivo, não são cumpridas.

Fonte: Club-k.net

Esta introdução serve para frisar que não são as propostas, os programas eleitorais e de governo o motivo desta reflexão. O motivo desta reflexão são as promessas eleitorais, mais concretamente as da UNITA e da CASA-CE.

E, já agora, explico porquê. É que, existindo umas eleições num contexto em que há um partido que governa há mais de 30 anos e que visivelmente tem uma implantação grande no país, as propostas e especialmente as promessas eleitorais têm uma redobrada importância quando o objectivo é ganhar eleições.

Ora, UNITA e CASA-CE partem para estas eleições com ambição de vitória, tendo pela frente um adversário (MPLA) poderoso sob todos os pontos de vista. Precisam pois de uma dose de credibilidade suplementar, para que os eleitores acreditem nas propostas e nas promessas e depois, votem.

Vamos arrumar da discussão o MPLA e respectivas promessas, já que, sendo poder, como dizem no futebol, são os outros que “têm que correr atrás do prejuízo”. Se repararem, o programa de governo do MPLA apresenta muitos objectivos, muitas tarefas que pretende atingir, mas não quantifica, não faz promessas assentes em números.

Optou por um mais abrangente “crescer mais e distribuir melhor”. Foi, é uma opção, uma estratégia prudente. A CASA-CE alinha pelo mesmo registo, com mais ou menos derivas. Chivukuvuku tem sido prudente nas promessas, optando por um discurso mais crítico do que assente em promessas, mais programático, colocando em causa algumas estruturas do país, mas evitando sucumbir à tentação de prometer tudo a todos.

Foi, é também uma opção e uma estratégia prudente e de credibilização quem sabe a pensar num horizonte para lá de 31 de Agosto. Resta, dos grandes partidos, a UNITA. E aqui a opção e a estratégia assenta em dois pilares: críticas ferozes ao Presidente, ao Governo, a várias estruturas do Estado, o que, apesar de alguns exageros, não deixa de ser normal num processo eleitoral. O problema está do lado das promessas.

Desde 2008, Angola acompanha a crise internacional no que ao crescimento económico diz respeito, sendo que este ano deve voltar às boas taxas de crescimento (perto dos 9%), o dobro de 2011. Podíamos então pensar que, com este nível de crescimento, seria possível ter uma política expansionista para além das obras públicas, grandes e pequenas. É possível.

Podemos pensar que se deve prometer à população tudo fazer para melhorar as condições de vida, o acesso à água, à saúde, à escola. É possível e até desejável. Mas Samakuva, para além destas promessas, parece querer aproveitar o “balanço” dos Jogos Olímpicos para implementar no discurso o estilo Usain Bolt, que todos ultrapassa em grande velocidade.

O presidente da UNITA promete tudo a todos e ainda acrescenta: um salário mínimo de 50.000 kwanzas para todos, emprego na função pública para desempregados mesmo que tenham mais de 35 anos, subsídio para quem estiver doente, subsídio para desempregados via segurança social. Meus amigos, mesmo que Angola estivesse a crescer 23% (como estava em 2007), a concretização destas promessas apenas em metade, levaria imediatamente o país à falência.

Este é o estilo Usain Bolt aplicado às promessas eleitorais. Não é assim que Samakuva lá chega. Quando se promete tudo a todos os eleitores desconfiam, acham que a esmola é grande, acham que estão a ser enganados, acham que não é credível. Não é por causa da CNE, de problemas burocráticos, da falta disto ou daquilo, que a UNITA vai perder. Vai perder porque não é, porque não tem uma postura e um discurso de credibilidade.


Até Abel Chivukuvuku percebeu isso em tempo útil.