Luanda - As eleições gerais de 31 de agosto em Angola são uma oportunidade para a mudança, mas os cidadãos têm "medo de tudo", considerou em entrevista à Lusa o presidente do Partido de Renovação Social (PRS), terceira maior força política no país.


Fonte: Lusa

"Até agora o medo prevalece em Angola. Muito medo. O cidadão ainda está com medo de morrer. Está com medo de perder o emprego. Está com medo de passar fome. Está com medo de perder o transporte. Está com medo de tudo", sintetizou Eduardo Kuangana.


Membro fundador do PRS, criado a 18 de novembro de 1990, Eduardo Kuangana, 53 anos, acredita que as terceiras eleições em Angola podem contribuir para a mudança e aponta como primeira solução a institucionalização do sistema federal, com as 18 províncias a representarem cada uma 18 estados federados.


"A solução pelo federalismo face ao modelo unitário que nós temos do país. Um modelo centralizado, nas mãos de meia dúzia de pessoas. De uma única pessoa que assume quase todos os poderes da pirâmide nacional", sustentou.


As vantagens, defende, têm a ver com a garantia de eleição direta desde o Presidente da República até ao administrador comunal (aldeias).


"Ninguém deve ser nomeado por ninguém e teríamos um sistema semipresidencialista", justificou.


Quanto às riquezas geradas pelos recursos naturais de cada área - comuna, município ou província -, o PRS defende que metade deve ficar na origem para financiar programas locais de assistência social e desenvolvimento económico.

A metade restante entraria nos cofres públicos centrais.

Às críticas dirigidas ao PRS, de tentar dividir o país com base no federalismo, abrindo as portas ao separatismo, são rejeitadas por Eduardo Kuangana, dizendo que são feitas por "políticos fracos, políticos que não tem projetos e que se aproveitam dos projetos dos outros".


"Queremos um país uno e indivisível", acentua.


A Angola que o PRS deseja é um país em que o "partido da situação", designação para identificar o MPLA, no poder desde a independência em 1975, "não obrigue as pessoas a aderir ou na base da corrupção ou na base das ameaças".


"As pessoas que estão a trabalhar no Estado são pertença, entre aspas, do partido no poder", acusa.


Definindo ideologicamente o PRS como de centro-esquerda, Eduardo Kuangana considera que o facto do partido se manter como terceira força política em Angola resulta de "dizer a verdade e apostar na mudança".


"Quando sabemos que uma coisa está errada nós falamos a verdade. Quando estamos errados pedimos desculpa. Temos que ser humildes perante a sociedade para caminharmos até onde queremos e agora estamos a trabalhar para a vitória. Não estamos a participar nas eleições, vamos competir para ganhar", assegurou.


Todavia, Eduardo Kuangana reconhece que as condições não são as ideais.


"O maior problema é na contagem eletrónica (dos votos). Nas eleições passadas (2008) não é aquilo que se viu. Sinceramente...", afirma, referindo-se ao alcance da vitória eleitoral MPLA, que totalizou 81,64 por cento dos votos, enquanto a UNITA, em segundo ficou-se pelos 10,39 por cento e o PRS pelos 3,17 por cento, elegendo oito deputados.


"O maior problema que Angola vive é o problema da pobreza e miséria, então quem tem tudo vai comprar as consciências e também alguns partidos da oposição", acusa.


Resignado à falta de apoios internacionais para alterar a situação angolana, o PRS critica a comunidade internacional de se interessar somente quando "há barulho".


Natural de Saurimo, capital provincial da Lunda Sul, Eduardo Kuangana licenciou-se em História no Instituto Superior de Ciências de Educação da Universidade Agostinho Neto, a mesma instituição de ensino onde tirou um mestrado em História de África.