Lisboa - Membros da comunidade angolana em Portugal esperam que as eleições gerais de 31 de agosto sejam um importante passo para a maturidade da democracia de Angola e apontam como «falha grave» a impossibilidade de a diáspora votar.

Fonte: Tvi24

O presidente da associação cultural Welwitshia, sediada na capital portuguesa, considera que as segundas eleições após o fim da guerra civil (em 2002 com a morte de Jonas Savimbi, líder da UNITA) serão mais um passo na consolidação da democracia naquele país.

«A democracia não se constrói num dia, nem por decreto. Tem de ser construída a par e passo. Com o fim da guerra foram dados muitos passos. Infelizmente, andámos distraídos durante algum tempo aos tiros uns aos outros e os jovens foram os mais sacrificados», disse à Lusa o responsável da associação, o médico David Natal, 61 anos, que há 35 trocou o Cuíto por Lisboa.

O presidente da associação cultural acredita que a candidatura de nove partidos (alguns deles coligados) às eleições gerais de Angola demonstra a evolução que a própria democracia tem tido. Agora, entende, falta consolidar o papel das instituições (em áreas como a saúde, a educação ou a justiça) para aproximar os cidadãos ao Estado.

Para David Natal, a democracia em Angola tem sido feita de «pequenas vitórias», onde o «voto livre é o maior ganho», mas a impossibilidade de a diáspora votar nestas eleições constitui ainda «uma falha grave», que afasta os cidadãos angolanos a residir no estrangeiro de participar na vida política do seu país.

«Não há desculpas, na medida em que houve quatro anos para preparar as eleições. Estamos há mais de dez anos em paz e grande parte dos angolanos está registado nos países de acolhimento», considerou.

Aos 37 anos, Carla Marques habituou-se desde muito nova às constantes viagens entre os continentes europeu e africano. Mora em Sintra, trabalha numa das forças de segurança portuguesas e vai regularmente a Angola, um país «renovado».

A angolana considera que «o futuro» está no seu país, mas lamenta a impossibilidade de votar e contribuir para o que considera ser mais um passo para a estabilização de Angola.

Radicada em Portugal há mais de trinta anos, a psiquiatra Eduarda Ferronha não esquece o país onde nasceu e também lamenta não ser ainda possível assumir um dos mais importantes direitos universais, o voto.

«A mágoa que tenho é não poder votar nas eleições de Angola. Devíamos votar todos, mas a máquina ainda não está preparada a esse ponto. A democracia tem dado passos pequenos, e pouco a pouco, vai-se conquistando esse espaço democrático em Angola», considerou Eduarda Ferronha, membro da associação LIÁFRICA.

De acordo com um relatório de imigração de 2011 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a comunidade angolana a residir em Portugal representa 4,9 por cento do total de estrangeiros no país, cerca de 21.500 de angolanos. Este número representa um decréscimo de cerca de oito por cento face a 2010 (23.494).

Com a crise em Portugal, mais acentuada no setor da construção, muitos angolanos têm regressado ao seu país. De acordo com os responsáveis das duas associações entrevistados pela agência Lusa, por cá têm permanecido os quadros médios e superiores, mais escolarizados.

«É preciso que os quadros regressem. Angola tem riqueza mas precisa de riqueza humana, bem preparada. É assim mesmo que se vai mudando um país e Portugal tem tido um papel importante na formação de quadros angolanos», defende Eduarda Ferronha.

Os dois dirigentes associativos preveem a vitória nas eleições do MPLA, seguido pela UNITA, mas acreditam que a noção do «partido-Estado» em Angola se irá dissipar à medida que a educação abranja cada vez mais jovens angolanos, fazendo de Angola um país com futuro.