Luanda - Confesso que não resisti aos encantos da rede social facebook...lembro-me bem de ter sido no início de 2011.


Fonte: O pais

Lembro-me que o primeiro brilho dos olhos do facebook foi mostrado por algumas almas virtuais que habitam a diáspora real, muitos fugidos da Angola real, que o era em 1975, em 1992 e o é agora também.

A relação amor e ódio entre a Angola real e a Angola sonhada que aqueles nossos compatriotas na altura viviam e alguns até hoje ainda  vivem, foi o clic para que eu sucumbisse aos encantos da rede social que hoje faz de mudus vivendi de meninos, garotos, jovens, homens, mulheres e até idosos. Incrível...

E foi neste bairro ao qual eu chamo facebook que cruzei-me algumas vezes com as palavras de um jovem, Casimiro de seu nome, mas que adoptou a alcunha de “Carbono”.

Sendo um elemento químico, o Carbono serve como componente de hidrocarbonetos, especialmente os combustíveis como petróleo e gás natural; do primeiro se obtém por destilação, nas refinarias, gasolinas, querosene e óleos e, ainda, é usado como matéria-prima para a obtenção de plásticos, enquanto que o segundo é usado como fonte de energia por ter  combustão mais limpa.

Um olhar atento ao carbono sugere logo fogo...combustão e até mesmo violência...fiquei curioso.

Vai daí, hoje também nas vestes de homem de rádio e para a rádio, pude conversar com o hoje meu amigo, o jovem Casimiro.

Cerca de uma hora e vinte minutos, mais coisa menos coisa, de uma manhã de terça feira na semana passada, aos microfones da Rádio Mais, na frequência modulada 99.1.

Exercemos cidadania, eu e o Casimiro...falámos, ou tentamos falar, sobre cidadania, sobre a Constituição da República de Angola, sobre a moral, sobre a ética...sobre convívio em urbanidade, e com urbanidade! Pude ver dois rapazes...perto dos trinta anos...o Carbono no estúdio comigo e o Casimiro, fora do estúdio também comigo.

São diferentes...usam o mesmo corpo, trajam-se da mesma maneira mas circulam em sentidos opostos da vida.

Terão certamente momentos “n” em que se cruzam, mas fiquei com a impressão forte de que são distintos.

Vi e conversei com duas pessoas e foi uma experiência super interessante.

O Carbono lê e conhece a CRA (Constituição da República de Angola), declara que a respeita e cumpre...

mas apenas alguns aspectos...entende o Carbono que quando não se está de acordo com o que a Lei Mãe de um Estado, de uma Nação, de um País, estatui, não deve, ele Carbono, cumprir. Não se cumpre e pronto! Assim mesmo, estilo não gosto não como, como fazem os putos lá em casa.

Já  o Casimiro, diz-se consciente...

sabe que o não respeito à CRA ou a violação do que esta estatui conforma comportamento negativo e passível de responsabilização disciplinar, cível ou criminal, dependendo do caso...

Mas o Carbono não...o Carbono e desempenhando o seu papel de elemento químico, entra em combustão e queima tudo que uma CRA possa trazer e que na visão dele seja contrária aos interesses do povo...

concebe conceitos e definições novas que nos levam à estupefacção quando o ouvimos dizer que entre amigos é normal que se chamem pelo curioso termo “C***********”  cujo nome oficial é pénis....entende o elemento químico entranhado no jovem Casimiro que mandar um amigo dar uma volta para o interior da vagina de sua mãe é uma sugestão normal e até recomendável...

Consegue o Carbono dizer que estando cerca de 3 mil pessoas numa manifestação e pelas demonstrações de desagrado à governação actual, chega-se facilmente à conclusão que muito mais de metade da população é contra o que ele designa como “regime”.

Diz-se habitante de um país que vive uma ditadura, mas ele esteve comigo quase duas horas num programa de rádio, em directo, sem censura e permitiu-se até dizer asneiras! A química está presente na vida de todas as sociedades, mas entende o jovem que o elemento químico Carbono seja uma ameaça para o Estado angolano...acabou por deixar-me entender que é um acto intimidatório e de perseguição, um cidadão qualquer estacionar o carro, ou o parar em frente à casa da sua mãe.

Defende ele que carro parado em frente à casa de sua mãe, é sinal de que a bófia o está a perseguir e o  quer carbonizar.

O sonho do Carbono vai mais longe e o permite se auto-intitular especialista em assuntos de segurança de Estado, inteligência e contra-inteligência, pois afirma que faz auto-estudo e por esta via considera que os Serviços de Segurança de Angola são fracos e quem os desempenha é boelo...

A minha perplexidade é bem maior quando observo que alguns jovens cultores da passividade, assumidos defensores dos direitos humanos e subscritores de manifestações pacificas, primeiro adoptam  patentes militares (brigadeiros, generais...) quando quem como eu e muitos, sabe o que é ser militar e reconhece que em via de regra, ser militar significa estar apto para combate, para violência, e depois, os mesmo pacifistas adoptam alcunhas como “Carbono” ou  “Mata Fracos”! Não estaremos em presença de um pregão que a todos engana? Como depois da conversa com o Carbono tive o prazer de falar com o Casimiro...o puto que afinal até já me conhecia, conhece a minha esposa e os meus bambinos...o rapaz que durante um bom tempo teve no ofício técnico de informática o seu ganha pão, percebi que a carbonizar ideias o Casimiro nada mais consegue do que incendiar o seu futuro, fechei a porta da minha sala com a esperança de que, de alguma forma, teríamos mais Casimiro que Carbono, daquele dia em diante! Mas quase desisti de assim pensar, quando logo a seguir, leio no facebook, palavras do Carbono e de alguns amigos seus, dando valentes VIVAS e promovendo uma autêntica FESTA em, pasmem-se, comemoração da morte dos 23 elementos afecto à claque do Kabuscoorp, que pereceram num lamentável acidente de viação.

Entendi que eram as ideias carbonizadas que incendeiam o futuro daqueles jovens, que naqueles momentos guiavam os seus dedos, para que tamanhas desumanidades fossem escritas na internet e lidas por milhares de seres humanos...

A sociedade, por acção natural, se vai encarregar de exorcizar os demónios que teimam em entranhar o corpo do meu amigo Casimiro, o puto que é rapper, que é angolano, que ama Angola e que não vai permitir a carbonização total e absoluta de sua mente...nem que se perca um talento em IT.

Alfredo Carima