Lisboa - O regime do Presidente José Eduardo dos Santos (JES) foi aconselhado, por peritos brasileiros, a avançar nas próximas eleições gerais a realizar-se nesta sexta-feira, 31/08, com uma margem de vitória entre os 60% a 65%. A sugestão foi destinada a convencê-lo de desistir da ideia de voltarem a obter um resultado superior a 80%, considerados pelos especialistas como “exagerados”, tendo em conta a "visível maturidade" do eleitorado.

Fonte: Club-k.net

Desaconselham resultados exagerados 

A recomendação  dos especialistas é baseada em resultados de uma sondagem cujos resultados foram inconfortáveis para JES. A posição dos especialistas é de que resultados “exagerados”, como os das eleições legislativas de 2008, dificilmente seriam aceites pela sociedade angolana.

A sondagem – exposta num documento de 51 páginas – foi realizada nos dias 5 à 11 de Julho de 2012, pela empresa brasileira “Sensus” em parceria com a angolana “Pro-Sensus” e o Centro de Estudos Estratégicos de Angola (CEEA), do general Mário Cirilo de Sá “Ita”, a figura que dirigiu o Consórcio Técnico Eleitoral de 2008.

No sentido de contornar a situação, a sondagem recomenda que a “participação e a presença  de JES é  desejada” e que a “campanha política dependerá, fundamentalmente, da comunicação”. A sondagem identificou ainda  o eleitorado dos diversos candidatos que se situam entre os  sectores informais (mulheres e jovens) e também aos jovens estudantes que, de acordo com a mesma, tem como “fonte de consulta” de informação ao portais informativos “Club-K” e “Angola24horas”, conforme se lê no documento em anexo.

De acordo com o documento, “a coligação CASA-CE surge como partido significativo” da oposição e destinada  a se tornar na “terceira força política” em Angola, passando o Partido Renovador Social (PRS) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).  Na última semana,  o regime – no sentido de testar as reacções e tendências da sociedade – pós a circular, em meios esclarecidos da sociedade civil, rumores  segundo as quais JES/MPLA teria 59% dos votos, que seriam uma margem que abafaria as suspeitas de  fraude.

Os resultados postos a circular seriam:

1. José Eduardo dos Santos/ MPLA (59%)
2. Isaías Samakuva/ UNITA (40%)
3. Abel Chivukuvuku/ CASA CE - %
4. Eduardo Kuangana/PRS - %
5. Restantes - %

O Conselho Político da Oposição (CPO) – a uma coligação a quem o regime prometeu ofertar  dois lugares no parlamento (para  Anastácio Finda e João Mateus Jorge) – seria colocado de parte face ao novo ambiente político.

Diferente ao cenário das eleições de 2008, as autoridades enfrentam o problema da sociedade eleitoral que denota mais madura e maior nível de  consciência  política. Há o sentimento generalizado que a CNE descredibilizou-se face a exposição de ligação que denotam ter ao regime.  No seio  da juventude do MPLA, há  discursos em privado alegando que o “partido não teria necessidade de embarcar para uma fraude” e que num processo limpo ganhariam as eleições  com uma margem que pudessem governar a vontade.

O recurso a fraude  é associado as vontades de JES, identificado como não tendo muita confiança nos eleitores, inclusive no seio do seu próprio partido. JES tem noção de que um  resultado a baixo de 80%  comprometeria os resultados de 2008 visto que os militantes foram incutidos que aquela cifra  deveu-se a  sua aparição  num comício no bairro Zango, em Luanda.

Naquele ano JES tinha sob seu controlo o centro do escrutínio (onde se lança os resultados eleitorais), na altura sob comando da Casa Militar. Teve ainda, a seu favor, o cenário que lhe permitiu realizar eleições sem cadernos eleitorais, o que permitiu uma “desorganização” do  acto da votação.

Para o próximo 31 de Agosto, há fortes sinais que apontam para “desorganizão organizada” no sentido de não haver  cadernos eleitorais e de pessoas sem os nomes no FICRE. A CNE foi orientada “a não entregar as actas síntese aos partidos da oposição” e ao mesmo tempo a não entregar credenciais aos fiscais (das formações políticas) para que se fizessem presente nas assembleias de votos, a cumprir o seu papel. A entrega das actas permite que cada partido toma conhecimento dos resultados em menos de 24h sem ter de esperar pelos resultados a serem lançados pelo centro de escrutínio.

O alcance da percentagem  desejada pelo regime é feita pela via informática através de um general da Casa Militar, Rogério Silveira que (em violação ao número 4 do artigo 116 da lei sobre as eleições gerais), controla  o centro de escrutínio eleitoral em Talatona. Os mesmos contam com um grupo de russos, peritos em fraude eleitoral. Inicialmente, instalados numa  base no hotel Plaza em Talatona.

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