Luanda - Prezados leitores do Club-K, li todos os comentários feitos ao artigo de minha autoria com o título “Eleições não derrubam ditaduras!”, pelos quais agradeço profundamente. Nesse último texto antes das eleições, tenciono responder a uma pergunta interessantíssima feita inteligentemente por um internauta. Pergunta é: Que fim tiveram alguns ditadores africanos? Para alcançá-lo, eu percebi que, seria necessário fazê-lo em em três textos. Parte 1, 2 e 3.

Fonte: Club-k.net

Bom, creio que não precisamos definir o que significa ditador. Os angolanos já estão acostumados com esta palavra. Os angolanos a conhecem desde 1979.


Neste texto, vamos falar de déspotas, cujas almas parecem folhas secas, por serem tão cruéis e sangrentos. Regimes que perseguem a oposição política. Tiranos que torturam jovens manifestantes e faz desaparecer pessoas de seus países. Mas estamos a falar também de ditadores que são senhores absolutos dos países que governam. São autocratas impiedosos, que foram julgados e condenados à morte por inúmeras atrocidades. Porém, de ditadores poderosos demais e temidos em África para cair nas garras da lei. Ditadores falecidos. Tiranos que foram assassinados por seus guarda-costas. Estamos a falar de políticos maquiavélicos, que arquitetaram massacres indescritíveis contra seu próprio povo.


Alguns são acusados e condenados por pedofilia, estupro e canibalismo! Outros tinham a mente tão deturpada que deram gênesis a genocídios recheados de requinte de crueldade: torturas, humilhações em massa, enriquecimento ilícito, pedaços de carne humana distribuídos aos crocodilos ou espalhados nas ruas das cidades. Assassinato de opositores políticos, corpos de jornalistas esquartejados.


Muitos deles são temas de livros e filmes, mas os livros não são capazes de escrever sua crualdade, pois, nenhum ser humana saudável pode aceitar a ideia de que políticos podem sacrificar vidas inocentes com crueldade e barbárie satânica.


Atos planejados com detalhes macabros; crimes cometidos para se perpetuar no poder. Homens venerados como deuses e que derramam sangue inocente. Eu escrevo sobre ditadores moderados aos mais cruéis e sangrentos. De ditadores lunáticos, aos ditadores canibais que mantinham estocados nos frigoríficos de seus palácios, grandes pedaços de carne humana para serem saboreados in natura. De ditadores analfabetos aos que se enriqueceram ilicitamente.
A ditadura africana não é assunto fácil: escritores africanos estão com medo de produzir uma literatura voltada para o assunto. E não é para menos. Todos temos medo de passar o resto dos dias na prisão. Tememos assassinatos e nos calamos. Eu fui tentado pelo medo. Medo de ser preso pelo regime de Luanda. Mas o medo não conseguirá engessar minha mente. E não permitirei que o medo me torne covarde.


Não peço concordância, mas quero apenas dar voz aos africanos que não podem gritar por sua liberdade. Tenho plena consciência de que este texto “não mudará a África”, mas, no fim das contas, tenho a certeza de que o leitor erguerá sua voz para ajudar a mudar o destino dos povos da África.


Estarei satisfeito se, ao final dos três textos que escreverei, eu tiver alcançado dois objetivos. O primeiro, tentar contar a história individual e conturbada de cada ditador africano, muitos deles iguais ou piores a Adolf Hitler. Segundo, servir de introdução à pesquisa histórica para pessoas interessadas em política africana. E uma palavra final: ajude a África. Vamos lutar para derrubar os maus governantes do continente-berço.


Dito isso, vamos falar desses seres desprezíveis que se acham mais espertos do que todos nós juntos.


Vamos à pergunta que deu origem a esse texto:

QUE FIM TIVERAM ALGUNS DITADORES AFRICANOS?


Para responder essa pergunta, passo a enumerar em seguida cada um dos déspotas que a África já conheceu e como seus regimes terminaram. Alguns dados podem, eventualmente estarem desatualizados, devido a morte de alguns deles. Vamos lá:


1. Gamal Abdel Násser:


O ditador Gamal Abdel Násser, oprimiu o Egipto entre 1954 e 1970. Cultivou a obsessão de unir o mundo árabe sob sua liderança. A isso dava o nome de pan-arabismo. De 1952 a 1970, o ditador do Egito, Gamal Abdel Násser, apelou publicamente para o extermínio físico de Israel e do povo judeu ― uma chamada que foi entusiasticamente ecoada pelos outros 21 ditadores árabes.


Em 5 de junho de 1967, tem início a Guerra dos Seis dias. Os israelenses, com o auxílio logístico dos EUA, atacaram o Egito. Não foram poupados seus aliados: Síria e Jordânia, que preparavam uma ofensiva conjunta contra Israel. A guerra do Suez durou apenas sete dias. Culminou com a retirada do Egito e das forças militares de Israel da França e da Inglaterra no início de janeiro de 1957.


Como resultado do conflito, o ditador Násser tornou-se o herói do mundo árabe. Tornou-se o “arquitecto da paz”. Passou a promover o conceito do pan-arabismo. Expulsou 25 mil judeus do Egito. Confiscou suas propriedades. Encarcerou sem julgamento outros mil judeus. Fortaleceu-se no poder e alinhou-se com a União Soviética; de quem recebeu toneladas de armamentos e centenas de tanques e aviões de combate destinados a continuar sua luta contra Israel. Ele morreu três anos depois. Sucedeu-o seu amigo e companheiro no golpe de 1952, Anwar El-Saddat.


2. Habib Bourguiba:


O ditador da Tunísia, Habib Bourguiba, desgovernou o país entre 1957 e 1987. Quando a Tunísia conquistou a independência da França, Bourguiba foi eleito o primeiro presidente da República da Tunísia em 1957, transformando-se posteriormente em presidente vitalício. Em 1964, seu partido tornou-se o único legal. Desde esse momento o presidente resolveu embelezar a sua cidade natal com novos edifícios que, infelizmente, levaram à destruição de um terço da Medina antiga.


Os últimos 10 anos de governo Bouguiba mergulhara o país numa verdadeira bagunça e caos político.  Em 7 de novembro de 1987, baseados em um relatório médico, o primeiro-ministro Zine Al-Abidine Ben Ali, considerou-o incapaz de governar. Assim, Habib Bouguiba passou os restantes 13 anos de sua vida em uma casa de propriedade do governo.


Habib Bourguiba faleceu em 2000.


3. Ahmed Sékou Touré:


Sékou Touré foi Prefeito de Conakry em 1955. Vice presidente do Conselho Executivo da Guiné em 1957. Depois, presidente da Guiné Conakry, após tornar o país independente da França, em 2 de Outubro de 1958. Ele dirigiu brutalmente o país entre 1958 e 1984.


Sob o governo de Touré, a Guiné se tornou uma ditadura de partido único. Tornou a economia fechada e de caráter socialista. Touré: “O Elefante”, como os seus sequazes afetuosamente o denominavam, era homem suficientemente poderoso que se tornou intolerante a direitos humanos e liberdade de expressão. Suprimiu brutalmente a oposição política. Escolheu membros de seu próprio clã para preencher posições em seu governo. Alegando tentativas de golpe oriundas do exterior e do próprio país, o regime de Touré visou inimigos reais e imaginários. Aprisionou milhares em prisões similares aos gulags soviéticos. Centenas de pessoas pereceram nessas prisões. A repressão do regime levou mais de 1 milhão de pessoas ao exílio.


Entre os ditadores de sua geração, Touré inventou uma maneira de causar a morte menos violenta dos seus opositores, com método mais doloroso para suas vítimas. Ele matou seus opositores, reais ou suspeitas, alimentando-os com grandes quantidades de “dieta negra”. Privando suas vítimas de comida e água até a morte. Além de ser um cérebro de liderança na indústria da morte, Touré era um mestre em desmascarar golpes contra si. A maioria de tais golpes existia apenas na sua imaginação fértil.


Como resultado de seu governo repressivo, cerca de 50 mil pessoas morreram em campos de concentração como o Camp Boiro. As vítimas mais proeminentes de sua fatídica “dieta” incluíram: o chefe do exército do General Keita Noumandian. O ministro do Desenvolvimento, Economia Rural e Trabalho, Fodeba Keita, e o primeiro Secretário-Geral da Organização de Unidade Africano, Diallo Telli.


Touré foi saudado por alguns como um herói e condenado por outros como um ditador paranoico e cruel que assassinou seu povo e empobreceu o país. Apesar da matança de seus opositores não impediu que ele ganhasse o Prêmio Lenin da Paz em 1961.


O cruel! Morreu na mesa de operação em Cleveland, Ohio, nos E.U.A em março de 1984. Vítima de uma parada cardíaca. A morte interrompeu seu regime despótico de 26 anos de poder.
Depois da morte de Sékou Touré, o novo regime de Lansana Conte expôs aos olhos da imprensa e do mundo o campo de concentração de Boiro. Era ali onde os seus esbirros torturavam e assassinavam todos quantos se mostrassem inconvenientes. Os 50 mil mortos e desaparecidos que lhe são imputados, assim como o tristemente célebre campo de Boiro, também conhecido como “Gulag guineense”. O lugar viu desfilarem e morrerem tantos e tantos guineenses de “dieta negra” e outras formas de tortura.


A maioria dos guineenses não acreditava nas notícias sobre sua morte, porque ele era equiparado a uma deidade, uma divindade.


4. Kwame Nkrumah


Quando o Gana se tornou uma república em 1960, o até então primeiro-ministro N’krumah tornou-se presidente com poder desenfreado.  Garantiu que a Constituição lhe desse o mandato para governar por decreto.  Formou uma intrincada rede de espiões para vigiar seus inimigos reais ou imaginários.


Apesar de seu intelecto elevado, as deficiências importantes de N’krumah eram a paranóia e seu amor pela bajulação a traidores. Em 1963, a sugestão de N’krumah para formar um governo de união da África foi rejeitada. Muitos colegas africanos acusaram-no de abrigar a ambição de dominar o continente inteiro.  Muitos chefes de estado tiveram sempre cuidado com ele. Seu exercício com excesso de zelo da unidade do Pan-Africano escondia um grande plano para dominar o continente.


Enquanto a maioria dos ditadores africanos eram paranóicos, N’krumah deu novo significado à palavra.  Ele viu conspirações por toda parte, mesmo depois de sua derrubada. Apelidado de “Redentor”, ele tinha também uma noção errada de chamada messiânica e uma atitude de que ele detinha a verdade absoluta. Ele preparou o terreno para uma ditadura de partido único.

Implantou o culto à personalidade. Tratou com repressão implacável os adversários políticos. Intensificou a detenção sem julgamento. Tornou-se paranóico e deu liberdade para que alguns de seus seguidores usassem o direito de prender pessoas inocentes.


Para calar totalmente os militares, ele aposentou dois oficiais seniores de infantaria: o Major-General John Ankrah e Major-General SJA. Também demitiu muitos oficiais superiores do exército e da polícia. Era virtualmente impossível remover N’krumah do poder por qualquer meio.


Sua queda deu-se, quando abriu uma brecha em sua armadura. Na época, ele ordenara que os militares realizassem exercícios regulares. Preparava uma guerra contra os brancos, da então Rodésia [atual Zimbábue].


No entanto, é relatado que o policial JW Harlley surgiu com a ideia de um golpe contra N’krumah, embora a CIA também tenha sido implicada na trama.  Os homens principais que planejaram a queda de N’krumah eram Emmanuel Col Kwasi Kotoka, comandante da Segunda Brigada de Infantaria em Kumasi; comandante Col Albert Kwesi Ocrã; comandante Accra Garrison; comandante Maj Akwasi Afrifa; e o comandante, Tamale Garrison. 

 

Em 23 de fevereiro de 1966, enquanto N’krumah realizava uma visita de estado ao Vietnã, os soldados tomaram Accra, derrubando o governo de N’krumah em um golpe militar. Não houve resistência, o que levou os ganenses a comemorarem a queda de um ditador cruel que os traumatizara por nove anos.

 

Depois de ter recuperado do choque do golpe, N’krumah acabou exilado na Guiné-Conakry. Até o momento em que foi expulso do poder em 1966, estimava-se que pelo menos 1.000 ganenses haviam sido detidos ao abrigo da lei.  Os detidos incluíram um dos mais proeminentes opositores de N’krumah: Joseph Danquah.  O político e advogado que desafiou N’krumah na eleição presidencial de Gana, em 1960, morreu na prisão em 1965.


5. Félix Houphouët-Boigny


Em 1960, a Côte d’Ivoire livrou-se da colonização francesa e Félix Houphouët-Boigny assumiu a presidência. No papel de “pai da pátria”, virou ditador e exerceu o poder até a sua morte em 1993. Tudo isso, porque ele foi reeleito, depois, por unanimidade em 1965, 1970, 1975, 1980 e 1985. A partir de então, Houphouet-Boigny regeu a Costa do Marfim como um ditador.
Em 1990, foi eleito para seu sétimo mandato de cinco anos e pela primeira vez com a participação dos partidos da oposição legal.


Considerado por muitos como tendo sido um ditador arquétipo, Houphouet-Boigny, sob a sua marca “única de autoritarismo paternalista” corrompeu seus dissidentes políticos. Ofereceu aos seus críticos, em vez de prisão, bons salários, oposições políticas e cargos em seu governo. Assim, rapidamente, consolidou seu poder.


Embora não tenha enfrentado a oposição de partidos rivais, em 1957, ele foi confrontado com a oposição de seu próprio governo. Jean-Baptiste Mockey, abertamente contrário as políticas do governo, liderou os Nacionalistas radicais.  Na tentativa de resolver este problema, Houphouet-Boigny decidiu mandar Mockey para o exílio em setembro de 1959. Alegou que Mockey tinha tentado assassiná-lo usando um vodu. Houphouet-Boigny chamou a isso de “complot du chat noir” [conspiração gato preto].


Entre 120 e 200 julgamentos secretos foram realizados em Yamoussoukro. Desse número, foram alvos de tais julgamentos, importantes figuras políticas, incluindo Mockey e o presidente do Supremo Tribunal, Ernest Boka.


Houve descontentamento no exército. A inquietação dos generais cresceu após a detenção do ministro da Defesa, Jean Konan Banny. O presidente teve que intervir pessoalmente para acalmá-los.  No entanto, uma vez que ele havia consolidado seu poder, libertou os presos políticos, em 1967.


A fim de frustrar quaisquer planos para um golpe de estado, o presidente assumiu o controle dos militares e da polícia. Reduziu o número de efetivos de 5.300 para 3.500.
Houphouet-Boigny morreu em 7 de dezembro de 1993, na época ele era o presidente mais antigo no poder em toda África.  Sua saúde em declínio havia permitido vários corredores de poder para o controle do país.


6. Modibo Keita


Keïta tornou-se no primeiro presidente da nação do Mali em 1960 e ficou no poder até 1968. Como presidente, Keïta seguiu uma austera política socialista. Modibo Keïta rapidamente ganhou vários opositores, como Fily Dabo Sissoko.  A partir de 1967, começou a implementar a sua própria “Revolução Cultural”. Suspendeu a Constituição, criando o Comitê Nacional para a Defesa da Revolução [CNDR] e estabeleceu uma rede de milícias das pessoas para informar e punir dissidentes.


Moveu seu pequeno país ideologicamente e economicamente mais perto da União Soviética e China. Com isso, o Mali foi assolado por problemas de crescimento econômico e financeiros, agravados por uma má colheita, especialmente em 1968.  Esta foi a gota d’água que levou o governo de Modibo Keïta a desabar.


O regime de Modibo Keïta tornou-se cada vez mais impopular com a sua forma “tropical” de marxismo que ousou tornar-se cada vez mais isolado.  Uma de suas principais deficiências foi os seus irreais planos de cinco anos. Nenhum dos quais foram implementados. 


O descontentamento se agravou entre os diversos grupos sociais, incluindo os agricultores. Eles, coletivamente formaram uma oposição e foram adeptos à resistência passiva que eles empregavam para interromper o fornecimento de produtos. O regime de Modibo também inspirava-se nas chamadas “democracias populares” em certos aspectos.


Em 19 de novembro de 1968, o general Moussa Traoré organizou um golpe de estado sangrento contra Modibo Keïta. Depois de tomar o poder, enviou-o para a prisão na cidade do norte de Mali Kidal.  Modibo Keïta morreu na prisão no dia 16 de maio de 1977.


7. N’garta Tombalbaye

 

Tombalbaye se tornou primeiro-ministro do Chade, em 1959, e presidente, quando o país alcançou a independência em 1960.  O período de Tombalbaye no poder foi marcado por um estado ditatorial. François Tombalbaye ficou 15 anos no poder, entre 1960 e 1975, deixando 100 mil mortos. 


O governo de Tombalbaye era ditatorial. Ao invés de unir as políticas de seu governo, ele incentivou a desunião. Em 1963, a Assembleia Nacional foi dissolvida, após uma suposta conspiração planejada por elementos muçulmanos no governo.  Ministros anteriormente associado com o Partido Nacional Africano foram presos.

Em dezembro de 1963, foram realizadas eleições, cujos candidatos só foram autorizados pelo seu partido, a União para o Progresso do Chade ― um estado de partido único havia sido criado. No entanto, nas eleições de 1969, Tombalbaye ainda era o único candidato para a presidência. Devido ao seu regime ditatorial, que não permitia a participação da oposição nas eleições, a França retirou suas tropas em 1971, após Tombalbaye ter feito concessões consideráveis.

As coisas pioraram quando o ditador Tombalbaye sofreu, em agosto do mesmo ano, uma tentativa de golpe de estado perpetrado pelo regime ligado à Al-Gadhafi, ditador da Líbia. As relações diplomáticas entre o Chade e a Líbia foram encerradas e, em resposta Al-Gaddafi reconheceu formalmente a tentativa de golpe de estado fracassado, levado a cabo pela Frente de Libertação Nacional do Chade.

No sul, a agitação social aumentou. O destaque foi a greve de um aluno. Tombalbaye substituiu seu chefe de gabinete, colocando o coronel Félix Malloum N’Gakoutou no cargo.  Com isso, ele prendeu cerca de 1.000 ativistas políticos, anteriormente libertados sob as reformas inspiradas pela frança.

Em 1973, Tombalbaye lançou uma “Revolução Cultural”. Uma forma de africanização. Pretendia, com isso, eliminar todos os sinais de influência de estrangeiros [europeus] no país, nomeadamente franceses. A Revolução visava também a promoção de uma cultura genuína chadiano.  Ele forçou os não-muçulmanos, habitantes do sul do Chade, do sexo masculino, a se submeter a um rito de iniciação nativa da etnia Sara conhecido como o “yondo”. Aqueles que se recusavam, foram executados.

Como resultado, o ditador Tombalbaye perdeu o controle sobre parte do seu país. Tornou-se hostil ao cristianismo e expulsou os missionários do Chade. Durante os últimos anos de seu regime, seus programas de africanização foram ignorados por seus colegas do sul do país não pertencentes à sua etnia.

Ele centralizou o poder em suas mãos, tornando-se, ao mesmo tempo, presidente e primeiro-ministro do país. Como se não bastasse, o ditador se tornou paranóico durante a segunda metade de seu governo.

Rebatizou o Partido Progressista do Chade [PPT] em Mouvement National pour la Révolution Culturelle et Sociale [Movimento Nacional para a Revolução Cultural e Social].  Ele prendeu os líderes do PPT, incluindo Malloum. A capital do país, N’Djamena, foi rebatizada [antigo Fort-Lamy]. Como parte de seu programa de africanização, e mudou seu nome de François Tombalbaye, para N’Garta Tombalbaye, e chamou a si mesmo “cidadão” em vez de “presidente.”

Em 13 de abril de 1975, na sequência de uma tentativa de expurgo do exército, Tombalbaye foi assassinado durante um golpe de estado. Malloum Félix N’Gakoutou foi instalado como chefe de estado.  A agitação social-política e o governo autoritário da época de Tombalbaye, no entanto, manteve o padrão para as próximas décadas.

Vamos falar do último ditador desta série de textos.


8. Hastings Kamuzu Banda

O Malawi conquistou a independência em 6 de julho de 1964, sob a liderança ditatorial do Dr. Hastings Kamuzu Banda. Depois disso, os Malawis viverão para lembrar o quão difícil era a pessoa a quem eles tinham confiado a tarefa de libertá-los da escravidão colonial. A pessoa que deveria dar-lhes uma vida melhor e digna, transformou-se num monstro que jurou atormentá-los pelo resto de suas vidas.


Durante o trigésimo ano do seu governo autocrático, o Dr. Hastings Kamuzu Banda sujeitou o seu “povo” [como ele credulamente e orgulhosamente costumava referir-se] a inimagináveis autocracias. Banda bania e censurava jornais, livros, filmes e outros recursos informativos julgados subversivos. Adicionado à lista das atrocidades está a ausência de uma estação televisiva durante toda a era do sistema monopartidário. A única estação, a Televisão do Malawi, é propriedade do governo, inaugurada a 1 de Abril de 1999.


Desde o início de sua carreira política, Banda não fez segredo de que ele seria ditador.  Quando um número de seus ministros sugeriu para que ele reduzisse seus poderes, um mês depois da independência, ele respondeu com medidas duras. Demitiu quatro deles, outros dois renunciaram.


O ditador colaborou com o regime de Apartheid da África do Sul em troca da modernização das suas forças armadas e obras de engenharia. Entre elas se destacam a construção da grande ponte sobre o Rio Chire, o Kamuzu Bridge, o Estádio de Futebol de Blantyre, o Kamuzu Stadium, bem como o Aeroporto Internacional de Lilongwe, antes conhecido por Kamuzu International Airport [KIA].


No plano interno, Kamuzu foi conhecido pela sua crueldade em eliminar tudo quanto se opunha tanto a sua pessoa quanto a seu governo.


Em 1966, uma nova Constituição fez do país uma república de partido único. Banda como primeiro presidente.  Ele passou a governar o país como um déspota incontestado até o vento da mudança varrê-lo do poder em 1990.


Ele assassinou seus inimigos, e alimentou os Crocodilos com os cadáveres de seus adversários. É nesta esteira que nomes como Dunduzu Chisiza, Dr. Aatati Mpakati, Orton Chirwa, Ernest Chipembere, etc., aparecem como mártires. Os que conseguiram escapar aos seus crocodilos que criava numa piscina, destacam-se: o velho falecido Chakufwa Chihana, líder fundador do Aford. Kanhama Chiume, atual presidente do PDMM e Kamlepo Kaluwa, presidente do Partido Democrático Malawiano [PDM].


Banda foi a personificação da excentricidade:  Ele tinha propensão para uma vida que chamava atenção. Tinha batalhões de mulheres dançarinas que o entretiam onde quer que ele fosse.
Durante o reinado de Banda, a TV foi proibida em Malawi. Por causa de seu conservadorismo, o país foi um dos últimos a ter televisão, apenas na década de 1990.


Acumulou uma fortuna pessoal estimada em 320 milhões de dólares, e provou que ele era tão ganancioso e fabulosamente rico quanto Mobutu.


O primeiro ditador pós-colonial, Hastings Kamuzu Banda, construiu para si, antes de ser despejado nas eleições de 1994, um palácio de 300 salas, com uma escola e um supermercado, que custou 100 milhões dólares.


Banda era um dos poucos presidentes africanos com múltiplos aniversários.  Por muito tempo, o seu aniversário oficial foi no dia 14 de maio de 1906.  Mas quando ele morreu em 1997, seu atestado de óbito declarou que nasceu em 1898.


Kamuzu Banda morreu em 1997, com 101 anos, vítima de doença, numa clínica da África do Sul, Garden City Clinic. O homem que ficou 31 anos no poder entre 1963 e 1994, fez um saldo de 80 mil mortos.


A sua morte, foi tida como o culminar de um ciclo despótico, caracterizado dos mais sangrentos atropelos aos mais elementares direitos dos homens. Assim, ficou Banda rotulado de ditador. Acusado de vários crimes, continuou a ser julgado mesmo após a sua morte. Apesar de tudo, teve um funeral de estado.

Boa leitura!
Espere pelo próximo texto da série “Ditadores de África.”

O autor

Ribeiro Tenguna é escritor, membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola e do Grupo Experimental da Academia de Letras. É Gestor de Empresas, Teólogo, Especialista em Resolução de Conflitos e Master in Business Administration.