Brazil - Ao longo dos anos o Estado angolano encarou  a  corrupção como um fenômeno abstrato  e fez dela um sofisma, principalmente quando se trata  de proteger o príncipe, o monarca  e a família real. Em volta desses  se  construiu uma blindagem, uma guarnição em que a defesa  é feita com todo os tipos  de elogios para esta turma de privilegiados. Nesta defesa passa-se a ideia ao cidadão de que toda honestidade  vinda  dos elementos   dessa casta de iluminados é incontestável  e indiscutível. Qualquer contestação que possa pôr em dúvida  as virtudes daquela raça chega a ser  vista como um atentado à pátria, ao MPLA e ao Estado.


Fonte: www.blogdonelodecarvalho.blogspot.com
 

Ninho presidencial abençoado pelas irregularidades

Combater a corrupção em Angola chega a ser impossível  e  inviável  quando se trata de acusar o próprio Presidente da República de estar envolvido em corrupção. Provas contra este são mistificadas  pela sua guarnição de bajuladores   como calúnias  de quem não quer ver Angola  em Paz  e sossegada  com o seu povo e seus líderes. Tudo –assim é a mensagem emitida ao povo e a nação-  deve ser  visto como procedimentos  e atos de pessoas induzidas pela má fé, ou por pessoas que se prestaram a destruir um processo político encabeçado por uma liderança  insubstituível. Em que as virtudes deste não poderão ser encontradas em nenhum dos cidadãos  vivos  que andam pelas ruas deste país (Angola).

 
É nessas circunstâncias, em que a guarnição  de tantos fatos anormais e a proteção de tudo o que há de  mais podre dentro de um sistema que sabe se proteger dos seus críticos, que nos encontramos  diante de um ambiente de saturação, em que determinadas coisas  pela força dos fatos e as leis da própria natureza,   determinados objetos e coisas deveram emergir.

 
O caso Riquinho é a prova dessa emersão. Um produto que despontou ou veio à  tona, porque nada naquele ambiente, nenhuma força, o segurava ou o sustentava mais. A prova ainda está na declaração do próprio Presidente, o protegido de todos, ao bater com a língua  nos dente, numa reunião ou assembleia partidária: “em que Riquinho é um dos empresários que mais dinheiro recebeu do Estado”. Esse tipo de declaração –mais um objeto emerso, como a merda que se pode encontrar de forma repugnante e indesejável  flutuando  sobre uma piscina- pode ser obtido como prova de ato de corrupção.  Pode  ser a pista necessária, ou até desnecessária, para se chegar à conclusão de que o nosso monarca  e  Presidente da República não é inocente nos atos de corrupção promovidos  por seus assessores. Isso é quando o mesmo não chega a ser o promotor de tais atos. Essa pista pode nos levar a fazer  as  seguintes  perguntas  de direito e dever: em que  consistiram  os contratos assinados por Riquinhos para receber tanto dinheiro do Estado? Quais serviços este prestou para a sociedade e  o Estado  para que o mesmo fosse privilegiado? Até onde esses contratos são legais, e a rigor, passou  por todas as formalidades como exigem e mandam  os bons princípios da Administração Pública?


A diferença – entre Tchizé, Ana Paula dos Santos e todo ninho presidencial abençoado pelas irregularidades viciosas em que nos habituou o Estado angolano-    está  em que Riquinho é um verdadeiro herói como empresário em tempos de paz entre os corruptos ( rejeitado e, dependendo das circunstâncias, invejado por alguns deles); um herói debochado, fanfarão, bocudo, arrogante, escandaloso e estrondoso –e  finalmente injustiçado. Enquanto  aquele  ninho trabalha na surdina e age de forma sorrateira –quanto menos visibilidade maior o êxito e menor as suspeitas de corrupção. Mesmo porque estes não precisam de tal visibilidade, a posição de serem filhos e membros de uma casta  “vítimas  de toda inveja” – segundo estes,  “a inveja que vem do povo”,  não a que agora vitima Riquinho-,  é mais do que suficiente. Além de ajudar em todos os tráficos de  influência  de que precisam.

 
Para esclarecer a tese  que dá privilégios a uns  e  penaliza a outras,  vamos recordar  aqui fatos que aconteceram há quatro anos atrás, na   eleição e posse surpreendente e assustadora de Tchizé ( assim como de sua madrasta). Toda boa militância do MPLA foi pego de surpresa quando essas duas criaturas,  filha e esposa – de quem são-, ascenderam a cargo de parlamentares; quando se sabe que nas filas do partido no poder muitos bons militantes, dedicados em tempo e dimensão espacial  a nível do território nacional, estão e estariam em melhores condições para ocupar aqueles dois cargos no  parlamento. A própria Tchizé  numa entrevista reconheceu  que  sua nomeação ou proposta convocatória  feita pelos militantes  do comitê onde a mesma frequentava ou exerce suas atividades partidárias –se exerce mesmo-  foi um fenômeno  que a pegou de surpresa. Resumindo, são milhares de angolanos que poderiam  muito bem ocupar aqueles dois cargos, entre eles, sem exagerar,  o próprio Riquinho. O que torna diferente esses milhares de angolanos com relação às duas mulheres privilegiadas? A resposta é genérica: corrupção. E em termos  específicos chama-se tráfico de influência, oportunismo e, finalmente,  exposição de burrice  de quem acolhe as duas mulheres. Este último trecho do parágrafo recebeu a devida influência, de uma entrevista publicada no Club-k,  vinda da filha  do homem mais poderoso do país. Dizem que aquela ( a também   mulher mais poderosa do país morre de elogios ao pai). Só como observação nossa:  tomar decisões com ajuda de todos – ou de equipes-, diante de tanto poder canalizado a uma só pessoa, não é sinônimo de inteligência. Quem corrobora isso, são os discursos cafonas e articulados com palavras cínicas e repetitivas. Quem corrobora isso, são os trinta anos de governação.

 
Continuando. A diferença  está  em que Riquinho é o retrato do Angolano que nesses trinta e sete anos de independência  veio do nada  e sem referências; é o mwangolé puro  e arrojado que usa e usou todos os artifícios  para chegar onde chegou. Riquinho somos todos nós – que me perdoem, pela infeliz comparação-  em menor ou maior grau, uns desencantados, outros mais otimistas e outros até vitoriosos. Nesse espectro está o cidadão José Eduardo dos Santos, menos boçal, mas o seu cinismo é parte de um instrumento estratégico,  ou não, que faz do angolano um espertalhão, um aproveitador de oportunidades e de circunstâncias: um líder que aí vemos! E que se tornou covarde, impotente e cumplice diante da corrupção. Acreditem se quiser!

 
A diferença é que Riquinho precisou e precisa  mostrar que é flexível, se movimentar entre os poderes. Enquanto  aquele ninho de oportunistas já está estabelecido e é venerado mesmo quando não quer  e nem espera. Esse é o caso da nossa Princesa Tchizé que conseguiu chegar a Deputada mesmo sem querer e  esperar ser. Porque para esta o que não faltou é  apoio,   acolhimento e bajulação: o  produto da dominação que os corruptos do MPLA e do Governo usam para manter o povo em sua volta.

 
Devo terminar este artigo: Mas antes quero aqui usar o mesmo para  parabenizar a vitória dos corruptos. Não a vitória do MPLA nem a vitória do povo Angolano! Por que estes com certeza saíram derrotados; mais até do que os Kwachas, bandidos, oportunistas, terrorista e para sempre  a corja de verdugos que fez sofrer a nação Angolana durante vinte anos. Devo parabenizar, também, o camarada Presidente José Eduardo  dos Santos ( esse mesmo, o mais calmo e  espertinho de todos nós) ; o meu Grande Amigo ( sem ironias) e contra-atacante no Club-k, Dino Cassulo. A este  peço imensas desculpas pelo atraso. Foi uma falha minha, é que até agora estou tentando me recuperar da vitória anunciada, inevitável, propagandeada como ato de merecimento, que dizem ser do MPLA.

 
O MPLA e os Angolanos (o povo angolano), se depender de mim, não estão de parabéns. Da mesma forma  que não se pode e nem se deve parabenizar um amigo por ser atropelado ou uma viúva por perder  o marido, não temos porque parabenizar aqui o MPLA ou os Angolanos.

 

Para nós, desta vez,  não há nada a comemorar!