Luanda -  [Ponto prévio: Para quem não conhece estes americanizados doutores, que hoje foram escolhidos para “molhar” o título desta crónica, eles são especializados em lidar com a informação numa perspectiva que tem pouco a ver com o jornalismo, situando-se o seu campo de acção em áreas próximas mas conflituantes, como as relações públicas e a comunicação politica (discursos/marketing/sondagens).


Fonte: Morrodamaianga.com

O conceito “spin doctor”, que já é “membro activo” da sociologia da comunicação e de outras disciplinas paralelas, não é muito simpático para quem o enverga ou a quem é atribuído, por razões óbvias, embora seja nos Estados Unidos um trabalho como outro qualquer.


O mesmo tem a ver com a capacidade do “doutor” em orientar no sentido que melhor convier uma determinada informação a favor da personalidade/entidade/instituição para quem o especialista trabalha.


De acordo com o Wkipédia, traduzido para português, o termo significa “doutor em engano/manipulador de opinião”.]


Dito isto passemos então para a nossa banda, onde uma das grandes novidades da recente cobertura eleitoral efectuada pela comunicação social pública, foi a entrada em cena de um número considerável de novos e desconhecidos rostos de gente bastante jovem que até ao momento nunca tinham dado a cara enquanto fazedores de opinião/analistas/observadores/comentaristas.


Diante desta impressionante e repentina safra, lembrei-me do Antunes Guange (AG) e dos tempos do já falecido e saudoso “Semana em Actualidade” da TPA, por causa das permanentes e recorrentes (grandes e pequenas) dificuldades que o nosso amigo tinha em arranjar vozes/opiniões diferentes para preencher o programa que realizava e conduzia, tendo a mim e ao Ismael Mateus como uma espécie de convidados residentes.


Foram várias, as vezes que o AG ficou com as calças na mão à procura de alguém que aceitasse o convite para ir até ao Semana em Actualidade comentar os últimos sete dias do país e do mundo.


Espero que tenham percebido agora, diante de toda a “fartura opinativa” que marcou a cobertura das eleições de 31 Agosto, a razão que me levou a recordar as dificuldades que o Guange/Semana em Actualidade sempre encontrou para diversificar os seus convidados durante os últimos anos de vida de um programa histórico que desapareceu de forma inexplicável da grelha do canal público.


De facto, tratou-se de uma estranha morte antecipada e provocada por razões estratégicas que não tiveram nada a ver com a salvaguarda do interesse público, antes pelo contrário, pois prevaleceram outros interesses mais políticos.


Mas deixemos o passado recente e as nossas lamúrias que já não são uma novidade, para regressarmos ao tema desta crónica onde o título sugere de imediato uma comparação que pode não ser muito simpática para quem decidir enfiar a carapuça, opção que os interessados são totalmente livres de pegar ou largar.


Do nosso lado não vemos qualquer inconveniente, caso se decidam por uma ou por outra escolha, com a certeza de que a evidência de alguns factos não deixa margem para muitas interpretações.


Entre comunicólogos e politólogos o desfile dos novos fazedores de opinião pela TPA, mas não só, chamou a atenção de todos, incluindo os mais distraídos, prateleira onde às vezes nos encontramos a fazer algumas elucubrações, que nem sempre agradam a todos e pelos vistos também não agradaram alguns dos “painelistas” que comentaram para a média pública estas eleições.


Não ouvi o suposto “beef”, se é que foi mesmo disso que se tratou, mas alguém da família que também não ouviu, perguntou-me se estava tudo bem, depois de um amigo lhe ter dito que o meu nome tinha estado na baila, o que deixou o meu sobrinho algo preocupado com a “saúde” do tio.


Como é evidente, a única coisa que lamento nestas e noutras trocas de galhardetes à distância, é que elas bem podiam ser feitas na maior das calmas, olhos nos olhos, como acontece em todo o mundo civilizado, onde a democracia não serve apenas de enfeite. Tal desiderato só é possível, entretanto, alcançar, se o serviço público de rádio e televisão, previsto na Constituição respeitasse realmente os princípios estruturantes do contraditório e do pluralismo, a par de todos os outros que fazem parte da cartilha. Este dia que está para chegar, voltou a afastar-se ainda mais do nosso horizonte, durante a cobertura que está aqui a ser apreciada, sem dúvida um presságio muito mau, tendo em conta a orientação que virá a ser seguida pela nova tutela que for nomeada, no âmbito do próximo governo que já deve estar a ser “cozinhado” no laboratório da especialidade.


Desta vez e diante de tanta e tão profissionalizada oferta do lado da mesma e convergente opinião, a trazer-nos de volta a expressiva imagem do coro evangélico que muito apreciamos, a nossa curiosidade foi atirada para a localização do seu mercado de origem. Ouvimos várias versões, mas o mais importante seria que os novos e acutilantes fazedores de opinião que fizeram agora a sua estreia com estas eleições, não desaparecessem tão misteriosamente, como foi o seu surgimento do (quase) nada.


Por falta de enquadramento mínimo, não foi disponibilizada qualquer informação adicional sobre o seu “back-ground”, o que nas estreias é absolutamente normal, para que os ouvintes e os telespectadores saibam quem é e qual é a origem do novel fazedor de opinião.


NA- “Secos e Molhados” é o nome da coluna que publico semanalmente na “Revista Vida” do semanário “O País”