A problemática em questão, se enquadra no âmbito dos problemas éticos do mundo contemporâneo, com repercussões interdisciplinar e intersapiencial. Estes problemas éticos do mundo hodierno, são causados exclusivamente pela intervenção da ciência nos mais variados campos. Entre os variados problemas destacamos — A crise ecológica, células estaminais, clonagem, eutanásia, eugenia, democracia sem valores, controle da natalidade/contracepção, manipulação genética, a pena capital, o aborto, a guerra e a paz, etc.
Para o caso da fome geral que está ligada parcialmente aos biocombustiveis, tem um enquadramento Bioético.
A fome global que o mundo está a viver, que é atribuída em parte aos biocombustíveis, fruto da intervenção científica, remete-nos as seguintes questões — a ciência é de todo positiva? Será que se deve acreditar totalmente na ciência? A ciência tem ou não consequências graves para a pessoa humana? A ciência pode destruir totalmente o mundo (humanicidio) com a sua a actuação? Será que tudo que é técnica e cientificamente realizável é eticamente admissível?
 
Os limites da ciência
 
A época pós-moderna vê na ciência a fonte da felicidade e a da realização humana, mas a sapiência metafísica deixou cair por terra este postulado doentio, porque a experiência nos mostrou claramente que o avanço a-ético da ciência trouxe drama e angustia a humanidade nos nossos dias, em que a ciência está no pico, por exemplo, as superpotências têm, hoje, mais de 50 mil ogivas nucleares, mais do que suficientes para destruir o nosso planeta várias vezes. … 
É necessário que todo cientista tenha consciência dos limites da ciência, saber que ela não pode tudo, pelas seguintes razões: a) a ciência é um saber parcial, ou seja, ela não abarca a totalidade da complexidade do objecta em estudo. Ou o estuda na perspectiva química, biológica, zoológica, médica, microbiológica, virológica, etc. mas, além disso, até no plano dos fenómenos, do funcionamento, do encandeamento, a ciência reconhece os seus limites. Por exemplo, a teoria dos quanta, formulada por Max Planck em 1900 tornou-se uma das bases da Física moderna. Ora segundo ela, as leis clássicas à escala macroscópica já não se aplicam à escala dos átomos.
b) O princípio de incerteza formulado por Heinsenberg em 1926, coloca “limites” ao nosso conhecimento, visto que, segundo ele, o físico não pode determinar, ao mesmo tempo, a posição e a velocidade de um corpúsculo.
c) Por outro lado, a consciência dos limites do saber cientifico deve-se às teorias da relactividade, de onde resulta o facto de que no espaço-tempo haverá sempre zonas inacessíveis aos nossos meios de investigação.
d) Outro argumento que deixa cair por terra o falso poder ilimitado da ciência é a célebre teoria epistemológica do filósofo da ciência Karl Popper — A teoria da falsificabilidade dos postulados científicos — Segundo a qual o conhecimento científico só é válido enquanto funciona, ou seja, enquanto responda aos anseios de uma época, e em qualquer momento da história a sua dimensão funcionalista pode desabar. 
São cada vez mais numerosos os sábios conhecedores para quem a ciência não basta porque não responde a todas interrogações da vida, com realce para as questões existenciais, diante das quais as ciências positivas esbarram. Obras recentes, como as de Monod, de Jacob ou Gnose de Princenton, testemunham que, a partir da ciência, alguns sábios formulam interrogações que a ultrapassam.
A ciência desenvolve a honestidade intelectual do investigador e esta exigência de honradez deve levar o sábio a reconhecer que a ciência não diz tudo sobre o universo, não diz tudo de tudo e convida-o a procurar mais longe, a descobrir o “totalmente Outro” que é o único a dar sentido à sua vida e ao mundo.
 
Conclusão

 
Depois de descortinado o falso poder da ciência, é necessário afirmar que a subida dos preços da alimentação, tem uma dimensão científica que está intimamente co-penetrada com os bio-combustiveis que são filhos da ciência. 
Importa frisar, que a crise mundial de alimentos também tem a ver com o aumento do preço do petróleo, que afecta amplamente os países importadores e como consequência fazem vista grossa aos países dependentes como é o caso de Angola e outros.
Os estudiosos também apontam o aumento do consumo pela China e Índia decorrente da explosão demográfica destes países, como influenciadores da crise alimentar mundial. Aponta-se também a as mudanças climáticas como outro elemento propiciador da crise, particularmente nos países asiáticos produtores do arroz, que baixaram de que maneira a sua produção.
Sendo a economia angolana, totalmente dependente das importações, já que nem agulha fabricamos, não temos hipóteses, mais tarde ou maus cedo, o peso da crise mundial de alimentos vai certamente nos afectar de forma grave. Não acredito que o Ministério da Agricultura tenha alguma reserva de cereais para responder a esta hecatombe, por isso, desafio as autoridades angolanas, afirmando de que tenho dúvidas se as autoridades … têm pelo menos 100 kg de milho ou outro cereal armazenado.
Eticamente, é inaceitável que algumas nações em nome do orgulho e exaltação, fruto das suas conquistas científicas, prefiram pôr em causa a dignidade humana…
Para mim, destinar cereais para fins energéticos é um crime contra humanidade.
 
Bibliografia
 
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Fonte: Folha8