Luanda - Angola registou hoje um facto inédito. José Eduardo dos Santos presidente do MPLA e de Angola desde 20 de setembro de 1979, quando eu ainda tinha 19 anos, tomou posse como PRA. Alguém perguntará o nunca foi Presidente da República de Angola? Eleito nunca e por mim continua a ser alguém que nunca feito eleito pelo povo.


Fonte: Club-k.net

ImageEm 1992 não conseguiu ser eleito. Reza a história que amealhou 49,6% dos votos, num sistema em que seria considerado eleito quem tivesse somado 50+1 voto. Em 2008 não foram realizadas eleições presidenciais. Estas estavam calendarizadas para ano seguinte – 2009 e sabemos ou pelo menos lembramo-nos do que aconteceu?


A Constituição atípica foi aprovada pelo MPLA em 2010 que introduziu o atipismo no que diz respeito a eleição. Quis JES que o Presidente deixasse de ser eleito por voto directo dos cidadãos. Ele apanha a boleia do Partido, isto é, aparece como cabeça de lista do Partido concorrente. Dizem algumas vozes que a fórmula foi sugerida por JES face a queda irreversível da sua popularidade em Angola.


Em 2012, alguém votou no Presidente? Alguém elegeu o Presidente? Eu, sinceramente acho que esse assunto tem muito que se lhe diga.


Bem hoje, dizia eu de início, fica, então para história como dia em que JES tomou posse pela primeira vez como Presidente eleito. Eu não elegi, fique claro. Faço parte daqueles milhões de angolanos impedidos de votar e excluídos de forma deliberada para não votarem, por iniciativa traiçoeira de quem tomou hoje posse e seu grupo. Isso hoje fica assim, mas algum dia justiça deverá ser feita. Ando em autocarros, táxi, nos mercados, nos bairros e sei que existe muito descontentamento social face a agenda governativa do MPLA, que só agora promete “distribuir melhor”. O que me diz o sentimento de frustração dos angolanos é que eles não votaram para continuarem cinco anos debaixo da bota de opressão e exclusão do MPLA e de JES. Os angolanos votaram para mudança, outros votaram para que pelo menos houvesse equilíbrio no Parlamento, no sentido de que as leis a serem aprovadas fossem de encontro as aspirações da maioria dos sofredores.


Como pode José Eduardo dos Santos tomar posse em nome do Povo Angolano. A imagem de investidura só diz que JES está agradecer a Rui Ferreira, pelo êxito da tamanha falcatrua que permitiu passar e realizar o sonho de algum dia ter sido considerado pelo TC como alguém eleito. Aliás, quem leu ou ouviu o discurso de Rui Ferreira concluirá que suas palavras espelham tudo, menos isenção e imparcialidade que deveria caracterizar o Presidente de um Tribunal Constitucional.


Hoje, compreendo melhor por que razão o MPLA rejeitou as propostas da UNITA, que, entre vários aspectos pautava por garantir “transparência e segurança tecnológica” e a “Auditoria independente” das eleições. A UNITA bateu-se para que aos partidos políticos concorrentes às eleições, fosse concedido o direito de fazerem auditoria aos programas de informática antes e depois das eleições, para se ter certeza de que não sofreram alterações.


Hoje, compreendo melhor por que houve recolha compulsiva de cartões de eleitores pelo MPLA, que apesar de reiteradas denúncias nunca o Partido no poder se dignou esclarecer ou contrariar. Hoje, compreendo melhor os fundamentos da aprovação de uma Constituição atípica. Compreendo melhor por que motivos tivemos a Dra Suzana Inglês em frente dos destinos da CNE, mesmo sabendo que não reunia requisitos exigidos por lei. Hoje, compreendo melhor por que só tardiamente colocaram o Dr André Silva Neto na presidência da CNE.

 
Por estas e outras razões terei compreendido melhor as motivações que estiveram na base da presença nos corredores da CNE, do senhor Brigadeiro Rogério Saraiva, o cérebro da arquitectura de dados atribuídos aos Partidos como seu resultado nas eleições de 31 de Agosto de 2012. Por aí terei compreendido a engenharia de fabricar em Luanda e atribuir resultados eleitorais às províncias, não com base nos resultados eleitorais obtidos de facto, mas como base no estratagema de fazer vencer JES.