Luanda  - Nessa altura eu deveria aparecer por aqui, apenas para anunciar uma ausência temporária devida a prementes razões profissionais, por um lado; por outro lado “juntando o útil ao agradável” acrescer que a ausência coincidirá agradavelmente com uma moratória que pretendo dar, nas minhas intervenções de cariz combativo por uma cidadania de acordo com o nosso tempo e espaço, aqui à minha mesa de café.


Fonte: Marcolinomoco.com

Na verdade, toleradas por uns , diga-se, até apreciadas por muitos, essas intervenções têm provocado alguma comoção (in) compreensivelmente desagradável para algumas poucas muito importantes personalidades. Nada, pois, melhor do que alguma trégua nessa altura, quando deixo que reflictam (mesmo cépticos) no que escrevi em “Angola: a terceira alternativa” e nos resultados eleitorais de 31 de Agosto, não apenas nos números mas no produto readquirido:


-banalização dos preceitos constitucionais e legais; banalização das instituições

-instituição da arrogância de quem está no poder e pensa que as leis não o afectam

-em fim, os dez pontos do “Angola: a terceira alternativa”:


1)Dignidade das pessoas no caixote de lixo, mais do que no tempo do colono quando queria realizar as suas obras;


2)Cargos para nos governarmos;


3)Exploração das diferenças étnicas, religiosas e condição social para puxar a brasa para a nossa sardinha e controlar todos os cargos até aos sobados;

4)O estado é o meu partido e o meu partido sou eu;

5)Manter fantasmas antigos e criar novos para assustar o pessoal, que sempre faz bem à menoridade;

6)Alternância para quê? Para ocuparem o nosso lugar?

7)Falar em autárquicas e outras balelas democráticas para que nos deixem em paz;

8)Fim pacífico da espoliação dos recursos nacionais e regionais? Que ousadia? Quem foi declarado vencedor das eleições é dono do que quiser. Haverá por aqui tribunais que nos possam julgar?

9)Libertação e democratização dos meios de comunicação? Nem pensar! Nós somos o poder!

10)Separação de poderes e independência do poder judicial? Isso nunca. Se nós é que compramos carros (e bons) para eles todos e lhes demos as casas?!


Neste “até breve” nos meus textos aqui, eu não pensava ter de referir os 10 pontos do “Angola: a terceira alternativa, até que um tempo razoável permitisse a efectivação de um balanço justo, depois que o novo Executivo e a nova Assembleia tomaram posse, com o Presidente a dizer, num tom “convincente”, que que agora ia começar a era de “governar para todos” e do “produzir mais e distribuir melhor”. Mas tive de fazê-lo porque os sinais do que dizia no texto anterior (aqui abaixo), dando razão ao Almirante Miau, que dizia que a prática vale mais que os programas dos partidos e que os slogans não valem nada se o político não quiser comprometer-se com eles (acrescento eu), já se fazem sentir.


Não falo dos atropelos formais, no acto de investidura Presidencial e na recusa de uma obrigação constitucional no dia da abertura da legislatura parlamentar. Acredito que um dia poderão concordar comigo e concluir que tudo isso são gestos propositados para alimentar o mito da intocabilidade do “chefe” e para distrair os diversos actores políticos e sociais do debruçar-se sobre as questões de fundo deste nosso regime perigosamente entorpecedor e retardatário.


Em cada um dos 10 pontos, eu falaria de uma série de factos em que “os ganhadores” já demonstraram que não querem mudar nada. Mas isso seria enfadonho num texto em que apenas quero dizer “até breve” aos meus leitores. Vou referir-me apenas a um que deveria ainda considerar-se um escândalo. Digo “ainda” porque quanta coisa seria escândalo em Angola, que hoje já não se considera?!


O Jornal de Angola apresenta, na sua edição do dia 13 de Outubro, pp. 28, uma lista de pessoas que devem comparecer “nas instalações da Delta Imobiliária na Centralidade do Kilamba …”, “ a fim de procederem à assinatura de contratos e recepção dos apartamentos.”


Num sistema de economia de mercado é questionável este tipo de distribuição administrativa, cujos critérios de beneficiação não são explicados a ninguém. Isso em relação a maioria da lista, onde já cansados de tanto espanto em relação a tanta arbitrariedade neste país, lá estão os nomes de alguns “comentadores” de rádio, televisão e “jornais  de Angola” que em pleno dia das eleições continuavam a malhar no diabo da dos galos “sanguinolentos” agora desavindos e do PRS. Desajeitadamente. Sem que ao Tribunal Constitucional (excepto a Dr.ª Imaculada) fosse permitido, sequer, constatar esta irregularidade material descarada entre outras tantas.


Mas o escândalo (seria escândalo em qualquer país, mesmo africano!) é que na longa lista, estão destacados, com um item bem negritado os “Músicos que participaram na campanha eleitoral”. Nem foi preciso dizer campanha de quem. Francamente! Alguém considera isso normal?


Felizmente, a Comunidade Internacional já começa a mostrar sinais de desaprovação desses excessos. O petróleo não é tudo. Sobretudo, é do país e não de quem está hoje no poder.

Até breve.

Luanda, aos 16 de Outubro de 2012