Lisboa - Não sendo homem de absolutismos, sou obviamente pela mudança aí aonde a «senhora» seja necessária, isto para não dizer imprescindível. Sempre. Por isso, patriotismos saloios à parte, não tive quaisquer pruridos quando me decidi a ignorar a nossa companhia aérea para a viagem a Lisboa que programara para esta altura, até porque, como ainda constava o Rio de Janeiro na rota, era mais viável e menos complicado fazer-me cliente da «voadora» lusitana, a Tap, que da nossa Taag, sobretudo em face da conversa dos endossos e tal. Ponto.

Fonte: SA

E cá vim eu, na última segunda-feira, numa beleza de voo, sem nenhuma chatice, à responsabilidade do comandante Augusto Miranda, que deve ser dos pilotos mais craques ao serviço da Tap, algo que se vê logo na arrancada e depois no poiso. Foram ambos limpinhos. Palmas para ele!

E o serviço de bordo?! «Senhor, aceita um sumo de laranja?», pergunta solícita a bela e jovem assistente. Nada a ver com as nossas «aero-velhas», todas carrancudas e bem rabugentas, que chegam a maltratar os passageiros, como se não fossem eles que lhes fazem o salário e os apetitosos subsídios de viagem, passe o masoquismo. A pergunta é tão simpática que um gajo, surpreendido, mesmo que quer uma «birra», aceita logo o sumo. «Aceito».

E o avião (queiram desculpar-me por não ter reparado no modelo, mas que era um Boeing isto posso confirmar), todo ele à nossa disposição, bem vazio: um gajo é que sabia até se sentava aqui ou se dormia ali. Eu adoro viajar em aviões vazios. E no que vim, o vazio era quase total e completo. Era um daqueles voos nada lucrativos para a operadora. No caso, devia ser por causa da época. Já está a entrar o inverno na Tuga. Mas, isto não é comigo.

À chegada, antes da hora programada (mais uns pontos para a Tap), estava a minha irmã (a Creuza Neto, uma antiga jornalista da Angop, que preferiu seguir o marido na «aventura» dele por estas bandas) à espera. Beijinhos e abraços e lá fomos apanhar o táxi.

Como uma viagem sem peripécias não «cuia» e porque já estava a tardar que acontecesse alguma, pouco depois tive a primeira dose. «Vamos para Seixal, na margem sul», disse a minha mana para o taxista, um cinquentão com ares de boa pessoa. «Como há um acidente na ’25 de Abril’, temos de ir pela ‘Vasco da Gama’», anunciou o homem. Podia ser uma aldrabice sua para dar mais voltas e assim lucrar a dobrar, bem desconfiou a Creuza, mas, num instante depois, ele faz questão de nos chamar a atenção para as notícias sobre o acidente que passavam numa rádio local.

Não era aldrabice. Mas, já sabíamos que teríamos de pagar, no mínimo, o dobro do dinheiro que desembolsaríamos se fossemos pela ponte «25 de Abril», que é a via normal. «Não faz mal», disse eu, algo inchado, para a minha irmã, e lá seguimos caminho, vruuum, vruuum, pé na tábua, rumo ao Seixal.

Não queria peripécias? Pois, acabei por tê-las em dose dupla: além da «financeira», tive outra «temporal». Não é que o homem do táxi-, que devia ter a obrigação de conhecer Lisboa como a palma da mão, acabou por se perder? É. Quando ele se deu conta, quase estávamos já no Algarve, desconte-se o exagero. Mas era bem longe do nosso destino. Era já no Montijo. Boa pessoa como me pareceu, tratou de desligar o taxímetro nos 58.38 euros, que o resto ficava por sua conta. E até que conseguimos chegar à casa, lá no Seixal, andamos p’ra aí umas duas horas. Uff. Porra. Uma viagem que duraria, se tanto, meia-hora, custou-nos mais que duas. E pelo dobro do preço habitual. Boa peripécia, sim senhora. E para piorar, a atrapalhação era tanta que não deu para conversamos com o homem sobre como ia o seu país, tal e quê. Melhor informador ou cicerone que um taxista não há.

E cá estou eu então por Lisboa. Em (aparente) gozo de férias, depois de quase três anos sem conseguir desfrutá-las em pleno, isto é, sem qualquer preocupação com o serviço, o que me tem sido dificílimo fazê-lo. Aliás, estou já a desconfiar que a história repetir-se-á. Parece que a «bumba» me segue sempre, não importa onde esteja. Caraças. Mas, paciência. Fazer o quê?

O meu destino final é mesmo o Rio de Janeiro. Para tratar da «jinguinga», como diz o Luís Fernando. O desvio para Lisboa serviu apenas para rever (não os via desde 2009) a mana, a mamãe ( a senhora Dona Joaquina Gonçalves da Silva, que também anda por cá há uns cinco anitos já), os sobrinhos (a Jake e o Ivan) e o «nhado», que é o Nelo Tavares, um dos integrantes dos Jovens do Hungo, grupo da nossa boa música tradicional que está a precisar de uns apoios para cumprir cabalmente o seu objecto social: a divulgação e promoção da nossa cultura além-fronteiras. Quem dá uma mão?

Por cá, a vida não está nada fácil. Logo à chegada, as notícias sobre o orçamento português para 2013, que vai exigir mais sacrifícios aos cidadãos lusitanos e aos estrangeiros que aqui vivem, são preocupantes. Muito preocupantes mesmo. O povo «relincha», mas os governantes assobiam para o lado, dizendo, xininis, que só com mais uns furos no cinto da populaça é que o país conseguirá sair do aperto, o «aperto» mais apertado de que se tem memória na história desse país ibérico.

Sobe tudo. Olha, acabaram de subir os impostos e o preço da energia eléctrica, algo que se veio juntar aos cortes nas pensões de reforma e nos subsídios de férias, décimos terceiros e assim. Está duro. Muito duro.

Em relação, por exemplo, à energia eléctrica, as coisas pioraram sobremaneira. Desde segunda-feira (embora o governo diga que as famílias não sentirão o aumento logo-logo), o pessoal passou a fazer mais restrições em casa: só se liga o estritamente necessário; se alguém estiver no quarto, desliga a lâmpada da sala e vice-versa; na casa onde estou hospedado (mesmo pagando pela acomodação), a senhoria controla todos os meus «movimentos eléctricos», a ponto de não me deixar sequer dormir com o candeeiro aceso.

Há quem diga que o governo de Passos Coelho irá cair certamente. Há dias, houve uma espécie de «comédia presidencial», com Cavaco Silva e três dos seus antecessores (Mário Soares, Ramalho Eanes e Jorge Sampaio) a desancarem sobre o homem. Todos diziam, mais palavra, menos palavra, que o caminho austeríssimo proposto pelo primeiro-ministro para a saída da crise não será o mais acertado. Só que, na prática, também não apontam o ideal. Haverá mesmo outra saída? – eis a questão. Houve mesmo quem disse que as actuais medidas eram uma «bomba atómica fiscal», tal é a carga do aumento dos impostos da discórdia.

Isto indica, no entanto, que a proposta de orçamento, tão dura como está para o zé-povinho, não deva passar pela Assembleia da República, o Parlamento deles. Mas, segundo observadores da política lusitana, se o projecto passar, matreiro como é, Cavaco Silva deverá limpar as mãos, endossando-o ao Tribunal Constitucional, para que este decida em última instância. Ponto. E assim vai Portugal. Algo lixado da vida.

Bom, muito haveria ainda para dizer neste primeiro lance nosso, mas, por falta de espaço, ficamo-nos por aqui. Não. Perdão, perdão, perdão. Só mais umazinha. Um dos meus jornalistas, o Baldino Miranda, que é meu amigo no facebook sei lá como (esse facebook...), saiu-me com esta: «Boa dia, chefe. Ouvi que se encontra na Tuga. Está em Lisboa, no Porto ou nos Açores?».

Percebi logo o gozo, só podia ser, mas não me zanguei. «Eu, nos Açores?! Fazer lá o quê?!», retruquei, encaixando o golpe do miúdo. Antes de me perder a rir. «Fidacacha!».

*Em Lisboa