Luanda - A semana não me podia ter começado da pior forma. Tocou o telefone. Do outro lado chegou a notícia inesperada, brutal. Morreu um dos nossos. Mataram o Mariano.

Fonte: Morrodamaianga.com

Jornalista Reginaldo Silva  avança com pormenores

De seu nome completo Mariano Adão Sebastião, o malogrado que era oficial da Policia Económica, foi encontrado esta madrugada baleado dentro do quintal da sua casa e no interior da sua viatura cujo motor ainda estava a trabalhar.


O Mariano era um dos nossos, porque foi mais um dos muitos angolanos com quem nos cruzamos em 1977 e fizemos uma profunda amizade na Cadeia de São Paulo, na sequência dos acontecimentos do 27 de Maio e da caça às bruxas desencadeada pela DISA, a tenebrosa polícia política da época.


Ciente da ameaça de morte que na altura pesava sobre a sua pessoa, o Mariano conseguiu sobreviver, porque na Cela F onde nos encontrávamos, ele pura e simplesmente "desapareceu". E "desapareceu" não aparecendo, isto é, o Mariano nunca dava o seu nome para as listas que regularmente os carcereiros/conduzes iam fazer as celas, para a DISA saber quem é que estava lá e assim ter uma ideia exacta do universo de todos os presos para planear melhor as suas acções no âmbito da estratégia que estava em curso.


O Mariano também nunca saía da cela para ir ao pátio apanhar sol, quando 8 meses depois nos começar a dar este "direito".


Foi com este "auto-desaparecimento" que o Mariano se conseguiu esconder dos seus carrascos dentro da própria cadeia deles e assim sobreviver aos primeiros e mais sangrentos meses da repressão.


Depois as coisas começaram a ficar mais "calmas" e já havia mais esperança de sairmos de lá vivos.


Dos artistas que tínhamos na Cela F, integrados no conjunto do qual faziam parte os já igualmente falecidos Mister Mbukú e o Kota Lito, o Mariano era o que cantava melhor as músicas do Artur Nunes.


Trinta e cinco anos depois, parece que ainda estou a ouvir o Mariano com a sua voz de falsete a cantar as músicas do AN na Cela F.