Luanda - Normalmente o meu interesse pelo conteúdo das declarações de Bento Kangamba (BK) não costuma demorar mais tempo, do que o próprio tempo que elas demoram a passar na rádio/televisão, que por sinal em termos relativos até chegar ser muito (sobretudo devido ao mecanismo do replay), a ter em conta os tempos dispensados aos seus homólogos da oposição, que como sabemos têm os mesmos direitos no acesso ao serviço publico de rádio e televisão.

Fonte: Morro da Maianga

Em relação às declarações que o "bombeiro de serviço do MPLA", como BK já é chamado a boca pequena, prestou ontem em Cacuaco, devo salientar que o meu interesse foi substancialmente diferente e para já não digo se foi para pior ou para melhor, ficando esta conclusão ao critério de cada um e de cada qual.

E assim aconteceu porque BK ontem fez uma interpretação da nossa Constituição, com toda a força da sua exposição mediática o que pode levar as pessoas a pensarem que ele agora tem outras funções resultantes da recente legitimidade alcançada nas urnas, onde foi eleito (mais ainda não empossado) deputado da República pela lista do MPLA.

Mais palavra menos palavra, BK, que estava todo paramentado/engalanado com as cores do maioritário, disse que os líderes partidários não podem falar para a Nação, só devendo fazê-lo para dentro dos seus partidos, numa alusão ao recente discurso de Isaías Samakuva (IS).

Em seu entender só JES pode falar para a Nação, o que a ser verdade seria de facto uma limitação que poria em causa os fundamentos do próprio Estado Democrático de Direito.  O que é verdade é que só JES, enquanto Presidente da República, tem a obrigação expressa (que não é facultativa nem opcional) na abertura do ano parlamentar de dirigir na Assembleia Nacional uma mensagem sobre o Estado da Nação”.

Importa aqui precisar que IS não fez nenhum discurso sobre o “Estado da Nação”, tendo apresentado o que ele considerou ser, no âmbito dos direitos da Oposição, uma “ Réplica do Presidente da UNITA ao discurso pronunciado por Sua Excia, José Eduardo dos Santos no Acto de Investidura como Presidente da República de Angola”.

Dito isto e para concluir, devo sublinhar, que pela primeira vez BK, por mérito próprio, conseguiu reter a minha atenção, enquanto observador da vida política angolana.

As declarações políticas não fazem jurisprudência, mas na ausência do debate político contraditório, a opinião pública pode confundir o gato com a lebre, pelo que uma das funções dos médias e dos jornalistas em nome do interesse público é contribuir para a elevação do nível da consciência jurídica da população e da educação cívica dos cidadãos.