Lisboa - Está a aflorar-se dentro do MPLA, episódios em que o seu líder, José Eduardo dos Santos é frontalmente criticado (e à frente de outros militantes) em virtude dos seus considerados métodos autocráticos de liderança. No passado, os debates internos eram marcados pelo silêncio por efeito de reservas ou receios dos participantes virem a ser conotados como estando em desacordo ao pensamento do líder.
Fonte: Club-k.net
Dirigente exigiu mais respeito a sua pessoa
Recentemente, numa reunião do Comité Central do MPLA, logo após a indicação dos nomes para ocuparem os distintos ministérios, Ângela Bragança, uma “histórica” do MPLA “afrontou” José Eduardo dos Santos. A dirigente, que ficou fora da lista de deputados do MPLA para a Assembléia Nacional, cobrou indirectamente mais respeito de José Eduardo dos Santos aos militantes como ela, com história e obra no partido. A “cobrança” de Ângela Bragança deveu-se ao facto de ela não ter sido comunicada em tempo útil que não continuaria no Parlamento e nem teria pasta nenhuma no governo, algo que ela disse ter sabido em primeira mão por um indivíduo da oposição.
O pensamento que Ângela Bragança deixou transparecer no referido conclave é que carecia de uma informação atempada e oficial de que o partido não mais contaria com ela para que pudesse tocar a sua vida de outra maneira. De resto, após tantos anos de dedicação ao MPLA jamais deveria ser descartado do modo como queriam fazer com ela. Logo, a seguir, na primeira semana de Outubro, Bragança foi “encaixada” a última hora e às pressas no cargo de Secretária de Estado das Relações Exteriores, em substituição da então Vice-ministra Exalgina Gamboa que voltou para o Parlamento.
De acordo com registros, a primeira vez que José Eduardo dos Santos tinha sido “afrontado” numa reunião do Comité Central do MPLA, por uma senhora foi há sensivelmente uma década. A autora da “afronta” foi Irene da Silva Neto, filha do primeiro presidente de Angola, que então acusou o sucessor de seu pai de dirigir o país como Bokassa I, o “imperador” centro-africano. Pouco anos depois, em Janeiro de 2005, Irene Neto também foi nomeada vice-ministra das Relações Exteriores.
O afrontamento mais mediático sobre JES dentro do MPLA, nos últimos tempos, aconteceu a 10 de Fevereiro de 2012, a margem de uma reunião do Comitê Central. O protagonista foi o histórico dirigente e actual embaixador na Tanzânia, Ambrósio Lokoki, que o criticou, sobre o distanciamento entre o MPLA e as massas tendo lamentado que os problemas do povo não estavam a ser resolvidos. Lamentou escreveu inúmeras vezes ao presidente para transmitir os problemas, mas - em contrapartida - nunca teve nem sequer uma resposta.
Ambrosio Lukoki que já foi membro do Bureau Político no tempo de Agostinho Neto tem se notabilizado pela frontalidade aos assuntos tidos como tabus. Há cerca de quatro anos atrás, numa reunião preparatória para as eleições de 2008, questionou sobre a problemática de sucessão presidencial. Tomou a palavra para questionar se “no partido já não havia outros candidatos”.