Benguela - No passado dia 3 de Dezembro deste ano, o mundo celebrou o dia dos deficientes físicos. No Brasil a presidente Dilma Rousseff foi vaiada na cerimonia ao ter dito portador de deficiência. Há quem entenda que portador possui uma carga discriminatória e pejorativa. Por isso defendem suavemente que deve ser “pessoas com deficiência”. Para mim tanto faz.

Fonte: Club-k.net

Em Angola não faltaram actividades, debates e entrevistas em prol da data. Tal como acontece no dia 1 de Dezembro de cada ano. Uma elite de defensores dos valores mais sagrados universais faz o seu teatro. As lamentações por parte dos guardiões dos deficientes físicos e por outro lado um mar de pequenas intenções e algumas realizações pintaram a data. Publicitam solidariedade entrega de bens como motorizadas para fazer táxi e cadeiras de rodas aos deficientes. Estes por sua vez laconicamente agradecem “ muito obrigado ao…”. Sob cobertura de organizações e instituições que dizem serem seus advogados. Humilhação!

Essas aparentes ajudas transportam uma verdadeira humilhação! Primeiramente se a pessoa é deficiente físico deve ser-lhe “explorada” o seu intelecto e outras oportunidades mais agradáveis para sua socialização. Há ainda a falta de auto-estima por parte da grande maioria de nós e o olhar com piedade, mendicidade e desvalor da sociedade. As pessoas que supostamente não são deficientes esquecem-se que também o são. Afinal o homem não é perfeito! A continuar assim todos os dias 3 de Dezembro assistiremos sempre igual filme. Tudo na nossa óptica é meramente fictícia. Dizia abertamente o meu colega” Isto tudo é uma máfia!

Cá entre nós temos a mania de brincar aos problemas. E vamos enumerar alguns. Os homens do campo, que têm no cultivo o seu pão. Quando há seca passam por momentos difíceis. A fome é o principal aliado dos pequenos camponeses. Muitos não sabem o quão a terra têm salvado as suas vidas e nem sequer imaginam como eles sobrevivem. Aparecem os "oportunistas"  desde governantes e a alguma sociedade civil para fazer doações.

A solidariedade não se compadece com exposição radiofónica ou televisiva.

Todas as datas celebrativas, feriados e falecimentos têm sido os grandes momentos para reaparecerem os ditos solidários. Eventos, festas e discursos de dó “amenizam” as situações. O cantor falecido Nito Nunes padecia de uma doença que não o permitia continuar a viver num edifício de quatro andares e viveu as horas mais amargas da sua vida em casa da filha de um quarto e sala. Disse ele um dia numa entrevista a RNA. Contudo quando morreu vimos o que vimos.

Exemplos da fuga a responsabilidade social do Estado é gritante e crónica . Arrastou-se as até famílias angolanas. A imprensa devia ser mais atrevida, acompanhar e redescobrir os nomes que nas diferentes frentes como politica, no desporto, na música e não só deram o seu sangue para contribuição do País. E não esperar morrer para informar. Em outras galáxias estar hospitalizado é noticia de primeira página. Se o presidente passar mal a noite ou outra pessoa com notoriedade o mundo passa a saber segundo a segundo. Parece que se preparam os cidadãos se o pior acontecer ! Cá entre nós  é só esperar morrer. Tornando-se de repente conversa de a hora a hora. Um dia vocês vão matar pessoas ao noticiar!

Para pior as minhas humilhações, a porta da voz da Assembleia Nacional Emília Carlota dias, disse que os deputados estão (estarão) de férias e regressarão em 2012.Nada de mal! O Orçamento Geral do Estado (O.G.E) para 2013 não foi aprovado. Essa “pausa de repouso” aos parlamentares é absurda. Quebra todos os conhecimentos legais sobre o O.G.E. Principalmente o principio da Anualidade e Executoriedade que inicia dia 1 Janeiro de cada ano. Outrossim pode fazer crer que na política não há seriedade. “ Aos filhos a pátria não manda ordena”. Linguagem militar. Porque que os parlamentares vão às compras? Não estamos a dizer que não pode repousar, fariam nos dias 24 e 25 de Dezembro, 31 e 1 de Janeiro. E não quase um mês.

Essa viagem curta aos nossos comportamentos de humilhações. Lembra-me a deficiência física na minha perna esquerda. Apesar de todo o sacrifício que a minha mãe fez (eu quando era miúdo usa botas e ferros e os meus amigos de infância sabem disso), a única coisa que consegui é andar sem apoio de alguém ou de qualquer objecto. A minha perna é irreversível. Isto para dizer que essas solidariedades e essas politicas salvo algum milagre tornar-se-ão assim…