Luanda  - Provém de uma família de 13 irmãos, onde na infância, por ser muito traquino, foi “apertado” rigidamente pelo pai. Agora, Murthala Fançony Bravo de Oliveira, ou Dog Murras, é um dos cantores angolanos de maior sucesso. O seu trabalho é conhecido internacionalmente.


*Chissano Guimarães e Jandira Miranda
Fonte: O País/Vida 15 de Novembro de 2010


Além de músico, Dog é empresário. “Murras Staff Organização de Eventos, Espectáculos e Estúdio de Gravação Limitada”, a “Dog Investimentos” e a “Murras Power” são três dos seus investimentos nesta área. Descobrimos mais uma faceta do cantor: ele agora também tem investido no seu talento em artes plásticas.


Em Outubro de 2010, apresentou o seu mais recente álbum ao mercado angolano. Angolanidade é o título do disco, que comporta 12 temas em diferentes géneros musicais. Conversámos com Dog Murras, em sua casa, num ambiente descontraído e animado, onde o músico contou-nos suas memórias e planos futuros.


Foi na África do Sul, onde viveu durante dois anos, que Dog Murras começou a aprimorar a sua paixão pela música. Em 1995, levado por uma forte vontade de compor e cantar, subiu ao palco da discoteca The Flava, em Joanesburgo para conquistar o terceiro lugar de um concurso de raggamuffin (género de música electrónica surgido através de influências do dancehall, na Jamaica, em meados dos anos 80).


Algum tempo depois, Eduardo Paim predispôs-se a ajudá-lo. “Ele estava de viagem à África do Sul e quando fomos apresentados ele ficou maravilhado pelo meu talento, principalmente porque eu já era conhecido no estrangeiro. Então, ele prontificou-se em ajudar-me em Luanda, já que no seu projecto constava a abertura de um estúdio de gravação, no Kassenda”, relembra.


A participação no projecto Pomba Branca, com a música “Don’t Know”, um dos principais temas da obra, foi um dos primeiros marcos da carreira de Dog Murras. Depois só vieram mais e mais sucessos, como “Aqui tass”, “Difa Uuh”, “Viver” e claro “a Carta do Servente”, tema onde todos os componentes rítmicos e vocais, condimentaram a instrumentalização obrigando o cantor a apelidar de género kazukuta e não kuduro.


O músico tem conciliado funções. É sócio-proprietário de três investimentos e faz questão de frisar: “Eu continuo a olhar para mim como um empreendedor, e faço negócios desde a tenra idade, mas me formalizei como pequeno empresário desde o momento que abri legalmente a empresa “Murras Staff Org. Eventos,


Espectáculos e Estúdio de Gravação Limitada” em 2005, e dei sequência com a “Dog Investimentos Lda.”, em 2007”. Uma das suas empresas é especializada no tratamento de piscinas. “Angola é um dos países que regista a maior taxa de crescimento económico do planeta. Eu pretendo estar por dentro desse desenvolvimento, ter acesso a esses recursos, e com foco e execução investir no meu país, gerar empregos e dar oportunidades de crescimento a milhares de jovens que procuram um lugar ao sol”, explicou-nos.


Uma das características de Dog Murras e do seu staff é o vestuário, “tipicamente angolano”, onde têm realce as cores da bandeira nacional: vermelho, amarelo e preto. Para tal, o músico criou mais uma empresa. “A “Murraspower” surgiu mais como uma visão de estratégia comercial. Eu sempre me apresentei com as vestes da bandeira nacional, para mim a bandeira mais linda do mundo, e as pessoas que assistiam aos meus shows, principalmente no exterior do país sempre me pediram que pensasse neles também. Uni simplesmente o útil ao agradável. Agora deixei de vender em Angola e passarei a vender, dentro em breve, no Brasil e logo em seguida em Portugal. Tudo com a minha assinatura, mais uma vitória para o meu palmarés”, esclareceu o cantor.


Conhecido também pelas suas letras polémicas onde, sem receio, aborda questões encaradas ainda com certo tabu na nossa sociedade, Dog Murras explica: “Eu caracterizo-me como um músico de intervenção social. Eu sigo sempre as palavras inspiradoras do nosso grande herói, poeta e visionário, Agostinho Neto. As minhas letras são antes de mais as expressões vivas das aspirações dos oprimidos, uso a minha música como arma para denunciar opressores e instrumento para a reconstrução de uma nova vida”.


Durante a entrevista, descobrimos a paixão de Dog Murras pelas artes plásticas, “No meu íntimo, a sensibilidade continua apurada, mas meu exterior hoje só quer pintar retratos cantados. Deve haver uma explicação que nem mesmo eu consigo dizer…”, disse o cantor.


Foi para o Brasil, pela primeira vez, em 2005 pela Maianga Produções, de Sérgio Guerra, em parceria com Tani Narciso, na época adido cultural da Embaixada de Angola na República Federativa do Brasil, e da casa de Angola na Bahia, dirigida pelo músico angolano Carlos Nascimento. “Encantei-me ao ver as raízes culturais africanas mantidas como símbolo de luta pela emancipação de um povo. Adorei perceber que a musicalidade, a dança e a energia de um povo oriundo de África, com contribuição directa de Angola, conquistou uma parte do Brasil”, relembra. O músico participou de vários shows de músicos brasileiros, entre os quais, Carlinhos Brown, Timbalada, Psirico e outros mais. “Sei que sou muito querido por lá e que o povo brasileiro, principalmente o baiano, gosta da música angolana”, frisou. Actualmente está a concluir a sua formação em gestão de empresas, numa das universidades brasileiras: “se tudo der certo, este ano completo a minha formação”.


O músico, que tem o seu espectáculo “The Power”em 2007 -primeiro show da sua carreira- como seu favorito, acaba de lançar mais um álbum. Angolanidade já é um sucesso de crítica. Conta com a participação de Noite e Dia, Beto de Almeida, Matias Damásio, Yuri da Cunha, e muitos mais. “Para mim este trabalho mostra muito do que fiz até então. Abordo vários estilos musicais, onde tento mostrar a variedade da nossa música.


Tem sido já um sucesso e não vejo a hora de apresentar o meu novo show… Será espectacular!”, concluiu.