Luanda - A comandante da polícia nacional na província de Luanda, comissária chefe Elisabeth Ranque Frank, ameaçou na última terça-feira, 29, processar criminalmente “por difamação” a associação Mãos Livres, liderado por Salvador Freire, por ter denunciado publicamente a chacina de sete jovens ocorrido em Dezembro do ano transacto, nos arredores do Eco-Campos, no município de Cacuaco, em Luanda.

Fonte: Club-k.net

Na ocasião a comandante provincial da polícia negou (de pés juntos) que na sua corporação não existe, teoricamente, o “esquadrão da morte”. Mas admitiu – em linguagem miúda – que os seus efectivos “só matam” consoante a lei em vigor na República de Angola. Curiosamente a lei (que a Tia Bety evocou) não consta na Constituição aprovada maioritariamente pelos deputados do MPLA, em 2010.

“As forças da ordem cumprem com as normas e procedimentos das atribuições a si incumbidas”, justificava a mesma sem papas na língua.

Sem mais demora, o Club-K publica na íntegra a nota de imprensa da associação Mãos Livres (distribuído neste quinta-feira, 31), reagindo as ameaças da comandante Bety.

NOTA DE IMPRENSA

A associação Mãos Livres tomou conhecimento via comunicação social de uma conferência de imprensa realizada dia 29 de Janeiro, pelo Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional.

A exposição feita pela Comandante Provincial da Polícia, para a associação Mãos Livres, apenas tratou de limpar a imagem da sua instituição e não esclarecer os factos como ocorreram.

1 – As CONTRADIÇÕES DA COMANDANTE

Disse a Comandante que os jovens estavam a ser perseguidos na via expresso Cacuaco - Viana, por agentes da polícia nacional, chamados a intervir mediante um telefonema de cidadãos.

1 - Se a polícia estava em perseguição dos ditos “ meliantes”, onde é que os prendeu?

2
- Se os ditos meliantes estavam a ser perseguidos pela polícia e estando de motorizada que tempo teriam durante a perseguição para assaltarem uma viatura Rav4?

3 - Se a perseguição foi feita na via expressa, como os corpos baleados, conforme mostram as fotos foram encontrados na área do Eco-campo?

4 - Se os ditos meliantes foram alvejados por um presumível militar, então, este, está identificado. De quem se trata?

5 - Se o presumível militar alvejou mortalmente um dos jovens, então, há um crime de homicídio. Aonde foi aberto o processo e qual é o número do registo.

6 - Se um dos jovens baleado e morto está algemado quem o algemou? Ou os populares também  fazem uso e porte de algemas?!...

2. A EXPERIÊNCIA

- No caso Simão Roberto, a polícia apresentou 3 jovens como tendo sido os autores da morte daquele jornalista. Após a intervenção da Associação Mãos Livres, que garantiu a defesa dos ditos criminosos foi possível concluir:

a)
Os jovens aceitaram o cometimento do crime porque um deles havia sido morto no mercado Roque Santeiro, o segundo morreu na cadeia e o terceiro foi absolvido pelo tribunal.

b)
Neste processo, oficial da polícia chamado a depor nos autos e durante o julgamento foi peremptório em dizer que tudo que relatou na instrução o fez por ordens superiores, isto é, não condizia com a verdade.

2
- No caso frescura, a polícia jurou “de pés juntos” que tinha sido rixa de um grupo de marginais, quando na verdade, foram agentes da polícia que, sem dó nem clemência, assassinaram brutalmente os jovens que se encontravam em conversa amena.

3
- Casos de agentes chamados de “baixa visibilidade” hoje dúvidas não existem e porque provas não faltam de agentes da polícia que operam em Cacuaco que usam viaturas “ não caracterizadas”, a paisana e armados perseguem e prendem cidadãos sem nenhum mandado judicial.

A associação Mãos Livres, não se deixa intimidar com ameaças de processos judiciais.  Pois, na sua vocação, no seu comprometimento com os Direitos Humano o obriga a assumir os riscos, que são normais em países como nosso.

Associação Mãos Livres continuará  a exigir um inquérito independente dos factos ocorridos em Cacuaco e não se calará até que a verdade venha ao público.

Associação Mãos Livres vai exigir da Procuradoria Geral da República que sejam protegidas as testemunhas do presente caso. Pois, exemplos existem de indivíduos de que se solicitou protecção acabaram mortos.

Associação Mãos Livres continuará a sua luta contra impunidade.

Luanda, 31 de Janeiro de 2013

O Presidente
Dr. Salvador Freire dos Santos