Luanda – Um padre lançou uma campanha de ajuda para combater a fome no município dos Gambos, província da Huíla, onde existirão cerca de 155 mil pessoas em risco. O padre Pio Wacussanga, pároco de Nossa Senhora de Fátima do Chiange, em Gambos, disse que aquela zona de Angola atravessa desde 2008 "efeitos da estiagem prolongada".

Fonte: Lusa
"Os que se dedicam à agricultura já não têm nada para comer, pois consumiram as sementes que tinham para plantar, e os que se dedicam à pastorícia, que viviam da troca de animais por alimentos produzidos pelos agricultores, também não têm nada porque ninguém lhes dá nada em troca dos animais", explicou.

A campanha, denominada "Mão na Mão - Contra a fome os Gambos", foi lançada na sexta-feira e o padre Pio Wacussanga aceita donativos em géneros alimentícios e em dinheiro, com a garantia de registo de todas as doações.

"Toda a ajuda é bem-vinda. Cada um à sua maneira, pode contribuir", salientou o pároco, que deu como exemplo especialistas angolanos que se disponibilizaram a ir a Gambos ensinar técnicas de recolha dos aquíferos subterrâneos na região. "Gambo tem muita água no subsolo que podia ser usada ela população para não depender das chuvas, e isso não está a ser feito por falta de meios e planeamento", acrescentou.

Depois da forte seca registada em 2008 e 2009, Gambos foi apanhada em 2010 por chuvas fortes, que formaram enxurradas que destruíram parte significativas das culturas, e em 2011 e 2012 a irregularidade pluviométrica não ajudou a garantir as colheitas.

Quanto a apoios institucionais, o padre Pio Wacussanga reconhece que o Ministério da Agricultura, que já declarou aberta a campanha agrícola, tem ajudado no que pode, mas salienta que a situação de seca que atinge 10 das 18 províncias do país resulta na dispersão de apoios. "Tendo em conta a imensidão da crise, o Estado não tem condições para a resolver sozinho. Tem que haver articulação", defendeu.

Em Novembro passado, a Federação Internacional da Cruz Vermelha (IFRC) lançou um apelo internacional para ajudar a combater a situação de seca em Angola, que então afectava cerca de 1,8 milhões de pessoas em 10 das 18 províncias.

Segundo IFRC, a falta de ajuda internacional poderá ter efeitos devastadores se não for garantida ajuda de emergência. "As necessidades são enormes e aumentam especialmente no período de maior escassez de alimentos - entre Novembro e Março. Até agora a resposta da comunidade internacional tem sido fraca. As eleições gerais realizadas em Agosto desviaram a atenção da crise de segurança alimentar", salientou então a IFRC.

A época agrícola de 2011-2012 em Angola foi marcada pela acentuada diminuição de chuvas, cerca de 60 por cento quando se compara com anos normais, de que resultaram as actuais condições de seca. As 10 províncias mais afectadas são Bengo, Benguela, Bié, Kwanza Sul, Cunene, Huambo, Huíla, Moxico, Namibe e Zaire.