Luanda – Assinalou-se nesta sexta-feira, 22 de Fevereiro, o 11º aniversário da morte do líder fundador do maior partido da oposição angolana, o nacionalista Jonas Malheiro Savimbi, morto por forças governamentais em 2002, na região de Lucusse, província do Moxico. A UNITA tem estado a levar a cabo, desde o passado dia 16, uma série de palestras onde o tema de abordagem é Jonas Savimbi.

Fonte: Club-k.net

Este portal pública na íntegra o discurso proferido nesta última sexta-feira, pelo presidente da UNITA, Isaías Samakuva, no encerramento da cerimónia da celebração do XI aniversário de JS:

Minhas senhoras e meus senhores:

O dia 22 de Fevereiro será sempre um dia histórico para Angola. Um dia em torno do qual a geração actual terá recordações e sentimentos distintos, mas as novas gerações terão apenas uma convicção: é o dia em que tombou com dignidade, um grande combatente e defensor da nacionalidade angolana, o doutor Jonas Malheiro Savimbi.

Savimbi era um visionário, que cedo se apercebeu que a garantia da independência de Angola reside na capacidade do seu povo ser realmente soberano na sua própria terra e que se o angolano se desenvolvesse ao ponto de se afirmar com dignidade igual perante outros povos, seria capaz de utilizar as riquezas de Angola para comprar o bem-estar dos angolanos.

Daí o seu esforço em educar e mobilizar o povo para a sua própria libertação e afirmação.

Dizia o Presidente Jonas Savimbi: “Quando saímos da UPA, em 1964, tínhamos uma ideia. A nossa diferença maior em relação aos outros movimentos baseava-se no facto de os dirigentes do MPLA e da FNLA não aceitarem entrar nas matas e correrem os mesmos riscos que os soldados, que os seus militantes. Pensamos que isto estava errado. Olhando para o exemplo dos outros povos que combateram em África, na Ásia e na América Latina, os movimentos que lutaram com sucesso foram aqueles que tiveram os dirigentes junto do povo e dos soldados. Então pensamos que era possível a UNITA tentar essa experiencia. É uma posição fundamental os dirigentes estarem no interior do país e partilharem com os soldados e o povo o sofrimento, a insegurança, a incerteza, mas também a esperança. É uma posição ideológica”.

Hoje, quase meio século depois, estas palavras continuam a distinguir o comportamento dos dirigentes da UNITA dos dirigentes do MPLA. O MPLA assumiu o poder que é do povo, mas governa contra o povo. Os seus dirigentes não se misturam com o povo. Partem as casas do povo, sem indemnização. Não se tratam nos hospitais do povo. Os seus filhos não estudam nas escolas onde o povo estuda. Não investem nas pessoas do povo. Preferem ir buscar estrangeiros, dar oportunidades a estrangeiros para impedir o progresso do povo angolano.  

É aí que reside a grande diferença entre o governo actual, do MPLA, e o governo que virá a seguir, o governo da UNITA. O governante do MPLA espera pelas pessoas. O governante da UNITA irá ao encontro das pessoas, lá onde elas sofrem. O governante do MPLA aposta primeiro no estrangeiro e depois no angolano. A UNITA aposta primeiro no angolano, segundo no angolano, terceiro no angolano, no angolano sempre!

Ainda agora, olhando para o orçamento aprovado, verificamos que  O MPLA utiliza a maior parte do dinheiro do Estado para proteger o regime contra a soberania do povo. A UNITA vai utilizar a maior parte do dinheiro do Estado para elevar a qualidade de vida do povo, promover a sua dignidade humana e assim, proteger o soberania do povo. Porque o povo só será realmente soberano se o Estado investir seriamente  na educação mais do que investe na defesa. E se a eliminação da pobreza, da falta de água potável e das endemias forem considerados ameaças à segurança nacional.

O MPLA centraliza o poder numa só pessoa e centraliza os investimentos públicos, os empregos e a riqueza, numa só cidade. A UNITA vai descentralizar o poder e dividir o dinheiro entre o Estado e as instituições do Poder local. Entre Luanda e as outras provinciais.

Angola é grande. Tem muitas terras belas para se construir lindos empreendimentos. Se investirmos no interior, no campo, as grandes cidades irão beneficiar, porque as pessoas irão lá onde estiver a riqueza e o bem-estar.

Este é o projecto de Jonas Savimbi. Viver com o povo. Governar para o povo. Dividir o dinheiro para desenvolver harmoniosamente o território. Canalizar os investimentos para o interior, para beneficiar as cidades, aliviando o tráfego, reduzindo as sobrecargas nas redes de saneamento, nas redes eléctricas e nas redes de água.

Minhas senhoras e meus senhores,

Há no MPLA uma facção constituída por pessoas que  se consideram superiores a todos os angolanos e afirmam-se como “únicos e legítimos representantes de todo o povo angolano” com o direito exclusivo de “dirigir o Estado e a sociedade angolana”. Andaram e andam a incutir nas mentes dos angolanos e não só, que o causador da guerra e da miséria que aflige os angolanos, foi Jonas Malheiro Savimbi.

Foi este sentimento hegemónico que levou o MPLA a dividir-se em três facções, ainda antes de 1975 e levou Angola a nascer sob o signo do partido único ou Partido-Estado. Eles acham que são os únicos que pensam, os únicos que sabem. Quando os outros diziam que o melhor sistema político é a democracia representativa e participativa; que o melhor sistema económico é o do mercado livre; eles teimavam que o melhor sistema político era a ditadura do proletariado e na economia o melhor era o sistema de economia centralizada.

Este sentimento não admite que outros angolanos governem Angola. Aliás, foi este sentimento forte de hegemonia política e económica aliada ao sentimento de superioridade cultural, que levou o MPLA a romper com os Acordos do Alvor e governar sem mandato do povo, mesmo com fraudes. Esta hegemonia, esta exclusão é que causou a guerra. E não Jonas Savimbi.

Esta verdade que o mundo testemunhou e testemunha, tem de ser dita aos mais novos, para que não sejam mais enganados.

O MPLA não aceitou a democracia por vontade própria. Foi forçado. Não se comprometeu com a paz e a reconciliação nacional por vontade própria. Foi forçado. Não advoga a boa governação por vontade própria. Foi forçado. E quem o forçou tem um nome: Jonas Malheiro Savimbi.

Honrar a memória de Jonas Savimbi hoje, é pois, honrar o nosso compromisso com a Paz e com a Reconciliação nacional; é promover a consagração do Poder Local, que compreende as autarquias, o poder tradicional e outras formas de organização social, que os Senhores Deputados à Assembleia Nacional deverão discutir e aprovar, em nome do povo.

Honrar a memória de Jonas Savimbi hoje, é promover a unidade de todos os angolanos para acabar com a hegemonia e resgatar a Pátria, com o objectivo de se instaurar de facto a democracia e o Estado de direito em Angola.

Jonas Savimbi ensinou-nos que os regimes autoritários não se reformam, não se libertam eles mesmos para a democracia. Em geral, eles chegam ao seu termo com o desaparecimento do monarca ou do sultão. Ou ainda por acção popular. É por isso que quanto mais o regime tenta desrespeitar e vilipendiar o nome e a obra do Dr. Savimbi, mais o povo canta o seu nome, lê e escuta os seus discursos e procura a sua voz. 

Naturalmente que como todos os homens que fizeram a História, o Dr. Savimbi não era perfeito. Junto com os seus feitos, terá tido os seus defeitos. Mas, assim como Churchill, Napoleão Bonaparte, George Washington, Che Guevara, Fidel Castro, e outros nomes da História, os seus descendentes não se ocupam apenas de propalar os seus defeitos.

O valor dos homens históricos reside exactamente naquilo que fizeram de positivo para os seus povos e para a humanidade numa determinada época. A sua visão para mudar o curso da história, a sua coragem para enfrentar desafios monstruosos, a sua abnegação para dedicar toda uma vida pela causa do seu povo. E nisso, Angola estará eternamente grata ao Dr. Jonas Malheiro Savimbi.

O povo hoje procura a UNITA, não é só a UNITA que procura o povo. O povo hoje despertou e reencarnou o Dr. Savimbi. O sentimento de revolta, de indignação contra a injustiça, que dominava o Dr. Savimbi, hoje domina o espírito da grande maioria dos angolanos, em particular da sua juventude.

O mesmo espírito que levou o Dr. Savimbi a sair do estrangeiro e juntar-se ao povo, no interior, para lutar pela defesa dos direitos do povo, é o mesmo espírito que hoje nos anima para marchar à frente do povo, na defesa dos seus direitos humanos constitucionalmente protegidos.

Foi com este espírito que a UNITA dirigiu as manifestações no ano passado, e é com este espírito que a UNITA irá dirigir as próximas manifestações para a defesa dos direitos dos angolanos.

Foi com esta coragem e tenacidade que a UNITA trouxe para Angola e para os angolanos a democracia, a liberdade económica, as Forças Armadas Angolanas e alguma liberdade política. O regime ditatorial, porém, não foi desmantelado. As suas estruturas e principalmente a sua cultura monolítica permaneceram.

Depois da morte do Dr. Savimbi, o regime regrediu. A corrupção tomou conta do Estado, ao invês do Estado tomar conta da corrupção. No lugar da descentralização, houve mais centralização do poder. Em vez do estado de direito, as violações à Constituição e à lei tornaram-se mais descaradas!

Minhas senhoras e meus senhores:

Angola precisa de se unir para a mudança. A mudança que defendemos não se limita à mudança na política. É urgente e indispensável uma mudança social e cultural, que proteja a juventude angolana da desagregação moral, fomentada pela exacerbação dos valores e estímulos produzidos por uma sociedade urbana e consumista.

Já se difundem entre nós valores que promovem o poder a qualquer preço, a riqueza a qualquer custo, o prazer a qualquer momento e a ostentação da riqueza material e do luxo como marcas de superioridade. São falsos valores que, grande parte da elite política e econômica angolana transmite para os mais jovens, como seu exemplo de vida.

A mudança hoje é uma questão de emergência nacional, uma prioridade absoluta, para a qual convido todos os filhos de Angola a reflectir e a convergir.

Jonas Savimbi foi o símbolo da resistência destemida contra a hegemonia do MPLA e a sua UNITA seja o símbolo da mudança, o estuário das forças democráticas da mudança, a protectora do povo.

Se antes da sua morte, o espírito de Jonas Malheiro Savimbi galvanizou muitos de seguidores, hoje galvaniza muito mais.

Se antes da sua morte, o espírito de Jonas Savimbi mobilizava maioritariamente camponeses e alguns intelectuais para galgar montanhas e atravessar rios em busca da liberdade, hoje, o espírito de Savimbi, mobiliza intelectuais de todas as origens, mobiliza a juventude urbana, empresários, políticos e funcionários públicos, em todos os lugares.

Se antes da sua morte, Jonas Savimbi tinha apenas os soldados das FALA, hoje tem os soldados da democracia e os soldados da justiça social que estão em todos os órgãos do Estado, civis e militares.

É meu desejo marcar este dia 22 de Fevereiro de 2013, com um apelo solene a todos os angolanos para a unidade nacional. Unidade no pensamento, para identificarmos a prioridade nacional. Unidade na acção, para colocarmos o interesse nacional acima do interesse de grupo e trazermos a paz social e a justiça para todos os filhos de Angola.

Apelo em particular aos antigos adversários de Jonas Savimbi e da UNITA. O Dr. Savimbi morreu, mas a vida da maioria dos angolanos piorou, não melhorou. Então, quem é que não quer o bem-estar para os angolanos?

O Dr. Savimbi morreu, mas a soberania nacional está cada vez mais ameaçada. O angolano não tem terra, não tem emprego, não tem futuro. Não manda na sua própria terra. Então, quem é que coloca em perigo a soberania nacional?

O Dr. Savimbi morreu, mas os problemas aumentaram. Não havia dinheiro para a educação, para a saúde e para a habitação, porque tudo ia para o exército. A guerra acabou há onze anos, mas os problemas na educação continuam. Então, onde é que está a ir o dinheiro?

Apelo principalmente aos meus compatriotas dos órgãos defesa e segurança a compreenderem que o Dr. Savimbi não era vosso inimigo. Era vosso irmão. Como tenho dito repetidas vezes, do conflito passado, culpados somos todos, responsáveis somos todos, vítimas somos todos.

Agora, no presente, os culpados não somos todos. Os responsáveis pela má governação também não somos todos. Mas as vítimas somos todos. Todos sofremos os resultados da falta de água, da educação de má qualidade, da corrupção que encarece os preços. Todos sentimos que o sofrimento imposto à maioria não é justo. Todos queremos mudar a situação.

Então, vamos dialogar! Vamos construir a unidade para mudança! Uma mudança pacífica, mas decisiva! Sem medo! Com o espírito de Jonas Malheiro Savimbi! Porque o espírito de Savimbi não morre!

Muito obrigado.