Luanda  - Quando, a 19 de Janeiro de 2007, ocorreu o acidente aéreo que vitimou mortalmente o empresário Valentim Amões, vários analistas se questionaram, na altura, se o grupo empresarial por si edificado iria sobreviver à sua morte.

Fonte: SA

Grupo Valentim Amões

Em vida, o empresário não previu, certamente, que o seu desaparecimento físico causaria um dia tantos dissabores, ambições e ódios entre os seus numerosos filhos. Ele, que se tornara dirigente do MPLA, era líder de um grupo económico de sucesso, que se estendia da construção civil à hotelaria, passando pelos diamantes, turismo, serviços de rent-a-car, representação de marcas de refrigerantes internacionais, montagem de motorizadas, transportes rodoviários, aviação civil e banca.


Do acervo hereditário há a destacar ainda várias sociedades, unidades fabris, estabelecimentos comerciais, hotéis, imóveis [em Angola, Portugal, África do Sul e Namíbia], terrenos e activos em diversos bancos nacionais e estrangeiros.


Volvidos 6 anos sobre o trágico acontecimento, pelos vistos, o tempo tem dado razão àqueles que manifestaram as suas reservas e os receios quanto à capacidade dos herdeiros fazerem prosperar os múltiplos negócios do Grupo Valentim Amões (GVA).


Embora o GVA, agora liderado por Lídia Amões (na foto), filha primogénita do malogrado empresário, não tenha sucumbido totalmente, ele padece, porém, de uma série de graves «patologias», sobretudo de ordem financeira, que poderão, cedo ou tarde, ditar o seu fim.


Cabeça de casal dos herdeiros de Valetim Amões, que deixou uma vastíssima fortuna avaliada em vários milhões de dólares, Lídia Amões, primeira dos 17 fillhos do malogrado empresário, tem vindo a travar uma longa batalha para a divisão do «bolo» com os irmãos. Ela não é apenas acusada de privilegiar os seus irmãos germanos- 6 no total, em detrimento dos restantes co-herdeiros, mas também de a levar cabo uma gestão danosa e unipessoal dos bens deixados pelo pai.


Para muitos, o mês de Março de 2008 (data a partir da qual Lídia Amões assumiu as rédeas do grupo) marcou o início da derrocada do império empresarial. A provar está o facto de que das mais de uma dezena de empresas do grupo cuja gestão ela passou a assumir a gestão, apenas quatroestarão no activo, nomeadamente a Sociedade de Empreendimentos Fabris de Angola (SEFA), produtora de refrigerantes, no Huambo, a IVECO, concessionária de automóveis, e dois aparthotéis, um em Luanda e outro na cidade-vida.


Fontes do Semanário Angolense dizem que a sobrevivência destas empresas se deve mais aos empréstimos milionários que ela contraiu junto de alguns bancos, usando como moeda de troca a hipoteca dos referidos empreendimentos, e não como resultado da sua capacidade de gestão.


Sustentam as suas acusações no facto dela ter efectuado o «levantamento de avultadas somas monetárias dos cofres de algumas empresas do GVA, a pretexto de cobrir despesas correntes, sem o consentimento dos demais herdeiros».


Acusam-na também de estar a «endividar- se com determinados bancos, sem o consentimento dos demais» e de não ter conseguido justificar, no decurso de uma reunião com os demais coherdeiros, o destino de 26 milhões de dólares resultante de uma dívida paga em tempos pelo Estado ao GVA. ■

Empresas falidas

A «Gira Globo», Lda, o braço aeronáutico do grupo empresarial, foi uma das primeiras a conhecer a falência, num processo de contornos capciosos marcado com a venda de dois aviões de grande porte às Organizações Santos Bikuku, um YL-76 e Antanov-26, amobos de fabrico russo.


Mas a alienação dos bens do grupo, de forma aparentemente ilícita, já que terá sido feita à revelia do Tribunal Provincial de Luanda e dos demais coherdeiros, não se ficou por aqui: outros aviões de menor porte, do tipo Beechcraft, «voaram» também para a companhia Air Jet. Jornalistas do SA deram em tempos com três aviões da defunta «Gira Globo», que se encontravam retidos há vários anos na Namíbia, por falta de pagamento das despesas de manutenção.


Estão por apurar as razões que têm levado o TPL a adiar, aparentemente sem fundamentação consistente, o desfefecho de um processo-crime movido contra Lídia Amões por grande parte dos seus irmãos, devido à venda ilícita da frota da «Gira Globo».


O encerramento há mais de dois anos da fábrica de montagem de motorizadas de marca Yamaha, na capital do Planalto Central, foi mais um sinal negativo da gestão, tida como danosa, de Lídia Amões. Correram informações de que a falta de pagamento aos fornecedores japoneses ditou o fim do contrato.


Dentre as empresas que encerraram as suas portas, avultam ainda a Agência Angolana de Representação e Vendas (AARV) que detinha o monopólio de vendas dos bilhetes com destino à África do Sul, a Marinela Construções, o Movimento Nacional Rodoviário (MNR) e a Tropicana. ■