Lisboa  - Olá! Já estou outra vez em Lisboa, chegado de Barcelona, onde, ao que saberéis, tinha ido tentar tratar da minha saúde, que continua periclitante – estou com problemas sérios de visão. Disse «tentar», porque, escapando da faca, me deram apenas uns «paliativos» para ir usando até Setembro, altura em que terei de regressar para uma palavra final.

Fonte: SA

Entretanto, um primo médico, radicado por cá, disse-me que seria bom ouvir outra opinião abalizada, algo que buscarei na segunda-feira, numa secção da tal de «Cuf», uma clínica bem carinha, ao que explicou, lá pelas bandas da Expo, na Mário Botas, porra, que nome de rua mais esquisito. Se calhar, vai só doer no... bolso, mas tem de ser.


Não sei bem por que razão é que comecei esta crónica em jeito de quem está no facebook, que é o sítio onde muitos de nós, militantes dessa rede social, se calhar, desaconselhadamente, passe alguma enormidade, contam quase tudo da sua vida particular: «Ah, hoje estive aí, fiz cozido, a minha mulher é assada». E depois é só seguir, entra política, sai desporto: «O Manel é um sacana, o Cristiano Ronaldo deu carga, o Messi e tal, viva o Benfica, abaixo o regime, a manifestação é amanhã, vamos lá (mas depois não aparece quase ninguém, nem o convocador), ah, a Margarida me deixou, quero um amor sério, se Deus é bom, o Papa Francisco é melhor, choveu muito em Luanda, é desgraça, o Galo Negro governaria melhor, sem corrupção, é mentira, são todos iguais». Enfim, essas coisas todas, incluindo golpes horrorosos sobre a coitada da gramática, entre outros disparates.


Mas, confesso, não encontrei forma melhor, se bem que cronista que é cronista, como tem de falar de si e do que vê, tenha poucas hipóteses de fugir a isso. A crónica, estando além do jornalismo puro e simples, permite-nos esses «desvaneios» individualizados, queiram desculpar-me por essas teorizações avulsas, coisa que nem é o meu forte. Sou um gajo prático.

Vamos então a isso.


Já estou em Lisboa, chegado de Barcelona. Embora as duas cidades estejam separadas apenas por uma hora e tal de voo, a viagem não foi nada fácil para mim em termos financeiros: fui obrigado a comprar novos bilhetes, porque a alteração de reservas fica mais cara que a compra de outra passagem. Fiquei sem compreender nada de nada. Com a agravante da Tap ter resolvido encarecê-los no percurso Barcelona-Lisboa, em mais do dobro do normal (perto de 500 euros, contra os cento e tais habituais), devido a uma anunciada greve programada para quinta, sexta e sábado da semana passada. Nós (eu e a minha mãe-grande) queriamos viajar no domingo, 24.


«Não me lixem!», disse cá comigo, decidindo experimentar outras coisas, para não me sujeitar a uma autêntica roubalheira anunciada, que já se juntava a outra, relativa ao reembolso das passagens que não utilizaria. O operador do escritório da Tap em Barcelona deu-me um «katá», indicando-me um endereço electrónico como sendo da secção da companhia que trata das devoluções parciais do dinheiro das reservas canceladas do qual até hoje estou à espera da resposta à minha petição. Para falar verdade, já não conto com o cumbu. Ou melhor: já me esqueci dele até.


Ora, recusando sujeitar-me à especulação da companhia lusitana, acabaria por contratar a viagem para Lisboa, via internet, com uma tal de «Vueling», até então completamente desconhecida por mim, onde comprei os dois bilhetes por metade do que a Tap me estava a cobrar. «Vueling?! Porra, agora é que estamos bem paiados, ó mulher», comentei com a minha senhora, sem deixar de pensar no Santos Bikuku e no seu desengonçado e famoso «Antonov» das aventureiras excursões espontâneas, sei lá porquê. Quer dizer, até que sabia: era por alguma cagunfa.


Mas, esta passaria assim que nos apresentamos para o «check-in». Afinal, a «Vueling» era uma das mais importantes companhias espanholas de aviação, com um montão de «airbus» seguríssimos, longe de qualquer dessas«kassabuleiras» da desgraça, como chegara a desconfiar.


Mas, ao contrário da Tap, que nos proporcionou um pacote de «paracuca» e una bebida na ida a Barcelona desde Lisboa, depois de ter anunciado aos passageiros que serviria uma refeição - e nós à espera da «refeição», quando, afinal, ela se resumia ao saquinho de amendoins torrados com mel -, a «Vueling», no regresso, mostrou-se bem mais radical: não ofereceu nem um copo de água. Era tudo a dinheiro.


Mas nesse dia lhes saiu, porque só uns quatro passageiros (nós inclusos) é que pediram alguma coisa: empurrei uma sopa daquelas de pacote, que me fez lembrar as de Seul, que eu e o compadre Didelas confeccionávamos com água quente do lavatório do quarto de banho do hotel. Até soube bem, só que, pouco depois, tive de ir descarregá-la nos fundos do avião, sem apelo nem agravo. Só saía água. Bem feito para mim. Podia muito bem fazer o voo, que é curto, sem comprar coisa alguma, como o grosso dos colegas europeus procedia, mas não resisti à tentação do angolanismo e lá mandei as sopas e duas biritas para constar: 17 euros! Angolano é angolano.


Posto em Lisboa, tratei logo de colocar os pontos nos «iis» e os traços nos «tês», com uma bruta fubada em casa da mana Creuza, com direito a variar entre uns miúdos de boi da pimpa e um peixe frito com molho de tomate e repolho refogado. Caraças, até pensei que estivesse no Éden, que é lá em Malange, doa a quem doer. E não se fala mais nisso, como diria o Luís Fernando. Fique sossegado, avilo, que daqui a dias temos o nosso funge de bacalhau lá no Manel. Convidei também a Ana Margoso e a Amor de Fátima, mas não sei se a Luisinha vai aparecer, além do Kajim, que é membro de pleno direito da confraria. A propósito: aonde é que anda a «camarada secretária-geral» do nosso sindicato? Há tanto trabalho por fazer...
Oh, perdão, quase me perdia nesta conversa do funge. Pois, como ia dizendo, estava com pressa de sair de Barcelona por causa daqueles mambos do pitéu, mas, posto aqui na Lisbon, já estou com saudade da dita, sobretudo em face da inclemência do clima por cá, mais rigoroso que lá por esta altura, onde já fazia algum sol. Na Tuga, o inverno não quer saber da primavera. Temos é de preservar o planeta, senão daqui a pouco estamos todos lixados da vida. A Terra um dia vai xinguilar forte e feio que nenhum Noé nos conseguirá salvar. Quem avisa...


Fora isso, é só política. Isto aqui está quente. A oposição daqui está pior que a do vosso mano Isaías. Quase todo o mundo quer ver o bom do Passos Coelho fora do governo. Tudo o que ele faz é contestado. Na quarta-feira, teve mesmo de se esconder para poder receber em sossego, no Porto, o seu homólogo da Suécia, com quem trataria lá das suas bilateralidades cooperacionais. «Ele é mesmo coelho: está sempre a fugir, que até foge do povo», disse um cidadão cabolas na televisão.


Nesse mesmo dia, estalou a maka dum antigo bófia a quem ele deu emprego na presidência do Conselho de Ministros, por haver coisas mal explicadas em relação à sua demissão da chefia dos serviços. E vai receber um balúrdio de salários em atraso. Os «do só para contrariar daqui» não gostaram nada dessa merda.


No fundo, aqui desancam sobre todos. O senhor Cavaco insurgiu-se contra os bilos interpartidários, dizendo que eles não acrescentam «nem um cêntimo» aos cofres do país e não deixou de levar por este seu assomo. «Vá lá cantar fados para outra freguesia», disse o coiso dum partido aí qualquer. De cá.


E o Sócrates? O Zé acaba de ganhar um espaço televisivo na Rtp, coisa já contestada pela malta do «contra-poder», sob o argumento de que ele o utilizará para «branquear» a sua imagem, visando a reconquista do posto de PM. Como ensaio, saiu do casulo, quarta-feira, para surgir em grande no pequeno écrã, quebrando um silêncio de dois anos ou assim. Falou, falou, falou. Mas, não disse nada, segundo os seus detractores, por só ter lembrado o passado, quando o mais importante era saber das suas ideias sobre o presente e o futuro de Portugal. «Era melhor ficar calado», xinguilou um gajo de Sacavém.