Luanda - NA semAnA pAssAdA a ministra do comércio, Rosa Pacavira, anunciou, no município da Matala, província da Huíla, o lançamento para  breve da figura do “Agente Logístico Rural”.

Fonte: Novo Jornal

Segundo o que nos foi dado a conhecer, trata-se de uma figura que vai estar entre o agente produtor e os mercados, ou seja, vai comprar a produção ao agricultor e levar aos grandes mercados.


Espero que não venha a ser mais uma daquelas iniciativas com grande visibilidade, mas de impacto muito reduzido. Recordo um líder comunitário que tive a oportunidade de conhecer no Cubal. Ele dizia: “Há muita gente fechada  nos seus gabinetes, em Luanda, que insiste determinar o que nós queremos e necessitamos aqui no município, sem nos consultar nem concertar connosco. Por isso muitos programas foram comidos pelo salalé”.


É bem-vinda a intervenção do Estado na comercialização, se esta for capaz de trazer uma maior eficiência e eficácia no funcionamento  dos circuitos de comercialização no meio rural.


Contudo perante experiências vividas com as  anteriores intervenções do Estado que se revelaram ineficazes ou resultaram em fracasso é compreensível que suscite algumas dúvidas. Para mim “agentes” que compram e vendem  mercadorias no meio rural já existem em todas as partes do país onde existe comércio de produtos e “imputes” agrícolas mas não possuem uma denominação tão “pomposa” como sendo  a de “Agente Logístico Rural”, não surgiram da  iniciativa do governo e enfrentam muitos constrangimentos e dificuldades para se articular ao sector formal da economia.


Desde os difíceis tempos da guerra existem  pessoas e instituições que foram acumulando conhecimentos, capacidades e experiências de comercialização no meio rural. Resta-nos saber se estas foram ouvidas, e se na lógica deste programa se podem candidatar a “agentes logísticos rurais” e por esta via obterem algum apoio ou incentivo.


Muitas cooperativas nasceram da necessidade de superação das dificuldades enfrentadas pelos agricultores com a comercialização  de seus produtos. Poderão por esta via as associações e cooperativas, de produtores tornar-se “Agentes Logísticos Rurais” e assumir um maior protagonismo na comercialização  da sua produção e dos “imputes” que necessitam, sem que para tal estejam dependentes de intermediários?


Penso que nos últimos anos, ao nível do comércio rural, fez-se muito pouco para se remodelar o sector e dotar as poucas e débeis instituições que a ele se dedicam, de condições para melhorarem o seu desempenho, e se adequarem aos desafios e exigências do nosso contexto e realidades. Ao invés disso, recostámo-nos  e adormecemos ante a facilidade crescente que  a nossa economia tem vindo a demonstrar para importar produtos que poderíamos produzir e comercializar localmente em grande escala.


É indubitável que o fim da guerra e os investimentos feitos principalmente em infraestruturas rodoviárias, equipamentos, programas  sociais e económicos provocaram mudanças significativas na vida de milhares de homens e mulheres, que fazem da agricultura e do comércio o seu modo de sustento. Mas ninguém minimamente sensato, hoje, pode afirmar com a mesma certeza de antes que as dificuldades relativas à comercialização de produtos agrícolas produzidos em Angola têm os dias contados.


Recordo-me que quando foi lançado o Programa de Reestruturação do Sistema de Logística e Distribuição (PRESILD), onde as autoridades iniciaram a construção de infra--estruturas diversas, entre supermercados, mercados municipais, entrepostos, centros de logística e distribuição, também conhecidos como CLOD, que a tentação de se comprazerem triunfalmente revelou-se irresistível por parte de muitos comentaristas.


Alguns afirmavam que o PRESILD, o fim da guerra, e outras oportunidades de acesso ao crédito visando a produção e o comércio marcavam o “fim da estória” de dificuldades e constrangimentos para os produtores escoarem a sua produção. Afirmava-se mesmo que as nossas lojas, supermercados e outros estabelecimentos comerciais passariam a ser dominados por produtos nacionais, que substituiriam os importados.


Hoje podemos constatar o facto indesmentível de que, apesar dos investimentos feitos, não foram restabelecidos os circuitos logísticos e de distribuição; e é bem pouca a quantidade de produtos produzidos em Angola nas prateleiras dos nossos estabelecimentos comerciais.

Quanto às oportunidades e facilidades de acesso ao crédito para produção e comercialização agrícola, decerto floresceram mas não era bem claro para quê, quem e em que condições.É importante que esta nova iniciativa venha a satisfazer as necessidades e expectativas de milhares de produtores, comerciantes e consumidores que comungam o desejo de ver muito mais produtos Angolanos no mercado nacional. Tal como as boas árvores se vêem pelos seus frutos, os bons programas se vêem pelos seus impactos.

Vamos lá ver quem compra esta ideia.