Luanda  - Os munícipes dos bairros  Uíge, São Pedro da Barra e da Boa Vista, no distrito do Sambizanga, estão agastados com o aumento da criminalidade naquela parcela da capital e acusam o comandante da divisão do distrito, Francisco Notícia, de nada fazer para combater este flagelo.

Fonte: Novo Jornal

Acusam-lhe de não dar conta do recado

A onda de criminalidade que, segundo os moradores, está a avassalar o bairro, tornou-se insuportável.


Elias de Almeida justifica o agravamento da situação com a falta de patrulhamento na zona. “Não sabemos qual é o trabalho que Francisco Notícia faz nesta zona, estamos cansados desta situação e pedimos à comandante de Luanda, Elizabety Ramos Frank, para substituir este homem porque aqui ele não faz nada”, apelou o morador.


O jovem, de 37 anos, lembrou que o Sambizanga já foi um bom lugar para as pessoas viverem. Hoje, os moradores vivem um pesadelo constante. “Não estou a dizer que não havia assaltos, havia sim, mas não como hoje. Os polícias aqui estão mais preocupados com outras coisas, como andar atrás dos taxistas. Parece até que não têm salário. Tudo isso só acontece porque o comandante Notícia não tem autoridade”.


Diogo Dinis, outro morador do distrito, é da mesma opinião no que se refere à substituição do comandante da divisão. “Aqui, em Angola, tudo acontece. Então um homem, que era segundo comandante de Viana, saiu de lá por incompetência e é colocado como comandante da divisão do Sambizanga. Se ele e o seu comandante conseguiram combater o crime em Viana, como é que é colocado como comandante de uma divisão? Só mesmo em Angola é que isso acontece. Ele nem como chefe de uma esquadra serve”, disse a fonte, acrescentando que já é altura da comandante de Luanda pensar na substituição de Notícia no Sambizanga.


Quem partilha a mesma opinião é Costa Joaquim, que disse que um dos netos deixou de frequentar as aulas no período nocturno por causa da criminalidade no bairro. “O meu neto, de 17 anos, deixou a escola por causa dos assaltos que tem sofrido quase todos os dias. A direcção da escola já contactou a divisão do Sambizanga e a resposta que receberam é que muitas vezes não têm meios para ir ao local. Já não sabemos qual é o problema. Nos anos anteriores diziam que não iam lá por causa da falta de energia, agora porque não têm meios. A polícia tem sempre desculpas para tudo”.  O homem, de 58 anos, disse ainda que os moradores do distrito do Sambizanga não sentem a presença da polícia na zona. “Os agentes que às vezes aparecem aqui muitos estão babados e só ficam a pedir dinheiro aos taxistas, em vez de fazerem o seu trabalho. E o comandante da divisão tem conhecimento disto. É muito triste, mas é a polícia que temos”.


Madelena Suzana, moradora do bairro São Pedro da Barra, acrescenta que nos últimos tempos o desespero toma conta de vários munícipes, por causa do sentimento de impunidade que se apodera das pessoas. A mulher confessa que tem receio de apresentar queixa contra os criminosos, porque depois de serem detidos são soltos pela própria polícia. “A polícia é que prende, mas algumas horas depois os detidos são soltos. Estes jovens não são apresentados ao procurador e todos nós sabemos como é que a polícia funciona. Sabemos que a polícia não pode soltar presos, mas é o que tem acontecido”, insiste.


De acordo ainda com a moradora, os munícipes do distrito do Sambizanga perderam a confiança na corporação. “Apresentar queixa acaba por ser um acto de elevado risco. Já não temos confiança na polícia e perdemos a coragem de ir participar porque eles não fazem nada para acabar com isso”, lamenta a mulher, de 41 anos.


Os moradores vão mais longe ao afirmar que o “vício” do dinheiro por parte de alguns agentes de ordem pública da Polícia Nacional que prestam serviço naquelas paragens “tem falado mais alto”. “ Hoje a polícia já ganha bem, não sabemos como é que eles continuam a fazer isso, manchando a própria imagem da corporação. Muito deles deveriam ser expulsos.


Os moradores dão a dimensão da gravidade do fenómeno, ao notar que os assaltos não ocorrem apenas durante o período nocturno. Sucedem-se em pleno dia, com maior incidência durante a tarde. Todas as tentativas de contacto com o comandante da divisão da  Polícia Nacional no distrito do Sambizanga, no sentido de obter uma reacção sobre as queixas dos moradores, foram em vão.