Luanda  - O último encontro do Presidente Russo, Vladimir Putin com o seu homólogo Sul-Africano Jacob Zuma, que teve lugar na cidade russa de Sochi, aos 16 de Maio de 2013, causou uma série de comentários optimistas na mídia Russa e Africana sobre as perspectivas de desenvolvimento das relações bilaterais.

Fonte:Jornal Angolense

O referido encontro, segundo alguns analistas, parece reflectir o interesse Rússia em apostar numa nova "descoberta" da África, visando recuperar pelo menos algumas posições que foram perdidas na região comoonsequência do desmoronamento da União Soviética há cerca de duas décadas.

É claro que, comparando com os projectos dos EUA, de vários países europeus e com a poderosa expansão chinesa, esta "nova entrada" da Rússia em África ainda se apresenta muito tímida, embora a tendência já seja clara para os analistas que seguem de perto estas movimentações.

O que é facto é que os contactos diplomáticos são cada vez mais frequentes e o volume de comércio está a crescer paulatinamente entre a Rússia e os seus parceiros africanos.

O acesso aos recursos africanos há já bastante tempo que deixou de ter qualquer relacionamento com questões ideológicas, sendo cada vez mais notório que o conta agora são os interesses económicos e a reciprocidade de vantagens.
O pragmatismo tem sido a bússola orientadora dos governos nacionais nesta nova etapa, tendo como referência o modelo chinês de desenvolvimento de África, que é tido como sendo o mais competitivo na abordagem dos investimentos na exploração mineira e nos projectos de infra-estrutura.
Esta modalidade chinesa que ignora os problemas éticos e até às vezes os problemas ambientais, na última década possibilitou a China uma entrada triunfal na economia dos países africanos ricos em recursos minerais.

Por muitas razões esta via é inaceitável para a Rússia que ao que consta nos círculos internacionais está a elaborar uma alternativa, com os olhos postos na regulação da industria diamantífera.


Durante o tempo que já passou desde a eliminação do sistema de canal único de organização do mercado de diamantes que funcionava à sombra da De Beers, surgiram novos e complexos desafios que já foram claramente identificados e para os quais hoje ninguém parece ter as respostas mais adequadas.

O primeiro  é a falta de um marketing específico que fez diminuir a presença da produção diamantífera no consumo global de luxo.

O segundo tem a ver com os problemas éticos relacionados com termo "diamantes de sangue" e a interpretação instrumentalizada desta expressão por parte de alguns representantes da Indústria com propósitos menos transparentes.


O terceiro desafio está relacionado com a volatilidade imprevista e descontrolada dos preços de diamantes brutos, que provoca inflação e facilita especulação, complicando assim a vida dos lapidadores e afugentando os investidores.


Conversas sem fim e discussões infrutíferas sobre os tópicos atrás mencionados e sobre uma serie de problemas daí derivados já se arrastam há mais de dez anos.
Isso faz com que às vezes sejam tomadas algumas medidas que parecem ser importantes, mas que no fundo acabam por ser sol de pouca duração, como aconteceu por exemplo em 2009, quando De Beers mandou encerrar a produção no Botswana. Em abono da verdade está-se apenas diante de intervenções pontuais e sem sustentabilidade futura.


Hoje é cada vez mais difícil de ignorar que o mercado mundial de diamantes está carente de um bom mecanismo regulador, capaz de assumir a realização de um marketing genérico, eliminar ou pelo menos reduzir substancialmente a volatilidade dos preços da matéria prima, recuperando assim um crescimento constante e sustentado inerente ao próprio conceito da palavra "diamante", que tem a ver com eternidade. O referido mecanismo podia garantir igualmente a pureza da produção diamantífera em termos éticos mais exigentes.


Actualmente nenhuma empresa de mineração consegue cumprir esta tarefa.
As empresas operam em condições de competitividade, estando o cartel (acordo entre elas) fora de hipótese por razões óbvias. As parcelas do mercado que cada empresa detém não lhes permitem jogar o papel de regulador e muito menos controlar os problemas éticos.


Uma eventual união dos países produtores de diamantes, tais como a Rússia, Botswana, África do Sul e Angola é apontada como sendo  uma boa possibilidade de se encarar com êxito uma discussão sobre a necessidade do estabelecimento e a definição do papel de uma entidade reguladora do sector.


Estes países em conjunto, note-se, detêm um "pacote de controle" da produção mundial de diamantes tanto em termos de volume como em termos do preço.
A produção de diamantes nesses países em grande parte encontra-se sob controle estatal, tendo como efeito disso sido criados os serviços e mecanismos jurídico adequados e eficientes.


O controle legítimo deste ramo por parte do Estado garante em principio a máxima pureza ética da produção, sendo a priori, uma garantia que se situa muito acima de qualquer controle corporativo.


Os acordos intergovernamentais vão permitir regular os preços definindo cotações de produção e exercendo uma gestão conjunta dos stocks. Assim sendo, será possível criar um sistema que vai aumentar as vendas de formas a reduzir a volatilidade e atrair os credores para o ramo.


É evidente que uma aliança dessas poderia aguentar o peso do marketing genérico, proporcionando para o diamante um lugar digno de entre outros artigos de luxo.


Em termos de história, recorde-se, o mercado de petróleo já passou pelo mesmo caminho tendo começando com o cartel das maiores empresas petrolíferas, criado na década de 1930, até à criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que foi fundada em 1960.


Sem dúvida que diamantes e petróleo não são bem a mesma coisa, mas a analogia parece-nos suficientemente forte para ser óbvia.


Nascida da experiência positiva da De Beers na gestão de preços, a ideia é de completar e aperfeiçoar as "alavancas" do Processo de Kimberley que parecem estar hoje em dia "encravadas".


Por outras palavras, em causa está a realização de um trabalho gratificante, que pode trazer o mercado para um novo patamar organizacional, para uma nova etapa de crescimento, onde as contradições acumulados poderão ser resolvidas de forma mais suave.


Qual dos países produtores de diamantes será capaz de assumir o papel do iniciador e locomotivo deste processo?

Será possível superar as divergências entre os potenciais parceiros?
Quando os países participantes da "OPEP diamantifera" vão começar a receber o benefício para as suas economias?

Responder a estas perguntas agora é difícil, mas uma coisa é certa.
Esta União permitirá gerir os preços de um dos mercados globais mais excitantes.


António Simões