Lisboa - Angola bem tentou, mas sem sucesso. Barack Obama não incluiu o país no seu périplo por África, e a “desgastada” imagem do presidente José Eduardo dos Santos – recentemente considerado na revista Forbes o “segundo pior presidente africano” – foi factor decisivo.

Fonte: Lusomonitor

Segundo a newsletter Africa Monitor Intelligence, as autoridades angolanas moveram influências directas e indirectas tendo em vista persuadir Barack Obama a incluir Angola no roteiro da viagem a África, entre 26 de Junho e 03 de Julho.

O “forcing” não foi, no entanto, bem sucedido, pois Obama evita iniciativas susceptíveis de virem a ser interpretadas como legitimação de líderes africanos de reputação menos boa ou duvidosa, nomeadamente em matéria de governança e direitos humanos. Em particular: a imagem de José Eduardo dos Santos (JES) é considerada “desgastada”.

Por razões similares, Obama voltou a excluir a Nigéria do seu novo périplo – o que já acontecera na sua primeira viagem a África, em 2009. A importância estratégica da Nigéria, à escala continental e como grande parceiro comercial dos Estados Unidos não foi suficiente para minimizar reservas em termos de governança e perfeição da democracia. De fora ficou também o Quénia.

De forma mais expressiva que qualquer outro Presidente, Obama impôs e observa na programação das suas viagens a África o princípio de procurar distinguir, com a sua presença, países com aceitáveis sistemas democráticos e com administrações com bons padrões de eficiência e transparência. O Gana, país-modelo, foi o primeiro eleito.

A viagem que o Ministro das Relações Exteriores de Angola, George Chicoty, deveria ter efectuado a Washington, no início de Maio, para se avistar com o Secretário de Estado, John Kerry, fora calculada pelas autoridades angolanas como iniciativa destinada a criar um ambiente propício a uma decisão favorável de B Obama.

Em 2009, o então MRE, Assunção dos Anjos, efectuara uma visita a Washington com um propósito semelhante. Numa conversa com Hilary Clinton manifestou-lhe ostensivamente “o gosto” com que o seu Governo veria a inclusão de Angola no roteiro de uma visita que Obama efectuaria por essa altura a África.

A mais importante quota-parte do “forcing” tendente a levar o Presidente norte-americano a atender às pretensões de Angola foi, porém, a que esteve a cargo do chamado “lóbi petrolífero”, que agrupa grandes companhias com interesses na exploração de petróleo em Angola.

Em determinados meios políticos angolanos, a não inclusão de Angola, a que acresce o desconforto da inclusão da África do Sul, é remetida para uma alegada inacção do actual embaixador, Bento Ribeiro, “Cabulo”, um diplomata em fim de carreira, que não aparenta prestar aos assuntos importância superior à considerada suficiente.

JES, segundo pior presidente africano na Forbes


A inclusão do nome de José Eduardo dos Santos (JES) num rol dos “piores presidentes africanos” publicado pela Forbes em Fevereiro, foi um sinal do desgaste da imagem do presidente angolano no estrangeiro, que em nome de interesses diplomáticos ou comerciais não é habitualmente manifestada em público por outros líderes.

A referida lista apresenta JES como segundo pior presidente africano, logo a seguir a Teodoro Obiang, o primeiro. O terceiro é Robert Mugabe. Baixos níveis de governança e transparência foram os critérios chave com base nos quais a lista foi ordenada.

O artigo, assinado por Mfonobong Nsehe, refere que Santos é o segundo presidente africano há mais tempo no poder (desde 1979), sempre conduziu o governo “como o seu grupo empresarial de investimento pessoal, privado”. Sublinha que o seu primo é o vice-presidente (Manuel Vicente) e a sua filha é reconhecida como a mulher mais rica do país.

Apesar da riqueza petrolífera e diamantífera, prossegue, a vasta maioria dos angolanos “vice nas mais horríveis condições sócio-económicas” – 68 por cento abaixo da linha de pobreza, Educação sem qualidade, 30 por cento das crianças com má-nutrição, baixa esperança média de vida (41 anos), desemprego muito elevado – dados que deixam Santos “impassível”.

“Em vez de transformar a expansão económica angolana em alívio social para o seu povo, canalizou as suas energias para a intimidação dos media locais e subtração de fundos para as suas contas pessoais e familiares”, adianta o artigo, sublinhando que a família controla grande parte da economia angolana e tem estado a investir parte dos recursos no estrangeiro, nomeadamente em Portugal.