"Oh Moisés, você está maluco? Porquê, mano? A mana Mariquinha disse que foste à consulta do psicólogo. Não." Expressões como essas são muito comuns no nosso seio. Elas têm origem no desconhecimento e desinformação que a maioria da população apresenta em relação à consulta de Psicologia.
 
A consulta psicológica serve para qualquer indivíduo. Quando este sente que não tem capacidades para aguentar a carga emocional ou tem dificuldades na assimilação, desemprego, problemas familiares, psíquicos e religiosos, desavenças no trabalho, insónia, aprendizagem, o consultor aconselha-o a procurar um especialista, sem ser louco ou maluco como se advoga.
 
Ela difere do conselho de um amigo, na medida em que se empregam técnicas e procedimentos científicos para a compreensão do paciente, enquanto o conselho do mesmo se baseia nos fundamentos empíricos e preenchidos pelos preconceitos, estereótipo, crenças e subjectividade de quem aconselha.
 
É claro que, às vezes, cada um de nós faz o papel de conselheiro: a orientação do pai ao filho, o cidadão ao amigo sobre como pegar um candongueiro, mas em nenhum desses casos lidamos directamente com a personalidade do indivíduo.
 
I. "Na realidade, um dos pressupostos básicos em toda a psicoterapia é que os pacientes devem, mais cedo ou mais tarde, aceitar a responsabilidade por si mesmos"-Rollo May
 
Terapia não é "dar conselhos". Ao dá-lo, é-lhe dito o que fazer, mas não é encorajado(a) a desenvolver as suas forças e recursos, de forma a encontrar as suas próprias respostas.
 
Os conselhos tornam-no(a) dependente da pessoa ou livro que lhos deu. Por isso, estes não podem fornecer o tipo de ajuda que a terapia oferece. Ela encoraja-o(a) a procurar dentro de si próprio(a), de maneira a descobrir as suas próprias respostas e ganhar coragem para as agir e as utilizar na sua vida.
 
Abrir as páginas da vida para um desconhecido ao primeiro instante parece estranho ao indivíduo. Muitos pacientes chegam a confessar que, antes de frequentarem as consultas, não acreditavam no êxito da consulta, por terem poucas informações sobre os procedimentos. Na consulta psicológica, a palavra é o principal instrumento de trabalho.
 
Angola viveu um período conturbado na sua história, devido ao conflito armado que provocou a destruição de edifícios e cidades, a perda de vida humana, a separação de famílias inteiras e a desestruturação emocional de muitas pessoas.
 
A importância de um profissional de Psicologia nos hospitais é de suma preponderância. O seu contributo será visível na recuperação e aceitação do seu estado (do paciente) que se encontra numa angústia exacerbada em função da hospitalização.
 
Em outros fóruns, temos defendido que cada um de nós, em determinados períodos da vida, sente dificuldades de aceitar a realidade, considerar a nova fase e, nestes momentos, precisamos da ajuda especializada, no sentido de reverter o actual quadro.
 
Quem nunca se desesperou com o término de uma relação amorosa? Com a perda de um entequerido? Com a perda do emprego? Ou dificuldades em conviver com os colegas? Ou mesmo falta de prazer pela vida e interesse?
 
É necessário se compreender-se que a pessoa ao requisitar a consulta de um psicólogo está a aceitar que precisa de mudar. Por outro lado, essa mudança torna-se possível quando o próprio paciente aceita o seu estado emocional, as suas fraquezas, os seus erros e qualidades.
 
O terapeuta experimenta, muitas vezes, dificuldades na relação com o paciente, pois o mesmo analisa as coisas de acordo com a sua visão e não como acontece na realidade, tal como adverte Bronson: " Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos".
 
Não se pretende que, através da consulta psicológica, a pessoa mude o seu estilo de vida, os seus hábitos, manias e neuroses. O fundamental no processo de aconselhamento é encontrar ferramentas e saídas dentro da norma e do nível de vida do paciente que lhe proporciona qualidade de vida e equilíbrio emocional para poder seguir a sua vida com grau de estabilidade.  
 
II. "Todos vivemos sobre o mesmo céu, mas ninguém tem o mesmo horizonte"
 
Exemplo de um caso: Magalhães foi ao consultório por recomendação de alguém. Namorava com uma rapariga há dois anos. Investiu demasiado na relação. A companheira era apresentada na sua casa e no seio dos amigos. Quando chegou ao consultório, já estava sem comer há três dias, tinha perdido dez kilos em menos de uma semana e apresentava-se descuidado em termos higiénicos. Não conseguia dormir. Abandonou os estudos e pediu dispensa no serviço, pois alegava que não conseguia concentrar-se. De acordo com o mesmo, o motivo desse seu estado foi a separação com a namorada com quem tinha grandes projectos, mas tudo acabou.
 
Depois de algumas sessões, o diagnóstico de Magalhães era uma depressão grave atendendo a todos os critérios preestabelecidos e aos testes por si preenchidos que confirmaram a hipótese. Passadas doze sessões de tratamento, Magalhães voltou a estudar, arranjou outra namorada, retirou a dispensa do serviço.
 
Apesar de se sentir melhor, ainda desconfia de algumas pessoas e sente-se inseguro ao tomar decisões; aos fins-de-semana costuma ir ao teatro e senta-se a um dos parques da cidade. É um avanço, embora ainda continue em consulta. É pontual, reconhece os seus erros e conta com o total apoio da companheira para reverter o quadro actual.
 
É obvio que a terapia trabalha sobre o princípio da individualidade. 
 
A empatia entre o psicólogo e o paciente é chave na relação terapêutica. O paciente ao contar a sua história deve ser objectivo, sincero, honesto e nada esconder do seu psicólogo, já que o mínimo detalhe pode mudar o rumo da intervenção, o que só será possível se ele depositar uma carga de confiança. Se a não conseguir, nunca assumirá o seu outro lado.
 
III.
 
Na consulta psicológica como anteriormente referi, a palavra, a intuição, a força de vontade e os recursos do próprio indivíduo constituem o alicerce para a reconstrução psíquica. Existem vários modelos de intervenção, atendendo à individualidade do paciente, grau de instrução, etc.
 
Não existe magia nem passos de outro mundo. É muito trabalho, confiança, honestidade, cumprimento escrupuloso nas orientações e uma relação empática entre o terapeuta e o paciente. Para se construir uma nação é imperioso que as mentalidades estejam conscientes do desafio.
 
 
IV.
 
O conteúdo deste tema não está encerrado, pretendemos, com essa publicação, responder de maneira objectiva, prática e através de um discurso directo e do modo opinativo aos e-mails de vários leitores sobre a consulta de Psicologia. De salientar que o desenvolvimento da tecnologia tem alargado a intervenção do psicólogo para fora do consultório. Neste momento, estamos a desenvolver, através do MSN, uma consulta psicológica com horários estabelecidos, a uma paciente com depressão que se encontra na Republica Federativa do Brasil.
 
Se os leitores julgarem que necessitam de uma consulta, mas não tiverem possibilidades de ir a uma clínica, podem dirigir-se ao Hospital Psiquiátrico de Luanda, no consultório de Psicologia nos horários úteis e serão atendidos com enorme prazer.
 
Fonte: Folha 8 – Coluna "Psicologia & Você"