Lisboa -  O verniz estalou. Pela primeira vez, o BES assume estar em guerra com o angolano Álvaro Sobrinho. E acusa o ex-presidente do BES Angola de promover uma agenda que o coloca até como sucessor de Ricardo Salgado.

Fonte: Jornal dos Negocios

As acusações são oficiais e estão contidas numa carta enviada às redacções ontem à noite por Paulo Padrão, director de comunicação do Banco Espírito Santo.

A carta é enviada na sequência de uma notícia entretanto publicada na edição de hoje do diário "i", jornal no qual o grupo de Álvaro Sobrinho, a Newshold, tem um contrato de gestão. Noticia o "i" que Ricardo Salgado foi chamado ao Banco de Portugal, para dar explicações sobre uma comissão de 8,5 milhões de euros que terá recebido por consultoria a um cliente.

No carta enviada (ver na íntegra em baixo), Paulo Padrão desmente que o líder do BES tenha sido chamado: “Desmentimos peremptoriamente que o Dr. Ricardo Salgado tenha sido “chamado” ao Banco de Portugal por causa do dito artigo. É completamente falso que o Dr. Ricardo Salgado se tenha deslocado ao Banco de Portugal na passada segunda feira.”

“Estas informações falsas podem ser facilmente verificadas junto do Banco de Portugal”, repete.

O director de comunicação relaciona esta notícia com outra do mesmo jornal: “Pela 2ª vez no curto espaço de um mês o i avança com a informação falsa de que o Dr. Ricardo Salgado foi “chamado” ao Banco de Portugal (já o tinha feito com falsidade na edição de 28 de Agosto – desmentido formal do BES facilmente aferível junto do Banco de Portugal).”

Sobrinho sucessor de Salgado?

Mais do que um desmentido de uma notícia, a carta do porta-voz do BES assume a guerra entre as duas partes. Essa guerra tem sido noticiada por vários jornais, incluindo o Negócios, mas nunca até hoje qualquer das partes a tinha assumido. Silêncio que o BES hoje rompe:

“Com esta informação, que desmentimos totalmente, o i reforça a sua agenda principal dos últimos meses: atacar de forma ostensiva e sistemática o BES e o seu Presidente Executivo. Essa agenda coincide de forma perfeita, primeiro com a saída do patrão do i de presidente da comissão executiva do banco do grupo em Angola (no final de 2012) e, agora, com a saída de presidente do conselho de administração (durante o Verão).”

Álvaro Sobrinho foi presidente executivo do Banco Espírito Santo Angola até Outubro de 2012, tendo em Novembro passado a ser “chairman” do mesmo banco. Esta mudança foi na altura entendida como um “pontapé para cima”, afastando o gestor da vida executiva do banco, na sequência do conflito que já então germinara. Já este ano, Álvaro Sobrinho saiu totalmente dos órgãos sociais do BESA, tendo assumido uma participação de controlo no Banco Valor. Foi até noticiado que Sobrinho está a contratar quadros do BESA para reforçar o Valor.

Paulo Padrão recorre ainda a uma notícia do i de há duas semanas, em que o jornal noticia a proximidade da sucessão de Ricardo Salgado no BES, avançando com uma infografia com quatro possíveis sucessores: Amílcar Morais Pires (actual administrador financeiro do BES), José Maria Ricciardi (actual presidente do BES Investimento, e primo de Ricardo Salgado), Bernardo Espírito Santo (também da família e líder das operações no Brasil) e Álvaro Sobrinho. Todos estes nomes já haviam sido noticiados como possíveis sucessores, menos o de Sobrinho, que assim apareceu pela primeira vez.

“O i chegou ao desplante máximo e despudorado de dar o seu patrão como candidato à liderança do Grupo BES”, escreve Paulo Padrão. Que ironiza: “No grupo BES aguarda-se com incontida ansiedade pela confirmação desta intenção comunicada pelo i.”

O conflito era até aqui latente e negado. Em Dezembro de 2012, numa entrevista ao Negócios por altura da inauguração da nova sede do BESA, em Luanda, Álvaro Sobrinho dizia ter as melhores relações com Ricardo Salgado. “Tenho uma relação de confiança com o Dr. Ricardo Salgado. Do ponto de vista profissional ele é líder do BES. Do ponto de vista pessoal tenho com ele uma relação do melhor que podia acontecer. Não tenho nada a apontar”.

A Newshold detém várias participações em órgãos de comunicação social em Portugal. Além da gestão do i, é dona do “Sol” e é accionista minoritária com cerca de 15% da Cofina, grupo que detém o Negócios.

O Negócios tem tentando ao longo da manhã contactar a Newshold, até ao momento sem sucesso.

Leia a carta de Paulo Padrão às redacções na íntegra:
A título de esclarecimento, venho prestar a seguinte informação.

O jornal i prepara-se para publicar amanhã (25 de Setembro) mais um artigo de ataque ao BES e ao seu presidente executivo.

Pela 2ª vez no curto espaço de um mês o i avança com a informação falsa de que o Dr. Ricardo Salgado foi “chamado” ao Banco de Portugal (já o tinha feito com falsidade na edição de 28 de Agosto – desmentido formal do BES facilmente aferível junto do Banco de Portugal).

Diz o i que o Dr. Ricardo Salgado foi “chamado” ao Banco de Portugal ontem, 2ª feira (23 de Setembro), na sequência de um artigo do Sol. Desmentimos peremptoriamente que o Dr. Ricardo Salgado tenha sido “chamado” ao Banco de Portugal por causa do dito artigo. É completamente falso que o Dr. Ricardo Salgado se tenha deslocado ao Banco de Portugal na passada segunda feira.

Estas informações falsas podem ser facilmente verificadas junto do Banco de Portugal.

Com esta informação, que desmentimos totalmente, o i reforça a sua agenda principal dos últimos meses: atacar de forma ostensiva e sistemática o BES e o seu Presidente Executivo. Essa agenda coincide de forma perfeita, primeiro com a saída do patrão do i de presidente da comissão executiva do banco do grupo em Angola (no final de 2012) e, agora, com a saída de presidente do conselho de administração (durante o Verão).

O i chegou ao desplante máximo e despudorado de dar o seu patrão como candidato à liderança do Grupo BES (edição de 18 de Setembro). No grupo BES aguarda-se com incontida ansiedade pela confirmação desta intenção comunicada pelo i.

Atentamente,

Paulo Padrão
Diretor de Comunicação
Grupo Banco Espírito Santo