Lisboa - Num relatório confidencial da autoria do Ministério do Interior entregue recentemente ao Presidente José Eduardo dos Santos, as autoridades assumem à morte dos activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule, desaparecidos desde o dia 27 de Maio de 2012..

Fonte: Club-k.net

No referido documento, o Ministério do Interior, baseado numa alegada  investigação movida pela Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), responsabilizou o desaparecimento dos dois activistas, a uma operação movida por elementos da delegação de Luanda, dos Serviços de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE). A direcção desta instituição foi detida nesta sexta-feira, 08, em Luanda.

No seguimento das revelações do relatório foi aberto um processo-crime junto a Procuradoria Geral da República, a fim de responsabilizar os presumíveis autores do crime contra os dois cidadãos.

Na quarta-feira, 06/11, o procurador João Maria de Sousa, na presença do ministro do Interior, Ângelo Barros de Viegas, interrogou uma equipa do SINSE para o efeito. O director do SINSE, Sebastião José Martins, pediu para fazer parte do interrogatório como observador, uma vez que eram os seus homens a quem se estava a imputar responsabilidades.

No decorrer do interrogatório que durou cerca de 5 horas, Sebastião Martins questionou se haviam provas sobre as acusações que pesavam contra os seus efectivos, e em reacção, o ministro Ângelo Barros de Viegas apresentou imagens fotográficas de supostos elementos do SINSE, a desfazerem-se dos cadáveres.

O ministro explicou que a DNIC moveu uma investigação e esta descobriu que os dois activistas foram mortos por operativos do SINSE e que os seus cadáveres foram atirados no rio Dande, no Bengo, numa área onde habitam jacarés que os terão devorados.

Em resposta, Sebastião Martins declinou que a operação fosse da exclusividade dos seus elementos e defendeu-se que se a DNIC tem as imagens então poderá ter sido uma operação conjunta entre operativos da sua instituição e aquela dirigida pelo Comissário-Chefe, Eugénio Alexandre.

No decorrer da sua explanação, o ministro Viegas de Barros identificou o 1º secretário provincial do MPLA de Luanda, Bento Bento, como a parte interessada da referida operação. Como evidência foi citado o nome de um operativo do SINSE, apresentado como o elemento de ligação com este.

Foi também inquerido neste dia um elemento identificado apenas por "Fragoso", apresentado como o chefe da escolta do governador Bento Bento.

Este terá explicado que embora o SINSE deu a conhecer o que se iria fazer com Alves Kamulingue e Isaías Cassule,  o governador de Luanda em momento algum deu ordens para execução dos dois activistas. 

Na manha de quinta-feira, 07, o Bureau Político do MPLA reuniu-se de emergência para gestão do tema. Foi decidido que enquanto decorrem as investigações o governador Bento Bento fica proibido de manter algum contacto com o responsável do SINSE, Sebastião Martins, até ser ouvido pela Procuradoria Geral da República.

Enquanto isso, foram detidos na sexta-feira, 08, o delegado provincial  do SINSE de Luanda, António Vieira Lopes “Tó”, o chefe provincial  das operações, Paulo Mota, um terceiro apresentado como a figura de ligação do SINSE com o governador de Luanda, o guarda-costa de Bento Bento e três elementos de nomes imprecisos.  

Os sete elementos encontram-se sob custódia na procuradoria militar a fim de se prosseguir as investigações. Os seus familiares foram solicitados para não fazerem alaridos porque “se trata de uma operação que será resolvida”.  

Envolvimento da UGP

A versão que inicialmente circulou restritamente sobre o desaparecimento de Alves Kamulingue e Isaías Cassule foi de que teriam sido raptados pela Unidade da Guarda Presidencial (UGP) e que no seguimento de um áspero ambiente, na Cidade Alta, foram baixadas “ordens superiores” que precipitaram na execução de ambos.   

Entendidos na matéria suspeitam que os verdadeiros autores da “ordem superior”, queiram excluir-se de tais responsabilidades criminais e que estejam a fazer do SINSE ou da  DNIC e Bento Bento, como bode expiatório, a fim de provocar distracção pública.

No dia em que eles foram raptados, o activista Alves Kamulingue escondeu-se no hotel  Skyner tendo feito um telefonema a denunciar que estava a ser seguido por forças do Palácio Presidencial.