Luanda – Angola comemora a 11 de Novembro de 2013, 38 anos de independência do colonialismo português. Contrariamente ao que aconteceu com outras antigas colónias em África, como é o caso da ex-Congo Belga, hoje República Democrática do Congo (RDC), a cerimónia da proclamação da independência de Angola não foi presidida pela antiga potência colonial.

Fonte: Club-k.net
Noutros termos, não houve entrega de poderes entre Portugal e o novo Governo de Angola Independente.

No antigo Congo-Léopoldville (actual RDC), foi o Rei Beaudoin da Bélgica acompanhada da sua esposa Fabiola, que foi à capital (Léopoldville, hoje Kinshasa), proclamar a independência deste país que acedeu à soberania nacional a 30 de Junho de 1960, na sequência de uma Mesa Redonda de Bruxelas (Table Ronde de Bruxelles).

Em Angola, a independência foi proclamada unilateral e simultâneamente em Luanda por Agostinho Neto, presidente do MPLA; na cidade de Nova Lisboa, actual Huambo, por Jonas Savimbi, presidente da UNITA e na cidade de Carmona hoje Uige por Ngola Kabangu, em nome do Presidente Holden Roberto, da FNLA.

Segundo a sabedoria Kikongo, “E mbizi avo ivila e mfua, yakun´e bakilu”, o que significa na língua do colono português “Tudo que começa mal, termina mal”, o país não se recupera da agonia em que foi mergulhado na sequência da violação pelo MPLA do Acordo de Alvor  que deu a independência à Angola.

Os três movimentos de libertação de Angola, nomeadamente MPLA, FNLA e UNITA negociaram com a potência colonial, em Alvor, Penina, Portugal, e assinaram um Acordo sobre a Independência de Angola chamado “Acordo de Alvor”, depois de 14 anos de uma guerra anti-colonial.

Muita expectativa gerou-se em volta de Angola independente, muitos dos angolanos, nomeadamente os refugiados diziam em língua Kikongo que “Ngola ikukulanga owiki ye mamvumina” (Angola de que saiem o mel e o leite).

Com ingenuidade, muitos pensavam que com a Independência, Angola se transformaria num o paraíso terrestre.
Eufóricos de regressar à “terra-mãe”, os refugiados angolanos na ex-República do Zaire começaram a vender os seus bens móveis, imóveis, corporais e incorporais. Venderam as lavras, as casas, os carros, e tiraram os filhos das escolas.

Ninguém imaginava que Angola se transformaria num inferno e que todos os diabos, incluindo Lúcifer, se transfeririam para este país. É aqui onde a morte, a miséria, a divisão, o empobrecimento e a humilhação lhes esperavam.

Desde o dia 11 de Novembro de 1975, o poder (político e económico) escapou do Angolano genuíno, indígena e autóctone. Angola passou a ser uma propriedade privada de um minúsculo grupo de alógenos (estrangeiros) e de pessoas de origens desconhecidas e duvidosas.

Os bakongo ou akongo (pessoas pertencentes à etnia Kikongo; no singular Mukongo, Nkongo), antigos refugiados regressados do ex-Zaire, foram os primeiros a serem desiludidos e frustrados.

Ao regressarem à Angola de que tanto choravam foram adjectivados pelo MPLA de serem canibais, comedores de carne humana, de Zairenses, de Langas, Retornados ou simplesmente retros, estrangeiros que não falavam a língua Portuguesa, acusados de serem veículos da expansão da autenticidade de Mobutu e da negritude de Senghor, etc.

O facto aconteceu pela simples razão de os bakongo constituírem a base politica da FNLA, que era naquela época o arqui-rival do MPLA.
Em vez de trazer a felicidade, a independência de Angola enlutou, entristeceu e empobreceu o Angolano genuíno.

Antes mesmo da proclamação da Independência, o primeiro susto veio da violação dos Acordos de Alvor pelo MPLA que usurpou o poder e expulsou os dois outros signatários do mesmo, nomeadamente a FNLA e a UNITA.

Esta violação do Acordo de Alvor e usurpação de poder pelo MPLA provocaram uma guerra civil que terminou em 2002 com o assassinato do líder da UNITA, Jonas Savimbi.

O balanço desta guerra é negativo, em termo da destruição humana, material, espiritual e cultural do país. Os três ditos Movimentos de Libertação nacional dizimaram os seus quadros políticos, militares, politico-militares, intelectuais de primeira linha e tantos outros inocentes.

A maioria dos melhores quadros de Angola, os pesos pesados, famosos e elites das etnias angolanas, foram assassinados pelas próprias formações políticas que eles defendiam e promoviam. Quadros “cinco estrelas” de primeira geração foram abatidos como cães, por simples intrigas ou suspeitas de conspirarem contra as direcções dos movimentos.

Na véspera da Independência, todo o Estado maior general do ELNA (Exercito de Libertação Nacional de Angola – braço armado da FNLA), foi dizimado na sua base militar de Kinkuzu. Muitos outros quadros e inocentes suspeitos de simpatia com o MPLA foram caçados e assassinados no ex-Zaire.

No MPLA, dois anos depois da Independência, em 1977, vários milhares de autoctones angolanos entre os quais os raros intelectuais formados pelo colono português, foram barbaramente assassinados acusados de tentativa golpista.

Entre os assassinados figuram os lendários dirigentes do MPLA Nito Alves, Monstro Imortal, Bakalof, José Van-Dunem, Sianuk, Sita Valles, Virinha, entre outros. São estes falecidos líderes que usurparam o poder e colocaram o MPLA à direcção de Angola, com a proclamação de Poder popular.

Seguiram-se outros assassinatos hediondos, como os de Sexta-feira sangrenta durante a qual pessoas de etnia Kikongo foram abatidas como galinhas acusadas de simpatia e apoio à UNITA.

O jornalista Ricardo de Mello, os deputados Mfulumpinga Nlandu Victor (membro do Conselho da República) e Ngalangombe (da UNITA), o ex-comandante da Policia nacional, Adão da Silva, os negociadores de Paz da UNITA, Jeremias Chitunda, Elias Salupeto Pena, Elias Chimbili (da BRINDE,  a secreta do Galo negro) e Mango Alicerces (Secretário-geral da UNITA) foram igualmente friamente assassinados em Luanda.

Milhares de membros, simpatizantes e inocentes acusados de apoiarem a UNITA foram dizimados em todo o território Angolano, durante as caças às bruxas organizadas pelo MPLA na sequência da rejeição dos resultados das eleições gerais (presidenciais e legislativas) de 1992 que o Galo negro considerou de fraudulentos.

Adão da Silva cometeu o pecado mortal de aderir a UNITA. Até o representante do Secretário-geral da ONU em Angola, o advogado maliano Maître  Alioune Blondin Mbeye, que mediava o conflito entre os beligerantes MPLA e UNITA, foi assassinado. A ONU conhece o assassino, mas cala-se e recusa revelá-lo.

O próprio líder-fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, foi abatido a 22 de Abril de 2002 em Moxico, assim como o vice-Presidente do Galo Negro, António Ndembo, cuja morte carece de esclarecimento.

Do lado da UNITA, a lista de mortes de inocentes é igualmente longa e assustadora.

Contam-se os assassinatos do intelectual cinco estrelas de origem Kuanhama ou Kuanyama, António Vakulukuta, politólogo formado na prestigiada universidade francesa de La Sorbone (consulte Google), Tito Chingunji, Valdemar Chindondo, Ornelas Sangumba, os generais Bock, Antero e Tarzan, a própria esposa de Savimbi,  e tantos outros.

A partir de 11 de Novembro de 1975, o MPLA dividiu profundamente os angolanos, exterminando os que comungam convicções e ideologias diferentes. O MPLA substituiu a identidade nacional pela filiação ideológica e a paternidade biológica pela partidária. Um companheiro do mesmo partido político vale mais que um irmão biológico de pai e mãe.

Desunir as populações angolanas não é obra exclusiva do MPLA

Os partidos políticos confundem-se com meros clubes tribalistas e de amigos. O MPLA é o clube de pessoas oriundas da faixa de Luanda a Malange, passando pelas províncias de Bengo e Kwanza-norte e alógenos ou melhor é o partido dos kimbundu e crioulos; a FNLA é dos Bakongo, a UNITA dos Ouvimbundu e o PRS (Partido de Renovação Social) dos Lunda-Tchokwe.

Todos os partidos políticos são anti-democráticos e intolerantes. Razão pela qual os intelectuais sérios, honestos e consequentes recusam as afiliações partidárias. Os próprios partidos têm medo destes quadros. Nesta ordem de ideia, a qualidade de pessoas que aderem aos partidos políticos é questionável.

A “Independência Nacional” empobreceu o Angolano que perdeu as três refeições diárias (pequeno almoço ou mata-bicho, almoço e jantar) para não falar em lanches, a luz, a água, a saúde, a educação e o emprego.

Durante os 38 anos da independência, Angola mudou apenas uma vez de apelação: de República Popular de Angola (RPA) de obediência comunista, para República de Angola, com um regime dito de democracia e de economia de mercado. A mudança é fruto da instauração do multipartidarismo resultante da assinatura do Acordo de Bicesse entre os dois beligerantes, MPLA e UNITA.

Também o país teve apenas dois Presidentes da República. O jovem e desconhecido José Eduardo dos Santos substituiu António Agostinho Neto, aos cargos de Presidente da República de Angola, do MPLA e de Comandante-em-chefe das Forcas Armadas Angolanas (FAA).

O país realizou três eleições gerais, nomeadamente em 1992, 2008 e 2012, e nunca teve Eleições autárquicas que são sucessivamente adiadas por razões que só o MPLA conhece.

Uma nova Constituição denominada atípica, por atribuir excessivos poderes ao Presidente da República e transforma o Governo em mero Executivo, foi aprovada em 2012, substituindo a antiga Lei Constitucional.

Em ternos de partidos políticos, regista-se um balanço decrescente: de 126 formações que existiam entre 1992 e 2008 baixaram para 97 antes das eleições gerais de 2012 e destas sobreviveram apenas 7 (sete).

A redução resulta da lei segundo a qual todo o partido politico que obtêm menos de 0,5% de votos totais nas eleições é extinto automaticamente. Não apontar os pontos positivos registados durante este longo período de independência é falta de honestidade intelectual.

Como refere o partido no poder, MPLA, Angola virou um canteiro de obras. Várias infra-estruturas imobiliárias, rodoviárias, ferroviárias, aeroportuárias, fluviais e marítimas foram ou estão a ser construídas ou reconstruídas.

Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos são violados e pisoteados pelo Partido no poder. A oposição política é fraquíssima, sufocada, domesticada pelo Partido no poder ou quase inexistente. Regista-se uma gritante falta de liberdade de imprensa. Nenhum órgão de comunicação social público ou privado eh independente do patrão.

Os sindicatos são inactivos ou inexistentes. A UNTA (União Nacional dos Trabalhadores Angolanos) que é a Central sindical do regime teve uma dissidência que formou a CGSILA (Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola), mas este entrou logo em coma profundo. O povo vive abaixo da pobreza, faltando quase tudo, luz, água potável, saúde, educação e emprego.