Luanda - (...) Nós não temos fronteira com a África do Sul. O que é verdade é que a RPA não pode impedir que os patriotas da Namíbia voltem ao seu país, pelas vias e meios que acharem mais adequados, para libertar a sua Pátria da ocupação estrangeira.

Fonte: Club-k.net

Regime racista da África do Sul e seus pares UNITA de Savimbi, Samakuva e Chivukuvuku ...

Ao agir assim, Angola cumpre com o seu dever de país membro da ONU e da OUA e actua como parte integrante da comunidade internacional, que condena energicamente a ocupação ilegal da Namíbia e apoia incondicionalmente a luta heróica do povo deste território, conduzida pela SWAPO.»

(...)  ou ainda  « O regime racista de Pretória, instalado na África do Sul, continua a sua política criminosa de agressão contra a RPA (não obstante ter aceite o princípio de uma zona desmilitarizada na nossa fronteira com a Namíbia), numa atitude desesperada, provocatória e irresponsável para manter um clima de tensão e de guerra não declarada, com o objectivo de defender desesperadamente duas causas perdidas: primeiro, a causa do seu lacaio e servidor fiel do imperialismo, o pobre Savimbi; e depois, a questão da Namíbia, cuja ascensão à independência já é inevitável.» José Eduardo Dos Santos (11/11/1979 e 10/12/1979.

Poucos foram os homens que tanto geraram admiração, ódio, rancor, respeito e compaixão como foi Nelson Mandela-Madiba, detentor de uma longevidade rara quanto a vereda percorrida e, a sua morte gera sentimentos de pesar e boa memória post mortem sem paralelo.

É caso para dizer, tratou-se de um «Presidente da Humanidade», como disse Beny. Era um homem do “coração e não do cérebro” como ele dizia, segundo Carlin (2008).

Pertenço à geração dos “netos” de Madiba, meu Pai era  nacionalista de esquerda sempre nos transmitiu a admiração ao nobre Khosa, preso por defender a causa do seu povo,  de quem admirava por ser advogado que recusou a vida burguesa, em defesa de valores éticos universais do seu povo e da humanidade.

Meu Pai era um militante de esquerda sempre nutriu os valores da igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e trabalho para formar um homem novo, descendente da nobreza tradicional Muxindongo e Matamba (Ambundu da genealogia dos Mbingue-a-Mbande do lado materno) e Lucala-ni-Samba do lado paterno Thangu-a-Ngonga, nobreza dos jingola ou alta nobreza do Ngongo, Matamba e Kasanji), mesmo com a sua alta majestade preferiu valores de esquerda, coisa que seu sogro achava anátema como bom ambaquista era aristocrata e não gostava nada de revoluções ou propriedade colectiva, gostava de propriedade privada como as tongas de café. Foi assim que fui educado, num ambiente de discussão ideológica entre a tradição e modernidade.

Por isso, não falo de Madiba por oportunismo circunstancial. Basta lembrar que meu Pai, como militante do MPLA-Socialista, simpatizasse como ANC e por ser descendente da nobreza tivesse também solidariedade com filho da nobreza Khosa, embora não fosse conservador e reaccionário.

Por isso, solidarizo-me com a família enlutada e com os Sul Africanos, mas todo Continente perde o seu Líder Espiritual transcontinental…

Alguns defensores do Aparheid arrependidos depois da Batalha do Kuito Kuanaval no dia 23 de Março de 1988, no Kuando Kubango,  onde as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola e as Forças Cubanas derrotaram o Exército da África do Sul e seus aliados das FALA, forças armadas da UNITA dirigidas por Jonas Savimbi, este facto histórico marca indelevelmente a História de Angola, escrita com sangue e suor pela disciplina, lealdade e sentido de responsabilidade do Governo Angolano solidário com o ANC Partido de Madiba e a SWAPO, Partido de Sam Nujoma, da Namíbia que eram apoiados pelo MPLA dirigido pelo Presidente José Eduardo dos Santos.

Daquela Batalha humilhante para o regime racista da África do Sul e seus pares UNITA de Savimbi, Samakuva e Chivukuvuku e outros tantos transformados que eram os emissários para fizerem lobby contra a libertação de Madiba em Nova York, Londres, Pretória, Paris ou Lisboa, como bons discípulos da democracia pretoriana que humilhava Mandela e todos africanos e amantes da liberdade.

Nelson Mandela-Madiba, era um bom homem, não tinha rancores, acreditava na liberdade e na justiça. Tudo isto, levou-o a perdoar os seus carrascos directos ou cúmplices, tal era a grandeza que provinha da sua alma, a autoridade moral que provinha da sua nobreza endógena, era tanta que plebeus e nobres convergem que para lá da Política, era um homem de paz, de bondade, de harmonia, generosidade e perdão que irradiava alegria, convicção e confiança quase ingénua própria dos grandes humanista e líderes espirituais.

Caso fosse apenas Líder Político, teria feito rupturas com os seus adversários e inimigos e seus cúmplices, para manter o poder.

Preferindo o perdão e a reconciliação, face à justiça formal, superou o Político e espiritualizou-se, imortalizou-se, engrandeceu-se por transcendência universalizante para todos territórios, cores, raças e credos. Só os deuses ou divinos o fizeram o fizeram.

Nelson Mandela-Madiba, imortalizou-se, por não se ter corrompido pervertido com o poder que tanto irradiava. Morreu o homem nascente e imortalizou-se o líder espiritual que iluminava a História de um Continente onde as luzes raras vezes acendem ou alumiam.

Nisto, não tem paralelo, mas há o risco de um legado paradoxal que pode descambar num conflito latente que o Líder Político não acautelou com leis justas para maiorias ou minorias acautelando o futuro.

Parece-me que está ai, um barril de pólvora, gostaria estar enganado sobre o futuro da nossa irmã nação, depois de Madiba, quem vai parar tanta ânsia pelo poder? Tanta ganância pela riqueza acumulada injustamente? Quem vai frenar as elites negras, brancas, cristãs ou islâmicas? Isto é uma incógnita que só a providência pode prever.

A justiça não é compaginável com a indecisão ou incerteza, pois, gera insegurança e esta, o medo e tudo pode desmoronar, pelo facto do político ter temido fazer rupturas para perenizar-se…

Se os familiares já lutam pelos lugares, quanto mais o povo humilhado durante séculos, os apeados pela onda democrática e os oportunistas à espreita?

Basta lembrar que Julus Malema criou um partido contra os brancos! No ano passado vimos africanos como zimbabueanos e moçambicanos a serem humilhados, as forças de segurança atiraram mortalmente contra manifestantes como no tempo do Apartheid, alguma coisa pode correr mal.

Caso contrário, teriam aceite políticas públicas para melhor inclusão quer de uns quer de outros, coisa que não acontece numa democracia com barreiras raciais entranhadas…

Acho que a herança pessoal e política de Madiba é complexa e difícil de prever, no entanto os dados estão lançados. Há uma herança com muitos valores espirituais e como fica a matéria?...

A Herança Política e a espiritualidade podem conviver? Só o futuro responderá. Mas o Líder Político foi suplantado pelo líder spiritual…

*Jurista e Politólogo