Lisboa - Não sou membro de nenhum partido nem de qualquer outra organização política. A acção cívico política a que me dedico é feita principalmente por via da comunicação nas redes sociais.

Fonte: Club-k.net

Nessa senda, sistematicamente, há muitos anos, venho apelando à união da oposição e de todos os activistas anti ditadura. Mas mesmo se pequenos passos foram dados recentemente nessa direcção continuam sendo muito lentos, demonstrando que os factores e actores históricos de desunião continuam sendo determinantes.

Não sou um cidadão que se vergue e cale perante qualquer das chefias da oposição quando estou em desacordo com elas. Sou um cidadão que se assume plenamente livre enquanto activista defensor dos direitos humanos e para a instauração da democracia.

Nesse exercício da cidadania dou-me à reflexão sobre a situação e à consequente proposição aberta publica de soluções que considero adequadas ao movimento da sociedade angolana para a sua libertação.

Essa actividade não tem merecido qualquer resposta expressa, nem negativa nem positiva. Esse é o facto. Sinto apenas que tem sido ignorada, mesmo se chega às lideranças da oposição. Esse tem sido o facto engendrado por quem no entanto postula a conquista da plena cidadania por todas e todos como sendo seu objectivo.

Portanto estamos face a uma contradição, porque, certamente, quem nos dias que correm, sob a dominação da ditadura, ignora quem exerce a cidadania da forma mais plena possível para a libertação da sociedade não a garantirá plenamente quando alcançar o poder.

Por essa razão, temporariamente, vou parar a comunicação com que intervenho no político e adoptar uma postura reduzida à observação do desenvolvimento da situação no que respeita a criação duma ampla frente da oposição e da sociedade civil anti ditadura. Uma frente ampla que não assente na subordinação de nenhuma parte por outra, portanto que democrática.

Não sou um líder político orgânico, não pretendo sê-lo e tenho a perfeita consciência de que se adoptar uma postura de silêncio não farei muita falta. Talvez até seja um alívio para a oposição deixar de ter que ignorar e ou ser omissa para com um cidadão que usa a palavra da forma que o faço.

Será assim que me colocarei nos próximos tempos principalmente porque quando (1) o apelo até à exaustão para o desenvolvimento duma ampla frente anti ditadura é a evidente necessidade principal da oposição e não colhe adesões e (2) quando, sobrepondo-se à criação dessa frente, continuamos a assistir ao desfile dominante de individualistas super protagonistas (de entre outras conclusões) podemos aferir que (a) não foi alcançada a maturidade bastante para a acção em rede adequada, principalmente pela oposição histórica à ditadura e que (b) com adversários assim, divididos, a ditadura está tão bem servida que não necessita sequer da ajuda de amigos para se defender.

De facto a ditadura de José Eduardo dos Santos-MPLA tem tido a missão de dividir a oposição para reinar muito facilitada pela cooperação na manutenção da sua divisão pela própria oposição!

Parafraseando Che Guevara, se reconhecer o erro é importante mais importante é não o repetir. E, é o facto, no caso da acção contra a ditadura em Angola a divisão - da oposição e da sociedade civil anti ditadura - tem sido a falha determinante do respectivo insucesso que, no entanto, tem sido continuada sistematicamente.

Já alguém disse que quem diz a verdade perde amizades. Pois que seja esse o preço a pagar. Neste caso esse efeito não me inibe de a dizer nem me levará ao arrependimento por a ter dito.

É essa a atitude que distingue quem exerce a cidadania com ética dos que a exercem com os malabarismos próprios dos políticos para quem os fins, tantas vezes pessoais, justificam o recurso a meios e formas de acção, de que não se coíbem, mesmo se é evidente que resultará em nova dominação, desde que seja a sua.

A diferença entre mim e qualquer super estrela do nosso firmamento activista reside no facto de nem no meu beco querer ser o primeiro em nada. Não viso qualquer poder ou outro rendimento pessoal além de com o fim da ditadura tornar-me plenamente cidadão dum país democrático conduzido para a modernidade. Isso basta-me.Portanto não sou nem serei concorrente de ninguém na luta por qualquer poder e a qualquer nível.

Portanto, retenham que se já fiz alguma coisa pela nossa sociedade foi só mesmo pelos fins sociais do que fiz e não para ser dirigente de alguém ou dalguma coisa após o fim da ditadura. Muito menos de qualquer COSA encapotada como já se está a tornar evidente enquanto meta de algumas estrelas que, sistematicamente, se vêm colocando como as primeiras em tudo e recusando as propostas que não partam de si e ou sujeitas à sua liderança.

Estamos novamente perante estrelas UNICAS. Um filme já visto, muito gasto, altamente pernicioso à sociedade e cuja repetição, a todos os títulos, não é aconselhável.

Essa tem sido a nossa sina também nesta época da humanidade em que, mais uma vez, está sendo cultivada por "super estrelas" UNICAS que, pasme-se, paradoxalmente se colocam como sendo libertárias, quando a exclusividade de condução da sociedade é sempre a negação natural do pluralismo essencial ao seu desenvolvimento harmonioso em todos os aspectos níveis e sentidos.

As "super estrelas" do firmamento político angolano devem entender que para brilharem com dignidade democrática, na acção contra a ditadura - e especialmente após o seu fim - terão que fazer com que todas e todos brilhem como cidadãos, não só integrando-os como servidores das suas agendas mas também acolhendo as suas propostas de agenda e servindo-as quando sejam as mais adequadas a cada momento.

Com dignidade