Paris - O Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, através de uma Declaração presidencial, convocou 47 Países Africanos, a Sul de Sahara, para convergirem-se em Washington, em Agosto deste Ano, numa Cimeira Afro-Americana, a fim de avaliar a conjuntura africana, traçar estratégias de cooperação multilateral nos domínios económico-financeiro e sociocultural; recursos energéticos; agricultura; segurança internacional; combate ao terrorismo internacional; desenvolvimento da democracia e do Estado de direito; e boa governação.

 

 Fonte: http://baolinangua.blogspot.com

 

Face à expansão chinesa em Africa, era de esperar que, cedo ou tarde, Washington tivera que tomar uma iniciativa deste género para acautelar os seus interesses vitais nesta região – de suprema importância estratégica. Um Continente que se situa no coração do Mundo; com enormes recursos minerais; com uma população jovem e crescente; explorada e oprimida por uma pequena elite política, altamente rica e corrupta; Reduzindo este povo a viver na pobreza extrema e no subdesenvolvimento.


Olhando para o mapa da Africa constata-se um ambiente social uniformizado; com os níveis de assimetrias sociais muito profundos e precários; num estado de estagnação permanente; sem sinal visível de se libertar deste fenómeno milenar; em que o povo africano está continuamente condenado – sucumbindo-se diante de si.


Diante está realidade triste e amarga, a elite africana no poder parece não dar conta disso; nem revelar qualquer preocupação com esta situação penosa de degradação social, que lhe coloca na condição de inferioridade e de desigualdade continua, no seio da comunidade humana. Impera-se, neste contexto africano, o conformismo deliberado, que se transforma num instrumento poderoso do neocolonialismo que submete os povos africanos à subjugação e à exploração.


Isso acontece na altura em que, o Mundo contemporâneo se encontra na Era de alta tecnologia que faz com que, a espécie humana esteja permanentemente no desafio de adaptar-se e de se defender diante as exigências técnico-científicas que evoluem e crescem numa velocidade astronómica.


Enquanto os outros Continentes se encontram fechados numa corrida desenfreada para a descoberta e a exploração de outros planetas; infelizmente, a Africa ainda está presa ao passado muito recuado, com mentalidades caducas e inadaptáveis à realidade actual. Essas Comunidades avançadas investem os seus fundos nos grandes projectos do futuro, alargando cada vez mais o fosso de assimetrias entre Elas e Africa.


Infelizmente, a Africa está iludida e distraída pelos vícios da corrupção e do poder pessoal. Perde-se todos recursos e todo tempo nessas mesquinhas, travando a marcha da nova geração que começa a despertar-se e introduzir-se nas lides das novas tecnologias avançadas – informáticas e telecomunicações.


A realidade é de que, o povo pobre e faminto não tem disponibilidade suficiente, nem vontade necessária para se engajar e dedicar-se ao estudo aturado e à pesquisa que esgota o pensamento do Homem.

 
A lógica das elites políticas africanas, neste respeito, é de que, quando menos o seu povo pensar e sonhar, «melhor é», para a manutenção do poder politico. Quem pensar e sonhar mais alto, é tido como inimigo, indesejável e deve ser travado e posto de lado.

 
Porém, olhando cuidadosamente à Historia da Humanidade, constatará que, foram de facto, os grandes Pensadores que estiveram na origem das grandes descobertas, que conduziram gradualmente o ser humano do estado primitivo ao estado actual do progresso e de desenvolvimento.


Na base desta lógica, torna-se fácil conjecturar o que será de facto o conteúdo e o cenário da Cimeira afro-americana que terá lugar em Washington. Para já, os Estados Unidos já sabem o que pretende alcançar nesta Cimeira. Dentre as quais, o reforço de cooperação multilateral com o Continente Africano, no sentido de se precaver dos interesses estratégicos, ameaçados pela China, em aliança com a Rússia.

 
Já não é tabu nenhum de que, o Mundo esteja no início de uma outra fase de Bipolarização, embora com características diferentes daquelas que reinaram durante a Guerra-fria, no rescaldo da II Guerra-mundial. O que acontece no Médio Oriente, na Síria, por exemplo, espelha nitidamente as divergências, as alianças, os interesses e os sistemas políticos que cada Bloco ideológico defende.


Num lado, está os EUA e os seus Aliados Europeus; do outro lado da barricada, está a Rússia e a China a suportar a carga pesada do armamento, da logística e da estratégia diplomática do regime de Damascos. O Médio Oriente é o cerne da Estratégia mundial. Não só o Petróleo do Golfo da Pérsia que conta no xadrez, mas sim, a problemática Israelo-palestiniana (no contexto do sionismo, judaísmo, islamismo e cristianismo); as Vias marítimas em volta do Golfo da Pérsia e do Canal do Suez; e a Civilização Árabe que se coloca entre as duas Civilizações milenares, isto é, a Civilização Ocidental e a Civilização Asiática.

 
O Mundo está nesta cruzada das três civilizações divergentes que determinarão a nova Ordem Mundial nos próximos tempos. A Africa sempre foi o alvo das grandes transformações que ocorreram na Historia da Humanidade: As descobertas, a evangelização, o tráfico de escravos, a escravatura, as guerras de conquistas, a colonização, as grandes guerras mundiais e a guerra-fria. Tudo isso passou por Africa; e ela teve que sempre pagar uma factura pesada.

 
Portanto, o que passa no Norte da Africa e no Médio Oriente já tem reflexos profundos sobre o Continente Africano, a Sul de Sahara. O conflito civilizacional não tem nenhuma forma de evitá-lo. Só temos alternativas de escolher de que lado estaremos e qual delas propusemos abraçar, adaptar-se e transformar-se.


Em Angola, por exemplo, que era da Civilização Ocidental, da Cultura Cristã, hoje está fortemente pressionada tanto pelo Islamismo Árabe, quanto pelo Confucionismo Chinês. Esta é a realidade tao crua que se pretende escamotear por parte da classe politica africana que se encontra encurralada entre as Civilizações fortes e expansionistas.

 
O que conta nisso são os valores políticos contidos nessas civilizações, as quais determinar-se-ão a escolha acertada de cada País africano. Há, pois, valores que são contrários à civilização moderna da Época contemporânea, no contexto da Globalização. Há outros que conferem maior espaço de liberdades e direitos, no contexto da Cidadania. Portanto, a opção errada na escolha dos valores, terá maior incidência de provocar instabilidades sociais e resistências populares.

 
Na verdade, olhando para o Mundo, constata-se este «Movimento Cívico» de contestação social crescente em todos Continentes. A democracia, na sua essência, é um valor universal que confere aos Cidadãos um espaço confortável de tranquilidade, dignidade e realização humana – na sua plenitude. Não é o melhor sistema político. Mas, na verdade, não existe outro regime político que lhe supera na qualidade. Ela atravessa as fronteiras geoculturais e civilizacionais, numa comunhão reciproca dos povos, na transformação de um novo Mundo em que, os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror, da opressão, da pobreza, da miséria e da injustiça social.

 
Conhecendo bem a realidade africana, e no meio de 47 Países, com orientações políticas diferentes e com interesses adversos, será bastante difícil encontrar uma Agenda de consenso que seja aceitável para todos e que ponha em destaque os anseios mais profundos dos povos africanos, que ainda luta pela sua emancipação e autodeterminação .

 
De qualquer forma, o fenómeno chinês, o factor petróleo e o terrorismo islâmico, constituem três elementos principais da Agenda da Cimeira afro-americana. Uma Agenda bastante controversa que mina e corrói o consenso africano. Dando o facto de que, há uma série de aspectos inconsistentes e paradoxais, que entrosam e divergem-se, nesta diplomacia multilateral que o Presidente Obama acaba de encetar em Africa. 

 
A China, neste respeito, é o maior parceiro africano em termos de investimentos, créditos bancários e construção das infra-estruturas. Alias, a China é a segunda maior economia do Mundo, atrás dos EUA; o mercado mais atractivo, produtivo, crescente e estável; um espaço privilegiado dos investimentos das companhias ocidentais. Por outro lado, a China alinha, tolera e sustenta os regimes corruptos e autoritários africanos. Isso, por si só, dificulta o posicionamento dos países africanos vis-à-vis o factor chinês.

 
Dos 47 Países Africanos que estarão presentes em Washington, uns são da Cultura Islâmica e outros são da Cultura Cristã. Portanto, neste capítulo, o espaço de manobras para alcançar o consenso sobre o islamismo e o terrorismo é muito reduzido. Acima disso, os lobies petrolíferos, a favor do islamismo, são muito fortes nesses países africanos. Nos últimos tempos, tem sido bastante difícil distinguir entre o islamismo e o terrorismo islâmico. Na «teoria filosófica» existe de facto uma linha divisória nítida entre os dois fenómenos, Mas na prática, esta linha divisória torna-se invisível a olho nu.


O Petróleo Africano e do Médio Oriente são explorados, produzidos e transformados pelas Multinacionais Ocidentais, com a tecnologia mais avançada dos Estados Unidos da América. O Médio Oriente, um dos maiores produtores do Petróleo é dividido entre aliados ocidentais e aliados da Rússia e China.

 
Muitos dos Países Africanos, convidados por Obama, sobrevivem da amizade e da cooperação económica com os Países membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). A OPEP, no seu funcionamento, é um Cartel dos maiores produtores do Petróleo do Mundo, que se responsabiliza pela gestão, comercialização e fixação de quotas de produção e de preços do Crude Oïl. Portanto, as decisões desta Organização têm um impacto enorme sobre o Mercado Internacional e sobre as políticas económicas e monetárias das instituições financeiras, como do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
 

Neste contexto, a China, por sua vez, é um dos maiores importadores do petróleo provenientes da Africa e do Médio Oriente. Não obstante, os Estados Unidos, a China e a Rússia têm mecanismos próprios de consultas regulares e de cooperação bilateral e multilateral no sector energético. Em todo caso, esta relação de cooperação estratégica assenta basicamente no princípio da concorrência e da rivalidade. Buscando um denominador comum, do acesso e da partilha do mercado petrolífero.


Outro aspecto de relevo, que merece alusão, tem a ver com a questão demográfica. Embora não esteja exposta, mas a visão chinesa em Africa, além de tudo, tem o carácter tanto económico quanto demográfico. A sobrepopulação e a explosão demográfica obrigam a China a encontrar alternativas de emigração e de novos povoamentos nos Países em desenvolvimento. Neste caso, a Africa subsaariana oferece melhores condições para esta estratégia, que já está em marcha. Sendo Angola, o país de maior incidência da implantação chinesa no Continente.


Numa reflexão mais profunda e realista, o espaço mais favorável de consenso na Cimeira afro-americana seria o seguinte: O fomento rural e a agricultura; a transferência da tecnologia avançada; a formação de quadros africanos; a construção de infra-estruturas sustentáveis; a edificação das instituições democráticas fortes; a boa governação; a redução drástica dos níveis da corrupção; e a resolução dos conflitos locais.


Por sua vez, se o Presidente Americano, Barack Obama, pretende de facto ajudar a Africa, deve puxar fortemente a Agenda da «boa governação» em Africa. A boa governação passa necessariamente pelas instituições fortes e verdadeiramente democráticas, capazes de permitir a transparência dos processos eleitorais e a alternância regular e constante do poder politico. Sem a boa governação, não será possível erradicar a fome e a pobreza que assola quase todos Países africanos.


Em função disso, a ausência de instituições democráticas fortes conduz à eternização do poder político, que se transforma em regimes autoritários e altamente corruptos. Que se apoderam do Erário público e personalizam as Instituições do Estado no sentido de inviabilizar a transformação democrática. Condicionando assim a liberdade individual e a consciência dos cidadãos. Com pressupostos fortes e inabaláveis de aliciar e condicionar toda a sociedade por uma pessoa, sem a viabilidade dos Cidadãos realizar-se livremente.


Neste contexto, a presença chinesa em Africa tem sido o elemento catalisador deste estado de coisas, em que a corrupção e o autoritarismo desabrochassem, florescessem e tornassem incontestáveis. A virtude mais elevada do Confucionismo, uma religião mais antiga (551-479 a.C.) da China, consiste no seguinte princípio: “Não faça aos outros o que não gostaria que lhe fizessem.”


Mas esta norma filosófica asiática não tem sido respeitada e praticada pelo Governo Chinês em relação a corrupção e a má governação nos Países Africanos, parceiros económicos desta Potência Asiática. Ao passo que, a Política interna chinesa, tem sido bastante dura e implacável contra a incompetência, a corrupção, a falta de prestação de contas, o esbanjamento e o desvio de fundos públicos.

 
Parece que, esta postura propositada, «de deixa andar», faz parte integral da grande Estratégia Chinesa de buscar o acesso fácil ao mercado africano e de se implantar fisicamente. Portanto, quanto mais instabilidades sociais houver nos Países Africanos, melhor que se torna a penetração silenciosa nas zonas mais nevrálgicas dos recursos minerais estratégicos.

 
Essa política, sem querer, viabiliza a infiltração dos grupos terroristas islâmicos na Região do Sul de Sahara, onde já operam livremente sem capacidade institucional dos Governos Africanos de poder impedi-los e controlá-los. Enfim, isso constitui o grande desafio que o Presidente Americano, Barack Obama, terá que ter em devida conta na Cimeira Afro-americana, no capítulo da segurança e do terrorismo internacional.

 
Em suma, esta Cimeira de Washington representa uma viragem significativa da Política Externa Americana, que contará com o engajamento mais activo e dinâmico nas relações bilaterais e multilaterais com Africa. Pois que, Africa, neste momento, é o mercado mais vasto do mundo, virgem e emergente, com oportunidades imensas de investimentos, em todos domínios.


O engajamento forte da França em Africa, nas suas antigas colonias, contará com o suporte efectivo dos Estados Unidos da América que servirá do factor persuasivo para as Potencias Europeias no sentido de adoptar uma política africana mais realista e coerente.

 
Veremos uma maior contenda e partilha entre as Potencias Asiáticas e Ocidentais – em colisão directa no espaço geoestratégico do Continente.


Internamente, a Africa entrar-se-á numa fase mais elevada de reivindicações sociais e de transformações políticas, numa revolução democrática de dimensões profundas e de proporções alargadas.