Luanda - Já tenho mais um motivo para assinalar o 4 de Fevereiro que não tem nada a ver com as afiadas catanas de 61 dos nossos bravos nacionalistas que usavam uns calções pretos e cantavam blues, mas não deixa de ter igualmente sabor a libertação de algumas grilhetas mais modernas, que também amarravam (e ainda continuam amarrar) as pessoas a uma determinada tutela.

Fonte: Morrodamaianga

Segundo reza a história, o Facebook também foi criado a 4 de Fevereiro, mas de 2004, pelo Mark Zuckberg e os seus colegas de projecto, que apenas criam conectar on line uma comunidade universitária.

Tinham-se passado 43 anos depois de Luanda ter sido sacudida pelos ataques às cadeias coloniais, cujos resultados só viríamos a colher 14 anos depois, com a proclamação da Dipanda.

Resultados por sinal pouco de acordo com a era inaugurada pela rede mãe de todas as redes sociais, que hoje cavalgam pelas autoestradas abertas pela Internet nos computadores, mas que já se passaram para os telemóveis grandes e pequenos, onde constam os tais smartes, aipodes e aifones.

Entre os resultados do primeiro (das catanas) e do segundo 4 de Fevereiro (facebook), há de facto uma distância qualitativamente muito expressiva e mesmo contraditória, o que torna ainda mais interessante esta coabitação de efemérides na mesma data.

Como sabemos, a Dipanda trouxe-nos apenas uma das muitas liberdades, tendo as restantes entrado em regime de prolongada quarentena e apertada vigilância do monopartidarismo, que viria a terminar formalmente com as primeiras eleições multipartidárias realizadas em Setembro de 1992.

As outras liberdades como a de expressão, de opinião e de imprensa, quase que iam desaparecendo do mapa com as catanas do primeiro 4 de Fevereiro.

Felizmente tudo isto já pertence ao passado, mas nunca é demais lembrarmos que as liberdades nem sempre coabitaram pacificamente em Angola, mesmo quando se evocada uma delas como argumento supostamente legítimo, para abafar todas as outras, que foi o que aconteceu aqui na banda e ainda vai acontecendo.

O Facebook entra para uma história de grande sucesso que tinha começado muitos anos antes com invenção da Internet/rede mundial de computadores (www), que é a responsável por tudo quanto de extraordinário tem acontecido nas nossas vidas em matéria de comunicação a dar cada vez mais sentido e substância a esta era da globalização, onde quase tudo já se resolve com um clik no enter.

O Facebook (ao lado das outras redes sociais) aprofunda de tal forma esta aproximação que em Angola, com todas as barreiras que ainda existem e são promovidas, as pessoas começaram de facto a viver uma outra era, bem mais de acordo com os princípios estruturantes e abrangentes da liberdade, como sendo o bem mais precioso que temos para usufruir depois da vida e antes de qualquer tipo de tutela.

O Facebook para os ainda privilegiados, que são os angolanos que têm acesso a NET, tendo em conta que a maioria permanece na penumbra da iliteracia, é hoje pau para toda a obra na edificação de uma casa que ainda está em construção, por mais que nos queiram convencer que já estudo pronto a habitar.

A realidade diz-nos que não, que uma casa de e para todos, não pode ter só uma cor e só uma estrela no firmamento.

Se quisesse destacar um dos grandes ganhos destes primeiros 10 anos de Facebook em Angola, apontaria para o espaço de opinião e debate que ele soube democratizar como nenhum protagonista tinha conseguido até agora, no âmbito do eterno processo de transição democrática que estamos com ele.

Com o Facebook a opinião publicada passou a contar com a contribuição de novos líderes, estando-se deste modo a observar uma redução da distância que separa a opinião pública da publicada, que até então era quase monopólio de uma meia dúzia de BBs.

Os cidadãos passaram a não depender mais dos editores da média tradicional para fazerem ouvir a sua voz , defenderem as suas convicções e apresentarem as suas reclamações.

O Grande Irmão cedo percebeu que era preciso estar mais atento ao que se estava a passar neste tal de Facebok e resolveu montar piquetes no local, para ter uma ideia mais próxima da nova realidade criada com esta rede e só fez muito bem, pois passou a ter um precioso barómetro para não dar tantos tiros de canhão no seu próprio pé.

Para mim o Facebook já é hoje um factor de paulatino equilíbrio na gestão mais político-social do espaço mediático, estando as minhas preocupações anteriores mais atenuadas em relação a um excessivo predomínio do chamado pensamento único. Não acreditando em milagres, acredito, contudo, que a média cada vez mais vai passar mais pela Internet.

Não acreditando no desaparecimento da média tradicional, acho que os defensores da liberdade de expressão/opinião/imprensa estão hoje mais confortados tendo do seu lado um parceiro solidário chamado Facebook e que é sobretudo profundamente alérgico as ordens superiores de qualquer tipo e proveniência.