Lisboa - No passado dia 11 de março, uma plateia do Centro dos Estudos Africanos do ISCSP composta por académicos de várias nacionalidades lusófonas “aqueceu” debatendo a democracia e direitos dos cidadãos angolanos. Tanto que se tornou um desafio delicado de gestão de diferenças radicais de opiniões, sensibilidades e ainda mais, de fricções latentes entre Angola e Portugal.

Fonte: Lusomonitor

O convidado um Professor Titular da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto de Luanda, Paulo de Carvalho, que acedeu a responder a algumas questões do LusoMonitor.

LUSOMONITOR: Sobre a questão da Sucessão presidencial, tendo afirmado durante a conferência que se processaria por indigitação no seio do partido, pergunto-lhe se nos poderia adiantar quem são os sucessores melhor posicionados.

PAULO DE CARVALHO: É sempre difícil estar a prever quem poderá assumir a liderança de um partido tão grande quanto o MPLA. Até porque, se olharmos para o caso de Moçambique, constatamos que todos os candidatos que se perfilavam foram depois preteridos. Mesmo em Angola e no MPLA, também já ocorreu isso noutras alturas.

Mas se olharmos para quem se perfila agora, então temos a referir em primeiro lugar o Engº Manuel Vicente. É o actual Vice-presidente da República, sendo portanto quem substitui o Presidente em caso de impedimento.

Outro dos vários nomes a reter é o de Fernando da Piedade Dias dos Santos, que já foi Vice-presidente e é hoje (pela segunda vez) Presidente da Assembleia Nacional. Para além dessas funções já exercidas, integra há muito a direcção do MPLA e esteve nas Forças Armadas.

LM: Sobre as relações com Portugal, na sua opinião, até que ponto a imagem de Portugal ficou afectada em Angola, quais são as perspectivas de resolução dos actuais diferendos e existem ainda riscos de episódios semelhantes se voltarem a repetir?

PC: A imagem de Portugal está realmente afectada em Angola, devido a uma série de incompreensões e ao desejo de subalternização dos angolanos por parte das autoridades portuguesas.

As autoridades angolanas são constantemente desrespeitadas em Portugal. Mas não é tudo. Durante muito tempo, quando Portugal era destino da emigração angolana, os angolanos penavam para conseguir um visto para entrarem em Portugal. Hoje, que passou a ser Angola destino de emigração de portugueses, continuam a ser criados problemas aos angolanos que querem vir a Portugal passear. Como se justifica isso?

Portugal (quero dizer, as autoridades portuguesas) tem de começar a tratar Angola e os angolanos como parceiros e como iguais. Enquanto isso não acontecer e enquanto se pretender subalternizar os angolanos, vai continuar a haver dificuldade de relacionamento.