O crescimento do primeiro é inquestionável porque, ao chamar-lhe atenção em relação às insuficiências do seu trabalho, vai melhorar as obras a seguir se for humilde e acatar as recensões reflexivas de que for alvo o seu labor académico.

O segundo, apesar de ser o “olheiro”, também aprimora a sua destreza e agilidade científica, pois, ao criticar aguça, exercita a sua estrutura cognitiva.

De acordo com a inquietude sapiencial que me caracteriza, por duas razões fundamentais: 1) antropológica, o homem por natureza é propenso ao saber, ao debate e a investigação, mesmo que rudimentar e 2) pelo academismo, vocação e empenho singular pelas questões de gnose/episteme não podia deixar de tecer uma reflexão crítica à critica de Batsikama (contra-reacção), pelo seguinte: o homem está ferido pelo pecado das origens, ora, esta ferida é ontológica, daí que o homem caiu na imperfeição que o priva de protagonizar “actos de pensamentos” (Aguiar, R, Gerir o triunfalismo, Jornal Agora, 2008) e de outra natureza, que seja de todo acabado e livre de cicatrizes.

Desde este ponto de vista, o académico também teceu uma leitura que, apesar do mérito e brilhantismo, tem insuficiências gravosas.

De acordo com a Filosofia da Linguagem e do pensamento correcto (Lógica), as palavras devem ser tidas em conta em todo o discurso, elas têm um significado profundo. Por isso, chamou-me particular atenção a seguinte proposição: “ No primeiro capítulo, o autor «tenta» apresentar uma ‘filosofia da história angolana’”. Porque é que diz tenta apresentar? Tenta? Não apresenta ou apresenta? Não sejamos como Emmanuel Kant, que diante do problema referente à relação alma/corpo demarca-se e não toma posição (agnosticismo). Também, aqui é violado, um princípio fundamental da lógica simbólica – O terceiro excluído – Um dos sustentáculos do pensamento.

Na sequência analítica, Patrício afirma que, ao fazermos a filosofia da história angolana, com o propósito de a corrigir, caímos na mistificação da ciência do tempo referente Angola, que se evidencia na seguinte afirmação: «O autor mostra a intenção de corrigir a história existente de Angola, mas infelizmente cai vítima de contribuir na mistificação». Justifica a sua tese com o seguinte argumentário: «A bibliografia sobre a História de Angola, das origens até aos nossos dias, é superabundante, de modo que se limitar a Ki-Zerbo, Padre Imbamba, A. Seitas e M. Commerford só pode ensombrar ainda mais. Outra coisa: a história não é só descritiva, como deve o autor saber, mas também ela é analítica. Para isso, é preciso a comparação dos dados na ordem bibliográfica e na sua colocação epistemologicamente rupturesca. Talvez tal exercício poderia enriquecer mais os audaciosos argumentos que apresentam quer para a) justificar, tanto como para b) questionar a história a partir dos temas abordados nos capítulos subsequentes. (Lefebvre G., O nascimento da moderna historiografia, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1981, pp.32-56 e 89)».

Esta afirmação de que ter os autores acima como suporte, ensombra o escopo prosseguido é puramente nominalista: vazio de conteúdo, porque não se faz acompanhar de polissilogismo. Por outro lado, é falacioso porque eu deixei bem claro que o nosso objectivo é apresentar aspectos referentes à filosofia da história, ou seja, alertar para a importância e a necessidade de se preservar a história, tendo como pano de fundo os seus influxos gnosiológicos, as sua virtudes que nos permitem voltar ao tempo, compreender os erros do percurso existencial e resolver os problemas hodiernos da melhor forma possível.

Porém, em nenhum momento, afirmei que estávamos a fazer história, como nos confirma a seguinte proposição: “ (…) não cabe ao filósofo escrever a história de (Angola) mas aos historiadores, ao filósofo cabe-lhe avaliar as implicações da história no presente e no futuro, e é isto que estamos a fazer.

Não sou historiador, por isso gostaria de vos dizer que não farei aqui um minucioso trabalho de história de Angola. Faço esta breve retrospectiva pela seguinte razão: «Muitos dos problemas (…) que, actualmente mantêm a sociedade angolana num estado de enfermidade, só podem ser compreendidos caso saibamos a nossa história, próxima e remota de …».

Ainda de acordo com a análise de Patrício, «os influxos sociológicos que desmesuradamente o autor abordamos nos pontos 4.3, 4.4, 4.5, 4.6 e 4.7 (quarto capítulo) encontram a sua cómoda incorporação no capítulo 2 (economia angolana)». Este problema é artificial.. Para nós, a integração destes temas na área onde estão situados é perfeitamente razoável e cómodo, a contar com a «tenuidade» da separação dos saberes no mundo contemporâneo, ou seja, hoje não existe uma clara separação entre alguns saberes, ex. Se estivermos a fazer um discurso de âmbito psicologicista, ele nunca será completo, caso não tenha os aportes do saber sociológico e pedagógico e em muitos casos do serviço social.

O mesmo acontece com a história, não pode apresentar um discurso composto sem o bendito auxílio da arqueologia, da antropologia ou da geografia, daí que hoje muitas temáticas são abordadas pelas mesmas ciências, sem ser motivo de constrangimento.

Outro argumento de peso esta no aborto, estudado pelas seguintes ciências: bioética, teologia, moral, ética, medicina, psicologia, sociologia e direito, só muda a perspectiva de abordagem, ora, nenhuma ciência reclamar a exclusividade da questão. Porém achamos que encontram enquadramento tanto na área proposta por Batsikama como naquela onde está.

Em relação às supostas faltas de sistematização e metodizacão do livro, não passa de mais uma falácia vazia de argumentos, por ele referidas, sem sustento argumentativo. Mero sonho!

Em última instancia, o que dizer sobre a crítica que nos foi imposta pelo interlocutor em questão? Gostaria de ratificar as afirmações acima evocadas. Este exercício é mais do que necessário para uma sociedade que se quer desenvolvida, por isso continue, escreva também o seu livro, não berre só. Obrigado!

Fonte: Folha8