Luanda - O ex-primeiro-ministro da I República e ex-deputado do MPLA, Lopo do Nascimento, considerou em Luanda que o país não conta com um sector privado como se diz. Lopo do Nascimento fez esta afirmação quando intervinha no workshop ’Agenda de Desenvolvimento de Infra-estruturas de Angola: como o Banco Africano de Desenvolvimento pode ser determinante na transformação de Angola’, evento co-organizado pelo BAD com o apoio do Ministério das Finanças.

Fonte: O pais

Amílcar Xavier impediu jornalistas a cobrir a intervenção de Lopo

Lopo do Nascimento, que falava na qualidade de empresário convidado, confrontou o representante deste banco africano, Sptime Martin, com o desafio do investimento no capital humano a par da boa execução dos programas.


‘Seria fundamental que este aumento da taxa de execução, e da boa execução, fosse feito e que também fosse introduzida a necessidade de investimento no capital humano’, disse, adiantando que ‘o BAD deve participar no investimento do capital humano porque sem capital humano a gente pode fazer tudo mas as coisas não ficam nas nossas mãos, ficam nas mãos dos outros e o BAD, como é um banco africano, deve fazer com que em África fique alguma coisa’.

O empresário chamou ainda a atenção para a entrada do capital privado, embora entenda que ‘é preciso ter um pouco mais de comedimento nesta questão da entrada dos privados, porque é evidente que o BAD, como um banco continental, tem as suas regras que são gerais para todos, mas é preciso olhar para o pais onde se está’.

‘Aqui fala-se muito em privado, privado, mas o privado em Angola começou a ser falado em 1990, e começou a ser executado praticamente depois de 2002. Então, se vocês como BAD pedem a participação dos privados, eu tenho uma empresa, criei há pouco tempo, evidentemente não posso ser pré-seleccionado. Por quê? Porque antes não era possível criar essa empresa’, referiu.

Lopo do Nascimento citou como exemplo o facto de a sua família ter criado uma empresa, em 1919, a qual com o Estado Novo foi encerrada, contribuindo para que hoje não tenha uma família de empresários. ‘Vou lhes dar um exemplo: a minha família criou uma empresa em 1919, no tempo colonial, que produzia e exportava café. Quando veio o Estado Novo, em 1920, a empresa foi encerrada porque os negros não podiam ter empresas. Se aquela empresa não tivesse sido encerrada, hoje nós eramos uma família de empresários. Mas não foi assim. A história do país não é esta’, referiu.

Nascimento criticou os critérios do BAD relativos aos anos que os empresários têm de ter para conseguir acesso aos financiamentos, o que, na sua óptica, não contribui para que os angolanos tenham alguma coisa.

‘Estão a vir com critérios de que o empresário tem que ter tantos anos, se o senhor pedir a um empresário angolano que participe, que tenha uma empresa com mais de 10 anos de trabalho, não vai encontrar empresas nessas condições. O Estado vai pagar, vai ter a obra, mas os angolanos não vão beneficiar de nada’, disse.

Estabilidade dos países

Para Lopo do Nascimento, a estabilidade dos países resulta da situação dos seus habitantes e não de critérios como o PIB. ‘A estabilidade dos países resulta da situação dos seus habitantes. Não é de critérios de PIB. É a situação dos habitantes que torna os Estados estáveis ou não estáveis, porque se as pessoas não tiverem nada a perder ou a ganhar o país não é estável’, adiantou.

Precisou que um país só é estável quando as pessoas têm algo a perder, ‘quando dizem eu vou perder e o meu filho não vai à escola, eu não vou ter o meu emprego. Agora, se o meu filho não vai à escola, não vou ter emprego, não tenho rendimento para ele, não há estabilidaede. Pode haver o PIB que se quiser e eu acho que é preciso que nós, os paises africanos, comecemos a ter uma nova visão das coisas e é preciso que o BAD veja bem esta questão dos privados em Angola, porque não há. Vamos ser excluídos. E quando as pessoas se sentem excluídas não estão para garantir estabilidade nenhuma’.

Lopo do Nascimento colocou estas e outras questões à mesa, numa sessão em que estiveram presentes os ministros das Finanças, Armando Manuel, e João Baptista Borges, da Energia e Águas.

IMPRENSA RETIRADA DA SALA

Diante da evidência e frontalidade de alguns recados de Lopo do Nascimento, um caso insólito e até mesmo incompreensível, foi notado com a atitude do assessor de imprensa do Ministério das Finanças, o também jornalista da Radio Nacional de Angola (RNA), Amílcar Xavier, que num tom menos cortes impediu os jornalistas presentes na sala de continuarem a realizar o seu trabalho, principalmente o repórter do semanário OPAIS, quando o ex-deputado do MPLA intervinha.

Amílcar Xavier alegou que, por orientação do ministro das Finanças, os jornalistas não deviam permanecer na sala. “O ministro disse que nesta parte a imprensa não podia estar. Compreenda o meu trabalho, estou como assessor”, indicou, atitude esta que indignou alguns presentes que presenciaram a cena e principalmente o jornalista visado.