USA - Como a muitos de vocês, a mim sempre dito que os primeiros africanos a chegar no que é hoje os Estados Unidos foram os "20 e ímpares" africanos que chegaram como escravos em Jamestown, Virgínia, a partir do país que é hoje Angola, em 1619. Mas isso acaba por não ser verdade. Por uma questão de fato, os africanos chegaram à América do Norte mais de um século antes do Mayflower* desembarcar em Plymouth Rock e antes daqueles angolanos chegarem na Virgínia. Além do mais, até sabemos a identidade do primeiro Africano documentado a chegar. Seu nome era Juan Garrido, e mais surpreendente, ele nem sequer era um escravo. O próximo ano será o 500 º aniversário de sua chegada a Flórida, e o Estado planeja comemorar este acontecimento notável.


*  Editado&adaptado: Alberto Castro
Fonte: http://www.theroot.com

Juan Garrido nasceu na África Ocidental por volta de 1480. Segundo os historiadores Ricardo Alegria e Jane Landers, a ''probanza'' (prova) do registo notarizado de Garrido (o seu curriculum vitae, mais ou menos), datado de 1538, diz que ele mudou-se da África para Lisboa, Portugal, de sua própria vontade como um homem livre, ficou em Espanha por sete anos e depois, em busca de sua fortuna e talvez de um pouco de fama, juntou-se aos primeiros conquistadores do Novo Mundo. Todas as testemunhas juramentadas a este documento afirmam que Garrido era "horro" (forro), ou livre, quando ele chegou à Espanha. Navegando de Sevilha por volta de 1508, ele chegou à ilha de La Española, que é hoje chamada Hispaniola, a ilha em que a República Dominicana e o Haiti compartem. Mais tarde, estabeleceu-se em San Juan, Puerto Rico.


Garrido é o primeiro negro a chegar documentado neste país, e ele também é o primeiro conquistador negro. E como os outros conquistadores, Garrido logo sucumbiu à tentação da riqueza e da fama no Novo Mundo. Juntou-se a Diego Velázquez de Cuéllar e ao lendário Juan Ponce de León nas colonizações de Cuba e Porto Rico, respectivamente. Depois, em 1513, juntou-se à conhecida expedição de León para a Flórida em busca da Fonte da Juventude, tornando-se no primeiro africano conhecido a chegar ao país.


Em sua "probanza", e num gesto digno da tradição significante que se seguiria, Garrido afirmou ter sido "o primeiro a plantar e colher trigo" no Novo Mundo. Para que não sejamos tentados a romantiza-lo, é importante lembrar que Garrido, assim como os outros conquistadores, não era nenhum santo: Ele também participou da destruição do Império Azteca por Hernán Cortés, juntamente com 100.000 aliados Tlaxcalan. Estabeleceu-se na Cidade do México em 1524 por quatro anos, onde então começou uma operação de mineração de ouro com o trabalho escravo. Ele juntou-se a Cortés na década de 1530 para outra expedição na baixa Califórnia, em busca das míticas Amazonas Negras. Foi recompensado por seus serviços à Cortes com terra e posições pagas.


De acordo com o livro de Mateus Restall, Conquistadores Negros, Black Conquistadors (pdf), entre 1524 e 1528, Garrido era um residente da Cidade do México, e 10 de fevereiro de 1525, foi-lhe concedida uma casa de conspiradores. Entre 1524 e 1526, ocupou o cargo de "porteiro"  e também foi um "pregoeiro"  e guardião do aqueduto de Chapultepec. Pregoeiros poderiam atuar como polícia, leiloeiro, carrasco, gaiteiro, mestre de pesos e medidas, e porteiro ou guarda.


De volta à cidade do Mexico, onde morreu no final da década de 1540, ele passou seus últimos anos como um súbdito espanhol.


Traduzido de ''Who was the first African American?'', um artigo de Henry Louis Gates Jr., director do Instituto W.E.B. Du Bois para Pesquisa Africana e Afro-americana da Universidade de Harvard. Ele é também colunista do New Yorker e editor-em-chefe da revista The Root.


*Mayflower era um barco que transportava principalmente Separatistas e Puritanos ingleses. Foi por alguns considerado como o primeiro navio negreiro a atracar no continente norte-americano.