Benguela – O fim da 2ª Guerra Mundial trouxe consequências inapagáveis na nossa memória colectiva, atrocidades e monstruosidades de actos que ultrapassaram o cúmulo da razão humana. Duas grandes “ideologias comuns” atraíram milhares e milhares de almas ao abismo infernal: a Alemanha de Adolfo Hitler e a URSS (União das Republicas Socialistas Soviéticas) de Joseph Estaline.

Fonte: Club-k.net
Inicialmente companheiros, no auge da amizade assinaram um “pacto secreto” de partilha territorial do “mundo” e da não-agressão entre ambos. Mas ambição incontrolável de Hitler quebrou o “contrato”, atacou à URSS. Fala-se que o frio intenso anulou as ofensivas alemãs. Mais tarde, os aliados impediram e aniquilaram as pretensões alemãs de colonizar o mundo.  

Esta derrota permitiu aos EUA, Inglaterra e URSS a criação de instrumentos legais cujo objectivo era julgar e condenar nazis capturados e escolhidos a dedos, a prisão perpétua ou morte, no Tribunal de Nuremberg. Enquanto outros foram “reaproveitados” como cientistas, agentes secretos e abrigados em “esconderijos abertos”.

O totalitário Estaline praticou actos hediondos senão comparadas à Alemanha, campos de concentração, extermínio da oposição, lavagem cerebral ao povo, culto de personalidade, espirito de superioridade, assassinos selectivos, restrições severas de liberdade pessoal e um sistema de espião “sofisticado”.

Foram os modelos para perpetuação do poder. Mas como esteve ao lado dos vencedores, saiu impune. É assim que acontece sempre aos gloriosos. É incontentável que quer Estaline quer Hitler arrastaram cegamente para os seus intentos grandes homens, desde cientistas ao mais humilde cidadão que arduamente apresentavam relatórios agradáveis aos chefes. E depois? Perguntar-nos-iam.

Pode parecer ridículo para algumas pessoas ilustrarmos estes dados, a nossa intenção é fazermos um paralelismo das páginas do nosso arquivo nacional histórico com alguns acontecimentos do passado que conduziram o mundo à guerra e que podem ser evitáveis no nosso contexto. É no fundo uma reflexão preventiva.

Intelectualmente falando, podemos afirmar que Angola é um Estado Democrático e de Direito e não ditatorial como propagam algumas vozes. É verdade que ainda restrições que existem um grupo faz e desfaz. Mas quem estudou ou viveu em ditadura, não caí no discurso populista que o país é ditatorial.

O dia 4 de Abril não é somente o dia da paz, é também o da Reconciliação Nacional. O que frequentemente não acontece nem é referenciado. Todos sabemos que foi um grande sacrifício de milhares de pessoas principalmente jovens que eram escorraçados das salas de aula, do trabalho, de casa ou da rua para depois de um treino relâmpago combaterem a sério.

Por isso, não é individualizado o mérito da paz como forçosamente nos querem fazer crer. Quem entre nós não perdeu pais, filhos, irmãos…? Quem sentiu na pele a fome da guerra? Onde estiveram os seus parentes? É preciso prudência para pessoalizar a nossa estabilidade e às nossas conquistas.

Hitler e Estaline instrumentalizaram o povo com “métodos eficazes” até génios não escaparam as malandrices dos dois. No nosso caso a “fé e a idolatria” aos chefes quer no partido no poder quer na “maldita oposição” e em outras instituições dos  mais pequenos grupos de amigos ás igrejas, quem se atreve a contrariar os líderes, mesmo tendo razão é combatido severamente. Habituámos-mos a ter o chefe como um semi-deus.

Cá entre nós, houve apenas metamorfose em relação aos métodos, são menos “hediondos” mas com uma arma legal refinada, culto a personalidade a todos os níveis, os cabeças de listas das organizações/instituições/grupos são apenas responsáveis pelos êxitos, nunca os fracassos. Os seguidores defendem-nos até o mais absurdo erro ou acto, e quando os equívocos são graves e indesmentíveis acusam-se. Tristemente confirmam o dito popular “ o rei nunca erra.” Aí de quem ousar critica-lo abertamente! Desde o berço que a criança é ensinada assim. O Estado de Estaline “condecorava” meninos que denunciavam os pais ou outras pessoas de inimigo do povo (no caso angolano lembram-se do Augusto Ngangula?!).

Na URSS de Estaline a intoxicação propagandística atingiu a médula do povo. Quando ele morreu milhares de pessoas ocorreram para o ver “pessoalmente morto”. Por causa da ansiedade morreram muitas pessoas que tentavam enfrentar às filas longas e os empurrões. Talvez seja por  dor nacional, a perda do seu líder supremo. Pode ser verdade porém a figura de Estaline ultrapassou os limites da dor, tornou-se idolatria. São efeitos desastrosos da propaganda!

Aquando da nossa luta para independência e depois da sua conquista todos os movimentos montaram um sistema de propaganda e contrapropaganda que em alguns casos cheiravam absurdo e irracionalidade. Acusando-se de canibais, terroristas, tribalistas, crioulos… E lamentavelmente, o povo de cada lado da estrada acreditava efusivamente.

No período de guerra interna com os meios de comunicação social em cena e os interesses das potências mundiais em jogo, aconteceram simulações de victorias, imagens e áudios trabalhados, entrevistas camufladas … Tudo que era “digno” para exibir os avanços das ofensivas e as derrotas dos outros. Sempre funcionou a lei do vale tudo, quem diz o contrário!  Até que a paz chegou, não foi apenas resultado ou vontade dos angolanos, existirem jogos dos bastidores que estão longe dos olhos do povo, são ultrassecretos.

Após a paz em Angola os métodos propagandistas aperfeiçoaram-se em todas as dimensões, alguma imprensa cumpre agenda do poder, “publicidade institucional do Executivo”, atrasa dolosamente o exercício experimental da cidadania. Tal como em Nuremberg, onde os derrotados foram humilhados, esta imprensa faz perfeitamente isso.

Torna em delírio político partidário as festividades nacionais, é o eco comum dos ganhos, que tudo está bem e quando há evidência que está mal cria-se uma vítima. Há um clima de verdadeira obstrução as vozes contrarias! A outra imprensa e os seus adeptos procuram incansavelmente uma nódoa para noticiar ou relevar.

São muito perigosos estes comportamentos, estão armadilhar o futuro. De um lado o país tem rumo do outro lado vive-se do prazer dos contrários, discussão aberta dos números 66 ou 99. Na generalidade a sociedade angolana com pouquíssimas excepções, sente o ser e fazer cidadania. Há holofotes para todos!

A história se repete da concorrência politica ou de outra índole que é benéfica. Todavia há aspectos que devem ser reprovados e analisados.,foram “erros” do passado que se alicerçaram na nossa vida e fazem hoje “ hábitos alimentares”. A descriminação e a exclusão do próximo demostraram-nos que retrocedem o país a todos os níveis, é uma condenação do vindouro.

Os nacionalistas Agostinho Neto nasceu 17 de setembro de 1922 e morreu 10 de setembro de 1979, aos 57 anos, se vivesse até hoje teria 92 anos. Holden Roberto nasceu 12 de janeiro de 1923 e faleceu 7 de agosto de 2001, aos 78 se estivesse vivo teria 91. E, Jonas Savimbi nasceu 3 de agosto de 1934 e morreu 22 de fevereiro de 2002,aos 68 anos, se vivesse hoje teria 80 anos.

O mais velho deles é Neto depois Roberto e o mais novo Savimbi, tinham grandes divergências e às costas forças estranhas. Se Estivessem vivos apesar de muitos ganhos da paz, entenderiam que o foco do problema continua ser o mesmo. Excesso de protagonismo, egoísmo unilateral de grupos e elites. Estão a repetir a história, sem nada aprender dela. É o momento de pensar e fazer Angola.