Benguela - Ponto prévio: «Somos indignos para falar do grande Sócrates»

É «consensual» a figura de Sócrates, sábio imensurável e bom cidadão ateniense. É chorosamente lembrado por todos, suas perguntas sem fim, sua teimosia na procura da verdade, sua condenação brutal a pena de morte por envenenamento, acusado de descrença aos deuses, inventar outras crenças e de corromper a juventude da sua terra, Atenas, o berço da «democracia moderna».

Fonte: Club-k.net

A herança da antiguidade inspirou o nosso mundo de valores universais humanitários que se alicerçam na liberdade, estabilidade e paz planetária não obstante a sua própria ilusão.

 A juventude angolana continua a ser corrompida, não como Sócrates que instruía os seus concidadãos a «procura da verdade» mas de «inverdades absolutas verdades». Parece paranóico!

Há modelos instalados e propositados a dilacerar o tecido juvenil vivente. O povo ateniense sustentava a sua democracia aos deuses, os mitos inquestionáveis e inderrubáveis, que se tornaram o arsenal de conhecimento transmissível de geração em geração, quando o «sábio dos sábios» ousou inquirir e descobriu furos nas crenças, enfureceu os seus detractores.

 Vivemos num país onde todos cultivaram a verdade na terra infértil e se sacrificam em colher ou melhor tirar do subsolo o verossímil. Ninguém se admite falível não obstante contrariar a teoria da imperfeição humana.

Os jovens continuam a ser aliciados com mitos que se tornam história e história que se tornam mitos. Mais um Abril passou tal como os outros, a maior polémica eterna, actual e irresolvível, dia nacional da juventude, o 14 de Abril permanece «viva de vida». Contradições e contra-argumentos vagueiam, por um lado os impositores recorrendo à gramatica do poder e da força, por outro lado «os negadores da negação» feridos na defesa do «interesse nacional». É preciso por fim nisso! Até quando?

O «filósofo dos filósofos» preferiu morrer à viver na mentira. Negou outra solução nem se preocupou em salvar a sua vida. O legado que nos deixou é a urgência ao «assalto» que devemos fazer ao encontro da «verdade histórica nacional», afugentar-nos da manipulação e de outros meios que corrompem a medula juvenil.

Devemos construir uma juventude baseada num projecto «verdade» e de valores, e os nossos mais-velhos serem capazes de reconhecerem que falharam, quiçá criar uma comissão da verdade, tal como um dia sucedeu na África do Sul.

Sócrates tomou o veneno convicto que a morte era a única consequência do seu acto. Na nossa actualidade, os jovens bebem (ou são vítimas do embebedamento) dos venenos de hoje: a manipulação, a prostituição, o alcoolismo, intolerância, exclusão…não é com este armamento que o futuro estará nas suas mãos como erroneamente se propagou, talvez haja alguma «raridade».

O veneno da condenação de Sócrates cumpriu a sua missão, destruiu os seus órgãos vitais, retirou-lhe da convivência humana. «Os projectos e projectados», «as conferências e os congressos», «os debates e os monólogos» para juventude apesar da evolução e a visão do único ser pensante na terra, estão a revelar-se «improdutivos».

É melancólico, olharmos no seio juvenil e quase não temos referências positivas e pessoas íntegras, algumas que apareceram contundentes ou patriotas e que tinham (têm) um perfil de líderes desapareceram ou não resistiram à fila do petróleo e dos dólares, deixando os seguidores perdidos e boquiabertos. «O dono do saber» nunca desamparou os seus discípulos até no leito da sua morte, consolou os seus próximos.

 Depois da morte de Sócrates o «mundo grego» reconheceu-lhe o mérito. Auguramos que a juventude não morre no obscurantismo e viva a procura da verdade. «O país não se faz, somente atrás do dinheiro»