Luanda - A designação de David Nahenda, no passado dia 24 de Junho, para o cargo de secretário para informação e propaganda do Comité Provincial do MPLA, em substituição de Zacarias Davoca, que agora ocupa a função de secretário para os assuntos políticos, económicos e eleitorais, que por sua vez sucedera ao agora vice- governador Victor Sardinha Moita, não só passou despercebido para a imprensa do fim-de-semana como também para os órgãos oficiais do governo.

Fonte: SA

A notícia da sua ascensão acabaria por surpreender os meios políticos e sociais benguelenses, em meio a algum cepticismo, pelo facto de David Nahenda ser uma figura não muito benquista por cá.

Segundo fontes do Semanário Angolense, a elevação de David Nahenda para o prestigiado cargo de secretário para informação, teria obedecido aos interesses de um núcleo restrito da comissão executiva do partido local, que pretendeu com o «black-out» evitar qualquer «bloqueio» à sua nomeação.

Consta que a sua ascensão teria sido feita a contra-gosto do primeiro secretário provincial do MPLA, Isaac Maria dos Anjos, que se veria obrigado a render-se aos ditames do grupo que o promoveu, para evitar uma «guerra interna» entre os membros da comissão executiva do partido em Benguela.

No entanto, segundo as nossas fontes, é possível que a promoção de Nahenda vise dotar-lhe de poder político suficientemente capaz de evitar uma eventual detenção sua num processo-crime em que está envolvido, instaurado pelo ministério público, sob a acusação de peculato.

«É pouco provável que, agora que foi indicado nesse cargo, que o coloca praticamente como a terceira pessoa do partido em Benguela, a PGR ganhe coragem para mandar detê-lo, sabendo-se como o poder político interfere e influencia as decisões do judiciário», explicou uma das fontes que temos estado a citar.

Para elas, apenas nesse sentido se pode compreender a sua ascensão, uma vez que não se reconhece a David Nahenda capacidade intelectual e bagagem política suficientes para responder a contento as elevadas responsabilidades e exigências do cargo que passou a ocupar muito surpreendentemente.

«Se quisermos ser um partido forte e dinâmico, temos que passar a colocar as pessoas certas nos lugares certos», disse um militante de proa do partido dos camaradas. Acrescentando: «Um secretário para informação deve ser um mobilizador nato e uma pessoa com boa capacidade oratória, requisitos que todos sabemos que escapam a David Nahenda».

De resto, a ascensão de David Nahenda acontece numa altura em que o partido no poder em Benguela atravessa um mau momento em termos de adesão desde as eleições gerais de 2012. Na verdade, é cada vez mais fraca a adesão que o MPLA vem registando nas suas actividades de massas, como sinal de que algo não vai bem em termos de mobilização, ficando-se por se saber se é resultado do desencanto dos cidadãos pelo sofrível desempeno da sua governação ou se terá a ver com o facto de muitos militantes não verem compensados o «litro» que dão pela sua causa.

Quem é quem

Mas, quem é o homem de quem se fala? David Luciano Nahenda, natural da Ganda, foi durante 7 anos o primeiro secretário da JM- PLA nesse município, tendo, em 2009, sido guindado ao cargo de secretário provincial da organização. Aos 43 anos, é estudante do último ano do curso de Ciências da Educação no ISCED/Benguela, uma das unidades orgânicas da Universidade Katiavala Bwila.

Ao nível da administração pública, já foi responsável da repartição municipal da educação na Ganda, tendo sido exonerado por suposto desvio de fundos públicos calculados em largos milhões de dólares. Em consequência disso, há cerca de quadro meses havia sido encarcerado na cadeia do Cavaco, por ordem do Ministério Publico.

Estranhamente, foi posto em liberdade provisória, com termo de identidade e residência, quando os restantes implicados no mesmo processo-crime permanecem detidos, a aguardarem o julgamento atrás das grades. É este o novo «porta-voz» do MPLA em Benguela.

«Camaradas» desdramatizam

O segundo secretário provincial do MPLA, Veríssimo Sapalo, em conversa com o Semanário Angolense, desdramatizou a polémica em torno da ascensão de David Nahenda, revelando ainda que as remodelações registadas foram feitas em função das vagas deixadas por dois dos seus dirigentes.

Uma das vagas foi deixada por Victor Moita, que é agora vice-governador, obrigado a abandonar o seu cargo partidário por incompatibilidade funcional, ao passo que a outra ocorreria por morte do titular, o «camarada» Francisco Florentino, que era o secretário para administração e finanças, lugar que será preenchido por Rosa Anastácia de Sousa.

«São mudanças necessárias e esperamos que essas pessoas correspondam às funções que foram indicadas», disse. Quanto a polémica da ascensão de David Nahenda, Veríssimo Sapalo disse que o seu partido respeita aquilo que é a visão exterior da questão, mas sublinha que essa visão pode não ser a real.

«Somos daqueles que acreditam que ninguém nasceu ‘quadro’. E como ninguém nasceu ‘quadro’, resta-nos apenas trabalhar para corresponder às exigências que a sociedade nos impõe», defende o segundo secretário provincial do partido dos camaradas em Benguela. Questionado se o MPLA não teme que venha a ser acusado de estar a dar cobertura a um militante com sérios problemas judiciais, Veríssimo Sapalo disse o seguinte: «Sabemos que o processo decorre os seus trâmites. Respeitamos o trabalho dos órgãos de justiça, mas enquanto não for provado em sede do tribunal a sua culpabilidade, o partido tem de seguir os seus estatutos, que defendem que não se pode sancionar quem sobre si nada de mal foi provado».