Lisboa - O livro "O Último Banqueiro" de Maria João Babo e Maria João Gago, narra, entre outras histórias, as peripécias sobre o valor que Ricardo Salgado recebeu do construtor civil que aconselhou a ir para Angola.

Fonte: Expresso

Afinal, o banqueiro Ricardo Salgado terá recebido 14 milhões de euros - e não 8,5 milhões - do construtor José Guilherme, revelam as jornalistas Maria João Babo e Maria João Gago no livro "O Último Banqueiro", que será lançado em Lisboa a 15 de julho.

Este terá sido o montante pelo qual José Guilherme agradeceu os conselhos que Ricardo Salgado lhe terá prestado sobre o mercado angolano.

Os contornos sobre esta situação já tiveram outras versões e fizeram correr muita tinta nos jornais - a propósito das investigações sobre o Caso Monte Branco e sobre a Operação Furacão. Agora, descobre-se que esta quantia acabou por ser justificada ao Banco de Portugal por Ricardo Salgado recorrendo à curiosa figura jurídica da "liberalidade", aceite pela lei portuguesa.

Dito de outra forma, este valor foi um "presente" que o construtor gentilmente transferiu para a sociedade offshore de Ricardo Salgado, a Savoices, num montante que, afinal, se aproximou dos 14 milhões de euros.

A "liberalidade" mostra o agradecimento de José Guilherme pelo eventual aconselhamento que lhe foi prestado por Ricardo Salgado, presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES) quando o construtor quis alargar os seus negócios para os mercados do Leste da Europa. Ricardo Salgado recomendou-lhe, em alternativa, a entrada no mercado angolano.

Esta oferta de José Guilherme - que obrigou Ricardo Salgado a alterar a sua declaração de rendimentos de 2011, levou o banqueiro a solicitar em 2012 o abrigo do RERT, o Regime Excecional de Regularização Tributária, e, voluntariamente, impeliu-o a expor tudo ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal - é narrada no capítulo VIII, "O Longo Braço da Lei".

Ricardo Salgado, sobrinho-neto do fundador do banco, conhecido como DDT - Dono Disto Tudo, primeira figura do banco de todos os regimes, é agora retratado nos acontecimentos mais mediáticos em que esteve envolvido ao longo dos 20 anos da sua liderança do BES, com especial destaque para as relações com o regime de José Eduardo dos Santos, com o BES Angola, com a Escom, as batalhas com Álvaro Sobrinho ou a luta pelo controlo da Semapa - uma das suas guerras mais mortíferas, que tornou, irreversivelmente, Pedro Queiroz Pereira num dos principais inimigos de Ricardo Salgado.

Assim, no "banco que nunca deixava cair ninguém, caiu o próprio líder". É neste tom que acaba o prólogo de "O Último Banqueiro", onde é enquadrada a reunião do Grupo Espírito Santo (GES) de 7 de novembro de 2013, efetuada em Lisboa, no edifício cor de rosa do número 62 da rua de São Bernardo, por ironia do destino a casa de infância de Ricardo Salgado.

Segundo o livro, essa foi a última vitória familiar do banqueiro Ricardo Salgado, quando reuniu, sobre si, os votos de confiança dados pelos vários ramos da família. Culminando na "derrocada" de julho de 2014 - que marca a saída de Ricardo Salgado da liderança do BES -, o livro narra, em nove capítulos e um epílogo, as tragédias que estão a afetar uma das famílias mais poderosas da alta finança europeia.