Luanda - Embora não conheça a realidade do jornalismo que se faz em todos os países africanos de língua portuguesa, atrevo-me a afirmar, neste espaço, que Angola está à frente em matéria de qualidade, um facto que é resultante dos investimentos na formação técnica dos profissionais de comunicação social e na aquisição de equipamento de trabalho de última geração.

Fonte: Facebook

Mas, apesar da qualidade que é visível naquilo que se faz a nível da imprensa, da televisão e da rádio, temos, ainda, algumas insuficiências, que não resultam da Linha Editorial de cada órgão, mas sim, na minha humilde opinião, da falta de perspicácia e de vontade de mudar o paradigma, ou melhor, a matriz da nossa comunicação social. Há, na verdade, sinais de mudanças e vejo-os, por exemplo, no jornal A Capital, que faz um trabalho extraordinário, pelo que é um dos meus jornais de eleição no processo de leitura obrigatória aos finais de semana. Porque? É muito simples a resposta: é um jornal socializante. O programa “Ecos & Factos”, da Televisão Pública de Angola (TPA), é um excelente trabalho jornalístico televisivo que sobressai da grelha de programas da televisão pública. Porém, julgo que o produto do Ecos & Factos seria consumido por um número considerável de telespectadores se a sua importância fosse elevada à categoria de assuntos que são reportados pelo Telejornal, o seu principal serviço noticioso.

Meus senhores, é necessário que socializemos a nossa comunicação social, trazendo a público, de forma pormenorizada, regular e com um acompanhamento rigoroso, assuntos de carácter social. A pauta política é, sim, merecedora de destaque, mas dentro de uma lógica de trabalho que não pode diminuir a importância da pauta social, até mesmo na escolha da manchete. Ontem, a TV Zimbo, ao transmitir em directo o incêndio na Shoprite, deu uma aula de como deve ser feita a cobertura de acontecimentos não previstos na agenda jornalística. O excelente trabalho feito pela TV ZIMBO – e está de parabéns - já deveria ser algo corriqueiro a nível das duas únicas estações de televisão, porque têm profissionais e equipamento tecnológico à altura. E mais: é necessário que a transmissão em directo seja suportada pelo debate em estúdio do assunto, para o que devem ser convidados um ou vários especialistas para que possam trazer a público subsídios técnicos à volta do assunto em questão. Quando é que veremos com regularidade a interrupção da transmissão de um programa para ser divulgada uma importante notícia, nacional ou internacional? Não basta que o título de tal notícia seja passada em rodapé.

O nosso jornalismo também peca pela falta de acompanhamento das matérias já publicadas. O mercado está a crescer, pelo que cada órgão deve ser cada vez mais acutilante, porque o primeiro a chegar à notícia vai ganhar, sempre, a confiança do consumidor do seu produto. Os órgãos devem trabalhar sempre na lógica da concorrência e não dormir à sombra da bananeira, porque depois ficam a ver a caravana a passar.

A existência do pauteiro, uma figura que julgo ser de suma importância e que falta nas nossas redacções, já devia ser promovida pelos órgãos de comunicação social, públicos e privados. Como nenhum produto jornalístico é acabado, o pauteiro, um jornalista com uma larga experiência profissional, deve também “bisbilhotar” as insuficiências do produto publicado por algum órgão de comunicação social para que o órgão a que está vinculado o publique com uma nova roupagem. O pauteiro apenas se dedica a fazer, diariamente, pautas, nas quais orienta, sobretudo os jornalistas menos experientes, o que deve ser e como recolhido. A consulta do que é feito pela concorrência ajuda-o a fazer o seu trabalho.