Lubango - Aristoteles na sua celebre afirmação, definiu o homem como " um animal político, porque nasceu para viver em sociedade". Essa natureza social do homem, decorre do facto de que "dotado de sentimentos e de razão, o homem precisa de comunicar, de trocar experiências, de produzir bens para si, sendo absolutamente impossível criar sozinho tudo o que necessita para sobreviver".

Fonte: Club-k.net

Reforçando ainda essa ideia, dizem os sociólogos que nem sempre uma reunião de indivíduos por mais grande que seja se pode considerar uma sociedade. Para que um agrupamento humano possa ser considerado como uma sociedade devera ter um valor, um bem que todos considerem como tal, devera se manifestar em conjunto visando atingir a finalidade social e devera por ultimo possuir o poder social.

Olhando para a nossa realidade, notamos que a nossa "sociedade" segue de forma muito separada e desconexa, não possui um agrupamento humano com características de uma sociedade como tal, pois, ela não possui pessoas com acções coordenadas que visam atingir um objetivo comum ( bem comum). Não vivemos pois, numa sociedade, vivemos sim numa autentica selva onde cada um de forma isolada procura safar-se como pode.

De um tempo a esta parte, tem surgido em Angola movimentos sociais de reivindicação, sobretudo juvenis que têm chamado na berra a forma perniciosa como o nosso País vem sendo gerido. Infelizmente esses movimentos têm levado a sua luta isolados, não têm tido apoio social o que torna muitas vezes infrutíferas as suas reivindicações.

No passado dia 2 de junho do corrente ano, o Sinprof da Huila, cansado das juras não cumpridas do Governo Provincial da Huila, decretou uma greve pelo que dias depois pretendeu realizar uma marcha com vista a chamar a atenção dos problemas que a educação vive naquela circunscrição geográfica. Todos nós recebemos como se fosse o detonar de uma granada as notícias de que muitos  professores tinham sido escorraçados das ruas,  presos e uns violentados. Ninguém ousava acreditar que toda uma classe seria vilipendiada em busca dos seus direitos. Se todas as outras manifestações anteriores foram abortadas com caenches e policias, com escusas de que eram arruaceiros que poderiam provocar o retorno a guerra, o mesmo não se aplica aos professores. Portanto aqui já não cola o argumento de que " são indivíduos frustrados que não tiveram sucesso acadêmico".

Ora, se podemos considerar a atitude do Executivo condenável a todos os títulos, o mais execrável ainda foi sim o silêncio e a serenidade com que a sociedade encarou o assunto.  Esperava-se da sociedade, uma reação enérgica de solidariedade sem precedentes, esperávamos assistir associações sindicais locais e de outras Províncias,  sociedade civil e associações não profissionais a condenarem com veemência tal atitude e a mostrarem solidariedade total, que redundaria até em repartir os riscos com seus confrades. Afinal estão  a mexer com aqueles que têm a missão de educar os nossos filhos e por consequência velar pelo futuro desse País. Ao contrario, tudo passou como normal, a sociedade não fez jus ao seu poder e o executivo procedeu a seu Bel-prazer, uma autentica cumplicidade entre o opressor e o oprimido. No meio desse silêncio  absurdo, numa passividade transcendental, uma aluna num desabafo desesperadamente vociferou; « vou levantar os meus documentos, o destino é um colégio, já não está a dar!»

Já no ano passado um grupo de jovens em solidariedade ao movimento revolucionário pretendia realizar uma manifestação na cidade do Lubango, e num dos pontos da reivindicação pediam exatamente a resolução imediata dos problemas dos professores na Huila. Na altura a referida manifestação como é de habito foi abortada pela policia tendo acicatado xinguilamentos por parte de muita boa gente. Um ano passou e o tempo veio dar razão a esses jovens. Ainda acredito que se esse assunto viesse na berra como se pretendia, talvez não pudesse  chegar ao extremo onde chegou. O triste é que os que xinguilaram na altura hoje só comentam a derrota do Brasil face Alemanha, para a situação da greve que já se arrasta a quase dois meses, nem um pingo, tornaram-se todos tartamudos.

O contexto do nosso País, exige a  construção de uma sociedade de facto, com uma finalidade comum, que tenha uma luta coordenada, com capacidade de  defender os seus interesses. A situação da greve dos professores na Huila, veio confirmar que de facto "a guerra, é a continuação da política por meios violentos".

  Por isso enquanto continuarmos divididos, cada um olhando apenas para o seu umbigo tornando-nos selvagens, se não nos consciencializarmo-nos de que a  sobrevivência de cada um de nós depende da sobrevivência de mais outras pessoas, corremos o risco de Angola se tornar o exemplo de uma nação falhada.

Quero por isso por despedida, exortar a todos cidadãos que vivem na Huila e não só,  para a necessidade de nos unirmos todos e exigirmos do governo a resolução imediata da greve dos professores.