Londres - A ex-embaixadora norte-americana na ONU e atual Conselheira de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice, fez ontem declarações sobre o presente estado das relações EUA-África no âmbito da Cimeira que se realiza na próxima semana entre os dois blocos em Washington. As mesmas podem ser conferidas no link abaixo.

Fonte: Pagina global

Entre as linhas gerais da política norte-americana para a África e a radiografia atual do continente, a governante focou nas receitas patrocinadoras de sempre: democracia e boa governação, o que, na prática, se traduz no disseminar dos valores modernos do chamado Ocidente.

Rice sublinha aquele princípio, quase sagrado mas completamente profanado quando alguém ousa agir de forma autónoma, com a enorme falsidade retórica de um outro: o da igualdade de relacionamento com base no respeito mútuo.

''Obviamente existem diferenças de recursos e poder entre países africanos e entre a África e os EUA, mas uma parceria igual significa lidarmos uns com os outros com respeito mútuo. Trabalhamos juntos sobre nossas diferenças. Mais importante, parceiros iguais dizem a verdade uns aos outros mesmo quando não queremos ouvir'', disse.

Igualdade e capacidade, duas ideias chaves na mensagem da norte-americana. No entanto, apesar do cinismo da retórica, ou da retórica do cinismo, Rice tem razão quando sublinha que, a par e em resultado da parceria de iguais, a capacidade dos africanos crescerem economicamente e de resolverem os seus próprios problemas deve ser o pilar da construção da parceria entre eles e os norte-americanos.

O cinismo da retórica, ou a retórica do cinismo, continua no discurso pela partilha dos cada vez mais competitivos recursos naturais de África. Numa referência indireta à China e à Europa, os principais competidores que já tiveram suas cimeiras com o continente-berço da humanidade, afirma: ''África tem fortes laços com outras regiões e nações mas o engajamento americano com o continente é fundamentalmente diferente. Não vemos a África como um oleoduto para extrair recursos naturais nem como um funil para caridade''.  

Angola elogiada

Numa referência a paz e à segurança global, cita países do continente que ainda estão a braços com guerras civis e ameaças terroristas como o Congo Democrático e a Somália, e faz um elogio ao maior dos lusófonos africanos:  ''Vimos melhorias significativas em lugares como a Libéria e Angola. Contrariamente a algumas alegações, os EUA não visam militarizar a África ou manter nela uma presença militar permanente. Estamos comprometidos em ajudar os nossos parceiros a confrontar ameaças transnacionais para a nossa partilhada segurança.''

Todavia, um artigo do Huffington Post (ver no link abaixo) publicado em março último avança com atividades e números que demonstram precisamente o oposto: só em 2013 foram 10  exercícios, 55 operações e 481 atividades de cooperação de segurança que somaram um total de 546 ''atividades'' no continente de acordo com David Rodriguez, comandante da AFRICON, ou seja a média de uma missão e meia por dia que, segundo o mesmo artigo, tende a aumentar significativamente em 2014.

Quanto cinismo, hipocrisia e desfaçatez! Como dizem os brasucas: me engana que eu gosto! De boas intenções foi a Líbia transformada em um inferno precisamente quando Susan Rice representava os EUA na ONU.

*Colunista e jornalista freelance